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Opinião

Diretamente de Washington

É uma honra ter vivido na mesma era que esse ícone da indústria criativa, alguém que dizia ir do útil ao fútil com a mesma intensidade


14 de outubro de 2024 - 8h00

“Alô, alô, W/Brasil”, cantava Jorge Ben em um dos mais célebres hits de carreira, batizado como “W/Brasil”, em referência a uma das maiores agências que testemunhamos em nosso setor. Aliás, hit é algo que músicos e publicitários entendem bem – e venhamos e convenhamos, adoram. Mas não é disso que queria falar hoje. O mundo da publicidade foi dormir triste nesse domingo (13/10) com a notícia da partida de Washington Olivetto, um dos maiores nomes da nossa indústria – se não for o maior.

Quem cresceu nos anos 1990, certamente, se lembra do cachorro Cofap (a raça daschund, rebatizada como salsicha atualmente), do casal Unibanco, do garoto Bombril e do primeiro soutien (campanha da Valisère). Pensem comigo: um cão levou o nome de uma marca, da mesma forma que, em 2024, “ver Netflix” é sinônimo de relaxar, ainda que o espectador esteja usando os serviços da Prime Video. Essa genialidade foi a marca de Olivetto, que revolucionou a propaganda brasileira como ninguém.

Marcas e empresas puderam se apropriar de discursos, discussões e comportamentos graças à mente brilhante desse comunicador. Quem não se recorda de Carlos Moreno, ator que ficou à frente dos filmes publicitários da Bombril por 35 anos? Ele era reconhecido na rua por todo mundo, de crianças a idosos, desfrutando de um status de celebridade talvez vivido somente por um colega que atuasse em novelas globais. Olivetto foi mestre ao transformar vídeos curtos da TV aberta em associação imediata com um produto de prateleira.

Não por acaso, ele ganhou mais de 50 leões de Cannes, premiação que brilha os olhos de qualquer publicitário, um bicho vaidoso por essência.

Para mim, é uma honra ter vivido na mesma era que esse ícone da indústria criativa, alguém que dizia ir do útil ao fútil com a mesma intensidade. “Sempre tive o mesmo interesse por aquilo que é considerado intelectualizado e por aquilo que é considerado vulgar”, narra em sua biografia, “Direto de Washington”.

Apesar das grandes marcas e das cifras com muitos zeros, esse grande cérebro não abria mão de ter seus momentos de tranquilidade. Quem é de São Paulo e trabalha nesta área sabe bem: não era incomum encontrá-lo no Frevo, da Rua Augusta, e no Ponto Chic – famoso restaurante do clássico Bauru. Ele transitava por vários mundos e, justo por isso, penso que conseguiu falar a língua de muitos brasileiros, entendendo como ninguém o nosso jeito de ser.

Washington Olivetto partiu nesse domingo, deixando três filhos. Ele, que ficou cinco meses internado em um hospital do Rio de Janeiro e já sobreviveu a um sequestro de três meses, tinha muita história para contar – casos bons e espinhosos – e sempre soube a melhor forma de narrar esses episódios.

Amanhecemos ainda incrédulos com essa notícia, afinal, era um empresário com 73 anos, ativo e, ao que tudo indicava, com muito chão pela frente. Seu legado continua, seja no assovio de algum fã de Jorge Ben ou no trabalho duro que publicitários se debruçam diariamente nas agências. E que seja perpetuado com a mesma fibra que ele viveu e abrilhantou a comunicação.

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