Cultura produtiva
O equilíbrio entre produtividade que impulsione negócios, ambiente que estimule a atração, evolução e retenção de talentos e contribuição para uma sociedade mais justa é, quase sempre, uma equação complexa
O equilíbrio entre produtividade que impulsione negócios, ambiente que estimule a atração, evolução e retenção de talentos e contribuição para uma sociedade mais justa é, quase sempre, uma equação complexa
Trabalhar menos dias para ser mais produtivo. Embora o debate sobre jornadas menores avance em diversas partes do mundo, motivado por questões variadas, desde políticas para diminuir o desemprego, com o aumento de postos de trabalho, até o maior engajamento e conscientização das pessoas sobre saúde mental, para boa parte da população a necessidade impõe realidades ainda muito distantes do que seria aceitável em termos de condições laborais e de remuneração justa.
Na trilha de não desistir da busca pelo mundo ideal, foram divulgados neste mês os resultados do projeto de implementação da semana de trabalho de quatro dias no Brasil, iniciativa da instituição global 4 Day Week, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas. Após uma etapa de preparação, o período teste transcorreu de janeiro a junho e contou com a adesão de 19 pequenas empresas, que somam 252 colaboradores. A maioria dos gestores (84,6%) considerou que a semana de quatro dias trouxe benefícios para as companhias, como produtividade, bem-estar dos funcionários e engajamento. Em contrapartida, pesquisa realizada junto aos funcionários participantes mostra que a maior parte (65,6%) sentiu que a pressão no trabalho se manteve igual, e houve até uma parcela de 20% que se sentiu mais pressionada por estar trabalhando um dia a menos. Terminado o período de testes, 46% das empresas que testaram o modelo resolveram manter a redução da carga horária.
Parece utópico aventar a redução da jornada em um momento no qual parte da indústria de comunicação, marketing e mídia ainda discute o retorno ao trabalho presencial obrigatório nos cinco dias da semana. Entretanto, as experiências implementadas no mundo empresarial desde a pandemia surpreenderam até os mais incrédulos.
Nesse período, as siglas ESG (relativa às iniciativas ambientais, sociais e de governança) e D&I (diversidade, equidade e inclusão) ganharam protagonismo na agenda do mercado. Entretanto, após avanços importantes, muitas lideranças e ativistas manifestam a preocupação com o esfriamento no interesse e nos investimentos das empresas em políticas e ações nessas áreas. No caso das marcas, a impressão é a de que algumas, após serem reconhecidas por algumas de suas políticas nessas áreas, consideram que o retorno para sua imagem já é satisfatório e que, portanto, podem diminuir seus investimentos em projetos nelas focados.
O equilíbrio entre produtividade que impulsione negócios, ambiente que estimule a atração, evolução e retenção de talentos e contribuição para uma sociedade mais justa é, quase sempre, uma equação complexa. Há obstáculos invisíveis a serem movidos, como a cultura intrínseca de cada empresa.
Na entrevista desta edição da versão impressa do Meio & Mensagem, Jon Cook, CEO global da VML, que neste mês fez sua primeira visita ao Brasil após a fusão entre VMLY&R e Wunderman Thompson, descreve assim à repórter Taís Farias o desafio de cultura organizacional em grandes reestruturações como a que passa a sua rede: “Acredito que não exista um manual de cultura ou cultura que venha de uma pessoa apenas. Não são como mandamentos, que vêm em uma tábua. Cultura é sobre permitir que as pessoas sejam elas mesmas e, quando alguém tem uma ideia, celebrar e deixar que essa ideia seja vista e ouvida. Quanto mais você fizer isso, mais constrói cultura. Cultura não é sobre ditar um jeito específico de se fazer as coisas”.
Em se tratando de cultura empresarial ou de políticas de ESG e D&I, as mais diversas experiências, bem e malsucedidas, comprovam que não há fórmula padrão aplicável a toda companhia — e também que não há milagre possível que reverta retrocessos do passado em um passe de mágica.
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