Dia da Marmota?
Completamos um ciclo anual nesta exceção que parece regra e temos que nos preparar para o porvir
Completamos um ciclo anual nesta exceção que parece regra e temos que nos preparar para o porvir
No filme “O Feitiço do Tempo”, de 1993, o ator Bill Murray interpreta um jornalista que, ao ser enviado a uma pequena cidade do interior da Pensilvânia para cobrir o “Dia da Marmota”, tradicional festival local, vê-se preso em uma armadilha temporal, que o faz acordar no mesmo dia infinitas vezes. Inicialmente, ele toma aquilo de maneira leve e até irresponsável, mas, ao ver que não consegue sair daquele looping, aproveita a repetição de acontecimentos para fazer as coisas de maneira mais consciente e tornar-se uma pessoa melhor, conseguindo a oportunidade de retomar sua “vida normal”. Um ano após o Brasil registrar a primeira morte em decorrência do coronavírus, cá estamos novamente entrando em isolamento social severo, sendo obrigados a retomar as restrições do início da pandemia, vendo os casos de contaminação se proliferarem e o número de mortos bater recordes diários. Assim como o personagem de Murray, parece que entramos em uma armadilha temporal e estamos vivendo também nosso “Dia da Marmota”.
A pergunta que ronda nossa sociedade neste momento é: como podemos manter o ânimo e o fôlego e seguir nos reinventando, em um momento que, há um ano, imaginamos que já teríamos superado a pandemia? Quais saídas podemos encontrar individual e coletivamente para seguirmos com esperança na retomada – econômica e da rotina? E como nós, indústria da comunicação, podemos contribuir neste processo que, infelizmente, ainda parece longe do fim?
Foram muitos os aprendizados nesses últimos meses. Revimos formatos de trabalho, de interação com as equipes, de gestão. Reajustamos a maneira de interagir com nossos clientes e nossas entregas. Com a impossibilidade dos encontros, o digital virou a vedete e se instalou de maneira irreversível em nosso cotidiano, nossa rotina. A casa, que antes era local de descanso, virou o espaço onde fazemos tudo, onde somos profissionais, nos entretemos, convivemos com nossos familiares quase todo o tempo, ou, para quem mora só, interagimos online com nossos colegas de trabalho e entes queridos, de quem nos mantivemos afastados com intenção de protegê-los – afastamento esse que se mostra novamente necessário.
Nossa indústria mostrou-se fundamental neste processo, já que os meios de comunicação se tornaram, ainda mais, a ponte entre a realidade do isolamento e o mundo. Além disso, pensar alternativas para que nossos clientes conseguissem se manter conectados com seus próprios clientes de maneira eficaz e pertinente em um momento tão sensível e de tantas mudanças foi, sem sombra de dúvida, a força motriz de nossa atividade ao longo dos últimos 12 meses. E tudo isso pensando sempre no propósito já que, em um momento em que a sociedade vive uma fase tão sensível, a comunicação também teve que refletir essa sensibilidade.
E, agora, quando completamos um ciclo anual nesta exceção que parece regra, somos chamados ao recolhimento. E temos que nos preparar para o porvir, levando em conta que, pelo menos no momento, esse porvir segue acompanhado de isolamento social. Já não estamos lidando com o estranhamento, não estamos mais tateando no escuro. Mas já ter vivido isso de alguma maneira faz com que seja exigido de nós aprimoramento. Nossa indústria sempre foi movida por desafios, essa é a nossa vocação. Sabemos que temos a missão de manter as marcas de nossos clientes relevantes, construir estratégias e buscar saídas que possam fazer com que eles sigam com fôlego, conectados ao seu público-alvo, pelo tempo que for necessário neste “atual normal”, que de “novo” já não tem nada. Que possamos fazer como o personagem do mencionado filme e aprender com a repetição, fazendo um pouco diferente a cada dia. E que em breve esse “Dia da Marmota” seja apenas uma lembrança que vai forjar nossa caminhada, mas não definir nosso futuro.
*Crédito da foto no topo: Mike Yukhtenko/ Unsplash
Compartilhe
Veja também