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Cultura versus home office

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Opinião

Cultura versus home office

Embora o modelo híbrido tenha se transformado em padrão, grandes agências de publicidade ampliam dias de ida obrigatória aos escritórios e estão menos maleáveis em relação ao livre-arbítrio dos funcionários


10 de setembro de 2024 - 14h00

É possível construir e manter a cultura da empresa com os times trabalhando remotamente? Essa dúvida recai sobre companhias de todos os segmentos após o período de reclusão imposto pela pandemia da Covid-19 provar que o home office é viável. Há casos de maior produtividade das equipes, de economia de gastos operacionais para as empresas e de benefícios para a saúde mental dos profissionais — seja pela maior proximidade com o ambiente doméstico ou pela diminuição do estresse causado pelas horas perdidas em deslocamentos nos grandes centros urbanos.

Se, por um lado, o avanço da tecnologia oferece suporte para o trabalho remoto manter entregas similares às do presencial, por outro, há dúvidas sobre os impactos do distanciamento das equipes na cultura organizacional das companhias. A falta de interação é apontada como um problema para o desenvolvimento de talentos conectados com os valores das empresas e suas marcas — o que aumenta os desafios de engajamento geracional.

Some-se a isso o fato de que, com a empregabilidade em alta, mais profissionais se sentem encorajados a recusarem propostas ou a trocarem de empresa motivados por questões como a do modelo de trabalho — há, de fato, quem não aceite voltar a um esquema 100% presencial. O total de vagas ocupadas em agências de publicidade nos Estados Unidos alcançou um recorde histórico em julho: 238,8 mil postos, segundo o Bureau of Labor Statistics (BLS). No Brasil, a taxa de desempenho medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ficou em 6,8% no trimestre encerrado em julho, o que significa a menor para o período desde o início da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, em 2012.

Esse contexto nutre, ainda, avanços — mesmo que tímidos — de projetos como o da semana de quatro dias e o sucesso de empresas sem sede física. Em contrapartida às iniciativas que se esforçam para aliar liberdade e produtividade, as grandes agências de publicidade do Brasil ampliam os dias de ida obrigatória aos escritórios e se mostram menos maleáveis em relação ao livre-arbítrio dos funcionários. É o que mostra levantamento feito por Meio & Mensagem, que ouviu, no final do mês passado, 24 agências de publicidade listadas entre as 30 maiores compradoras de mídia do País, segundo a edição mais recente do ranking do Cenp-Meios. A quase totalidade delas adota atualmente o modelo híbrido — só uma informou que o trabalho é presencial nos cinco dias da semana. Todavia, nos últimos doze meses, houve um aumento na quantidade de dias em que as equipes precisam ir aos escritórios. Metade das agências exige a presença física dos funcionários em, pelo menos, três dias da semana.

Os resultados da pesquisa e análise com líderes de agências e especialistas em recursos humanos mostram as razões pelas quais as empresas do setor estão mais rígidas em relação à presença física de seus funcionários. O trabalho presencial é apontado como melhor opção para agilizar a resolução de problemas, fomentar uma maior conexão entre as equipes, formar melhor os profissionais em estágio inicial de carreira e preservar a cultura interna das empresas.

Numa indústria na qual o principal ativo entra e sai pela porta todos os dias, e que tem entre seus principais desafios a atração e retenção de talentos e a qualidade do ambiente corporativo, a busca por neutralizar as tensões geradas por mudanças no modelo de trabalho é fundamental. O desafio é encontrar o ponto de equilíbrio no descompasso normalmente existente entre os anseios dos funcionários e a opinião dos empresários e gestores para que o modelo organizacional privilegie a produtividade que impulsiona negócios e, ao mesmo tempo, ambientes que estimulem a criatividade. Essa busca implica em um redesenho constante nas tendências para o futuro do trabalho.

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