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Opinião

Desafios adaptativos

Mercados de TV paga e educação enfrentam crises de evasão em cenários adversos, que incluem pirataria e concorrência das gigantes do streaming, no primeiro caso, e ampliação de desigualdades entre o público e o privado, no segundo


23 de agosto de 2021 - 12h41

(Crédito: Glenn Carstens Peters/Unsplash)

Dos aproximadamente 20 milhões de assinantes, no final de 2014, para os atuais cerca de 14 milhões, a TV paga perdeu quase um milhão de adesões por ano no Brasil, de acordo com os dados oficiais da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). É um baque muito forte para qualquer indústria. Neste caso, a problemática envolve desde a crise econômica que restringe os gastos das famílias brasileiras até os próprios pilares com os quais o setor foi construído, como o dos pacotes de canais. Se, num primeiro momento, as centenas de opções foram atrativas para um público habituado a meia dúzia de canais abertos, com o tempo a percepção de muitos passou a ser a de pagar pelo excesso, mas consumir o mínimo. O período de declínio da TV por assinatura coincide com a proliferação das plataformas de streaming e suas ofertas de mensalidades mais baratas. E há, ainda, a concorrência desleal das TVs “gato”, nome popular da pirataria que leva ilegalmente o conteúdo dos canais pagos para cerca de cinco milhões de lares brasileiros, segundo estimativa da Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA).

Diante de tal cenário, quais são as perspectivas para esse mercado? A essa questão se dedicou a repórter Thais Monteiro, que assina a reportagem publicada na edição semanal. O caminho da sobrevivência, fidelização e ganhos de relevância entre os assinantes que permanecem é o das ofertas de serviços adicionais, como o acesso à internet e o T-commerce, de novos conteúdos mais acessíveis e distribuição on demand, possibilidades mais convenientes de personalização, estratégias de regionalização e acompanhamento da jornada do cliente para um atendimento mais específico a suas necessidades. Durante a pandemia, o setor de TV paga experimenta o benfazejo crescimento em audiência, creditado ao isolamento social e às restrições a outras opções de entretenimento fora de casa. Entretanto, o agravamento da crise econômica que vem a reboque fez minar o efeito esperado no número de assinantes, que continua em regressão.

O nada fácil desafio adaptativo das empresas atuantes no mercado de TV por assinatura encontra nesta edição um paralelo. Também afetado definitivamente pela digitalização e sofrendo efeitos da pandemia, o setor de educação luta contra a evasão. A herança no Brasil deste período pelo qual passa o mundo é ambígua. Se, por um lado, acelerou a adoção de novas tecnologias e recursos para que alunos e professores avançassem nas vantagens do ensino a distância, por outro, os prejuízos com o afastamento das escolas são incalculáveis, desde a privação do convívio social, essencial para a aprendizagem, sobretudo entre os mais jovens, até o aumento do abismo que separa instituições públicas e privadas, com efeitos mais danosos aos que dependem da educação gratuita e convivem com cenários de descaso e abandono. É, portanto, incomparável a velocidade de adesão desses dois mundos a novos modelos de aprendizado, como os que seguem a trilha da gamificação, e à oferta de ensino híbrido, tendência cotada a ganhar força no pós-pandemia.

Entretanto, assim como ocorreu com a televisão, com o advento de canais e operadoras por assinatura, o mercado de educação também ampliou significativamente o acesso a conteúdos, especialmente por meio da digitalização. E o período de isolamento serviu para quebrar tabus em relação ao ensino a distância. A conveniência e a comodidade são provadas especialmente no nível superior, faixa em que a oferta de vagas a distância ultrapassou nos últimos anos as cadeiras dos cursos presenciais.

A educação é o terceiro tema abordado pela temporada 2021 da série Business Transformation, que se propõe a debater o impacto das mudanças aceleradas pela tecnologia e os reflexos do desenvolvimento econômico em tempos de Covid-19. O projeto contempla oito capítulos nas edições semanais, vídeos para o Stories do Instagram e uma plataforma que hospeda todo o conteúdo (businesstransformation.meioemensagem.com.br). Já estão lá os dedicados aos mercados imobiliário e de finanças. E, nas próximas semanas, os focos serão os setores automotivo, de alimentos e bebidas, telecomunicações, higiene e beleza e varejo.

*Crédito da foto no topo: Gremlin/Getty Images

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