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Desafiando o marketing de influência

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Opinião

Desafiando o marketing de influência

Ainda que os protagonistas desse tipo de comunicação sejam muito carismáticos, uma questão central persiste: “estamos, como sociedade, usando esse extraordinário poder de influência para o bem?”


6 de fevereiro de 2025 - 14h00

Desde os primórdios da civilização, as histórias moldaram a sociedade humana. Yuval Noah Harari argumenta que a capacidade de compartilhar narrativas é a maior força do Homo sapiens. Esses relatos – mitos, ideologias e sistemas culturais – não apenas organizaram grandes grupos, mas também permitiram a construção de ordens sociais complexas. Seja por meio de mitologias religiosas, do Estado burocrático ou de ideologias políticas, a humanidade sempre se ancorou em histórias para estruturar o poder e, muitas vezes, para manipular percepções.

Em Nexo, Harari examina como as narrativas podem tanto construir quanto destruir. Adolf Hitler, por exemplo, teceu uma narrativa catastrófica de superioridade racial que devastou gerações. No entanto, essas mesmas ferramentas narrativas, quando bem direcionadas, são capazes de unificar, educar e inspirar sociedades inteiras.

Vivemos atualmente a explosão de redes de informação e influência. O poder das histórias agora está nas mãos de indivíduos, em grande parte devido ao fenômeno dos influenciadores digitais. Essas figuras carismáticas moldam percepções, hábitos de consumo e, muitas vezes, até comportamentos sociais, enquanto promovem desde bens de consumo até ideologias culturais. Mas a questão central persiste: estamos, como sociedade, usando esse extraordinário poder de influência para o bem?

Além dos sabonetes: a influência com propósito

Atualmente, o marketing enfrenta um dilema ético. Grande parte da influência digital se concentra em vender produtos, negligenciando o potencial transformador das narrativas para moldar valores coletivos. Minha proposta, enquanto profissional de inteligência em comunicação corporativa, é mais ambiciosa: por que não integrar a função comercial da influência com um impacto ético, educativo e emocional?

Campanhas publicitárias notáveis já abriram esses caminho. “O Primeiro Sutiã”, da Valisère, não apenas vendeu uma peça íntima; tocou na transição emocional de uma menina para mulher. “Like a Girl”, de Always, transformou um insulto em símbolo de empoderamento. Iniciativas como “Sem Excesso”, da Associação Brasileira de Bebidas, e os programas de educação financeira do Itaú mostram que é possível educar e impactar positivamente.

Esses exemplos provam que o marketing pode ir além da promoção de produtos. Ele pode emocionar, educar e conscientizar, moldando comportamentos e valores coletivos.

Nosso desafio aos profissionais de marketing

A influência não é neutra. Como Harari ressalta, o que as pessoas acreditam sobre os fatos pode ser mais impactante do que os próprios fatos. Profissionais de marketing têm o poder – e a responsabilidade – de moldar essas percepções.

Adotar uma abordagem ética na influência digital exige coragem. É necessário olhar além das métricas imediatas e investir em narrativas que promovam mudanças duradouras. O desafio é criar campanhas que combinem inclusão, sustentabilidade e conscientização, ajudando a combater preconceitos e inspirando ações em prol do bem comum.

Imagine se cada campanha trouxesse uma mensagem que inspirasse? Se a influência digital pudesse fomentar educação e valores humanos universais? Essa é a promessa de uma influência ética: moldar o futuro, não apenas o mercado.

A nova ordem da influência

Os tempos exigem uma reflexão profunda dos líderes de marketing e comunicação. Somos os arquitetos das narrativas que irão definir esta era. Não é mais suficiente criar campanhas que vendam. Precisamos de campanhas que toquem, eduquem e elevem.

Assim como as histórias sempre foram o coração da humanidade, o marketing moderno tem a chance de se tornar o contador de histórias que inspiram o próximo capítulo da nossa civilização. Cabe a nós, os narradores de hoje, decidir se contaremos histórias que só vendem ou as que vendam e edificam realidades significativas. Reflitam, pois a decisão é nossa e o impacto será eterno.

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