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Opinião

Copy paste nonsense

Sabe aquela infinidade de reports de tendências que você recebe no começo do ano? Joga tudo no lixo


19 de setembro de 2023 - 6h00

Você também está em vários grupos no WhatsApp nos quais o tipo de mensagem mais popular é: “por acaso vocês têm algum report de tendências do mercado X? Estou fazendo um planejamento aqui na agência e preciso de slides para justificar o caminho e cases para ilustrar?”

Pois é dessa forma que temos planejado e criado no Brasil: de olho nas tendências de fora e fazendo Ctrl C, Ctrl V de slides com textos, cases e dados já pré-prontos, como se fossem uma verdade universal. O referencial sempre vem da “gringa”. Estados Unidos, Europa e Ásia e, raramente, considera intersecções, culturas, modos de viver e especificidades do brasileiro nesse momento tão estratégico.

Mas, esse formato de planejar e criar olhando para tendências de fora tem uma séria consequência: a sensação de não pertencimento e o distanciamento do cliente final. Os dados dizem por si só: uma pesquisa do LinkedIn, de 2022, mostrou que 80% dos membros da geração Z não se sentem representados nas campanhas publicitárias.

Será, então, que não estamos fechando os olhos para os targets devido a uma incansável tentativa de se adequar a tendências que vem de fora em campanhas e posicionamento?

Para entender por que uma trend que vem de fora não vai se encaixar magicamente por aqui, é importante saber a anatomia de uma tendência e como funciona a pirâmide de influência: toda tendência começa no alfa com o seu desejo de ser diferente e quebrar o status quo de um tema específico em um determinado lugar e momento. Com isso, ele estabelece um comportamento emergente que, apesar de causar um certo estranhamento de início, chama muita atenção dos betas.

Estes, por sua vez, têm o grande desejo e aspiração de serem os pioneiros em adotar um certo comportamento, consumir antes de todo mundo e influenciar pessoas. O beta é apaixonado por determinado assunto e está olhando para o Alfa e traduzindo ao mundo os comportamentos mais emergentes para a base da pirâmide: o mainstream. Pessoas com essas características traduzem perfeitamente a tendência do alfa para a linguagem da maioria dos consumidores.

O mainstream, por sua vez, vai ser influenciado pelo beta e vai achar isso incrível, já que o seu grande desejo é pertencer, se encaixar, ser igual aos outros quando se trata de um certo assunto. É no mainstream que está o dinheiro, é nele que a maioria das marcas acaba mirando.

Então, eu te pergunto: que sentido fazer pegar uma tendência que nasceu a partir da observação de alfas e betas dinamarqueses, japoneses, suecos ou texanos para aplicar com o mainstream brasileiro?

É muito comum que nós acreditemos que o Brasil está em um “quase” infinito, está sempre “quase lá”, mas, para ser sincera, acho tudo isso uma furada. A real é que nós, consultorias, agências e clientes, temos que ser completamente apaixonados pelos brasileiros e suas brasileirices.

O caminho não é difícil, é preciso estar próximo, ir às ruas e sentir o pulso das inovações locais e como elas ocorrem de um quarteirão ao outro. Estar em contato com o target, continuamente, identificando os alfas e betas daqui, para, enfim, criar e potencializar tendências e não apenas importar.

Então, sabe aquela infinidade de reports de tendências que você recebe no começo do ano? Joga no lixo e vai pra rua se apaixonar por brasileirices.

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