Assinar

Desencontros nos escritórios

Buscar
Publicidade
Opinião

Desencontros nos escritórios

Evolução profissional e qualidade de vida são excludentes? A questão se impõe num momento em que contrastam o avanço das jornadas presenciais e os recordes de pedidos de demissão voluntária


18 de fevereiro de 2025 - 14h15

Trabalho presencial nos escritórios cinco dias por semana. Essa foi a orientação dada, na semana passada, por Jamie Dimon, CEO do J.P. Morgan, maior banco americano, que emprega mais de 300 mil pessoas em todo o mundo. Para ele, a eficiência e a criatividade estão comprometidas em ambientes de trabalho híbridos, danosos especialmente para as gerações mais novas, que estariam sendo prejudicadas em seu desenvolvimento pela prática de atividades remotas — “deixados para trás”, descreveu Dimon. Mais de mil funcionários assinaram uma petição online, apelando contra o retorno ao escritório — mas o CEO já disse que “não há chance” de voltar atrás.

Outro movimento, este na indústria de comunicação, foi feito pelo WPP no início do ano, determinando que, a partir de abril, todos os funcionários trabalhem presencialmente quatro dias por semana. A reação também veio em uma mobilização online, que já soma mais de 11 mil assinaturas e pede que o CEO Mark Read reconsidere.

Mundo afora, o avanço das jornadas presenciais contrasta com os recordes de pedidos de demissão voluntária — sustentados por ambientes de pleno emprego em alguns setores. O Brasil encerrou 2024 com a menor taxa de desemprego, desde 2012, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) iniciou a atual metodologia. A alta de 4,3% no rendimento médio real dos trabalhadores, que atingiu R$ 3.315, elevando a massa salarial a um novo recorde, é uma boa notícia para o consumo, mas, por outro lado, pressiona a inflação para cima e, como consequência, mantém os juros em alta.
Os reflexos desse cenário econômico favorável no mercado de trabalho de comunicação, marketing e mídia incluem desde muitas vagas abertas em empresas em expansão, o que acaba aumentando a rotatividade de profissionais nas áreas mais aquecidas — segundo pesquisa do LinkedIn, divulgada no mês passado, três em cada cinco profissionais brasileiros consideram a busca por um novo emprego como prioridade para 2025 —, até a pressão aos gestores das empresas por ambientes de trabalho mais saudáveis.

Reportagem da jornalista Taís Farias, publicada nas páginas 12 e 13, analisa a questão no setor de agências e revela, em primeira mão, o resultado do novo ranking do Great Place to Work, de melhores para se trabalhar. Essa é a 12ª edição do estudo, que, no ano passado, avaliou 71 empresas.

Líder entre as agências com mais de cem colaboradores, a i-Cherry está em processo de incorporação pela WPP Media Services (WMS), o que, como ocorre em praticamente toda fusão, é um desafio para a manutenção da cultura organizacional aprovada, até então, pelos colaboradores. Segundo o ranking do Cenp-Meios, a i-Cherry foi a 90ª maior compradora de mídia no Brasil em 2023. Três agências listadas entre as 50 maiores do País estão entre as dez classificadas nessa faixa de mais de cem funcionários pelo Great Place to Work: a Artplan, 3ª no Cenp-Meios, está em 10º no GPTW; a Mirum, que ocupa a 35ª posição no ranking de compra de mídia e a 8ª no de melhores para trabalhar, e é outra empresa do WPP que está em processo de fusão, com a Fbiz; e a Binder, 48ª no Cenp-Meios e 7ª no GPTW. Entre as 20 agências com melhor avaliação no GPTW, 80% adotam o modelo de trabalho híbrido.

Entre as maiores agências do País, é ínfima a adesão à avaliação do Great Place to Work. A maioria prefere não aderir por temer — ou antever — má classificação nos critérios internacionais, que avaliam não só planos de carreira e benefícios, mas também a qualidade do ambiente de trabalho.
Entre outros dados que merecem reflexão, a pesquisa de melhores agências para trabalhar mostra que a participação das mulheres na alta liderança caiu 11 pontos percentuais no ano passado e a taxa de turnover voluntário, quando o profissional pede demissão por vontade própria, cresceu de 11% para 19%. Os dois principais motivos que fazem os funcionários das agências se manterem nas empresas são oportunidade de desenvolvimento e qualidade de vida — mais um dado que mostra o quão complexa é a equação entre a diretriz das lideranças que pendem para o aumento da jornada presencial e a busca por maior flexibilidade de boa parte dos talentos que a indústria precisa para evoluir.

Publicidade

Compartilhe

Veja também

  • Mais uma faceta do BBB25

    Reality é uma grande oportunidade para marcas impulsionarem as suas estratégias mobile

  • Preço, prazo e qualidade: escolha os três

    A inteligência artificial (IA) generativa nos coloca cada vez mais perto de poder escolher todos esses atributos, em vez de sacrificar algum deles