Diversidade em xeque
O que aprender com as decisões da Meta e do McDonald’s que significam recuo em suas políticas de inclusão
O que aprender com as decisões da Meta e do McDonald’s que significam recuo em suas políticas de inclusão
Nos últimos dias, fomos impactados pela notícia de que o McDonald’s, uma das maiores redes de fast food do mundo (se não a maior) e a Meta, dona do Instagram e Facebook, vão regredir em suas políticas de Diversidade, Equidade e Inclusão. O movimento inclui descontinuar metas específicas de representatividade em cargos de liderança nos Estados Unidos e encerrar a exigência de que seus fornecedores assumam compromissos formais com práticas de DE&I.
Mesmo que a decisão impacte apenas o mercado estadunidense, que enfrenta um contexto de aumento da austeridade para grupos minorizados, inclusive com movimentações similares de outras empresas norte-americanas, vale pensarmos em como decisões nesse sentido reverberam nas marcas em um contexto global.
A diversidade é mais do que um imperativo ético, é uma necessidade para a construção de sociedades justas e igualitárias. Políticas de inclusão não são apenas ferramentas para corrigir desigualdades históricas, elas refletem o compromisso com um futuro em que diferentes vozes e perspectivas tenham espaço. Abrir mão dessas iniciativas é ignorar a responsabilidade social que marcas desse porte têm diante da sociedade.
Em um mundo onde a diversidade é comprovadamente um motor de inovação e rentabilidade, ignorar ou minimizar a importância dessas políticas é um erro estratégico grave. Para se ter ideia, estudos da McKinsey & Co destacam que empresas com equipes diversas têm até 33% mais chances de superar suas concorrentes, evidenciando que a inclusão não é apenas um imperativo ético, mas uma vantagem competitiva. Decisões como esta configuram um retrocesso alarmante que coloca em xeque não apenas o compromisso social, mas também a competitividade da marca no mercado.
No Brasil, o olhar para a diversidade desempenha um papel fundamental na visão dos consumidores. Segundo o Brand Inclusion Index 2024, publicado pela Kantar, 86% dos brasileiros consideram importante que as empresas promovam ativamente diversidade e inclusão – onze pontos percentuais a mais do que a média global –, enquanto 88% reconhecem a importância da DE&I para suas vidas. Em um país tão plural quanto o nosso, a desconexão com esses valores pode ser fatal para qualquer marca.
O impacto das políticas de inclusão também se reflete nas escolhas dos consumidores. O estudo da Kantar mostra que 67% dos brasileiros passam a admirar marcas que apoiam a diversidade e 59% escolhem consumir produtos ou serviços dessas empresas. Essa preferência não é superficial, é uma demanda por autenticidade e compromisso real. Quando as marcas se desconectam dessas expectativas, correm o risco de perder relevância e mercado, especialmente entre os jovens, que veem na inclusão um valor inegociável.
Enquanto algumas empresas reavaliam ou abandonam suas políticas de DE&I, outras continuam avançando. A Petrobras, por exemplo, tem se destacado com ações robustas nesse campo. A companhia implementou treinamentos obrigatórios, como “Homens Aliados” e “Incluindo Você na Diversidade, Equidade e Inclusão”, além de workshops voltados para temas como racismo estrutural e inclusão LGBTQIA+. Recentemente, também anunciou que seus colaboradores devem utilizar as dependências da empresa de acordo com a identidade de gênero com a qual se reconhecem – uma medida concreta de inclusão de pessoas transgênero.
A Siemens Energy também segue uma abordagem consistente. Apesar de não ter uma área formal de Diversidade, Equidade e Inclusão, a empresa mantém programas voluntários e a promessa de uma governança sólida que tem menos chances de ser afetada pelas recentes tendências globais de retrocesso.
No mundo dos negócios, não há espaço para retrocessos quando o assunto é diversidade. A inclusão não é um custo, mas um investimento com retorno comprovado, seja na inovação, no desempenho financeiro ou na lealdade dos consumidores.
Em última análise, ao recuar em suas políticas de Diversidade, Equidade e Inclusão, o McDonald’s e outras empresas, como Walmart, John Deere e Harley-Davidson, não apenas minimizam seu impacto social, mas também colocam em risco sua capacidade de competir em um mercado cada vez mais exigente. Nunca é demais dizer que diversidade é o diferencial estratégico que ajudará as empresas a navegarem no futuro. Como consumidores, nosso papel é nos mantermos alertas, vigilantes e cobrarmos as marcas com as quais nos relacionamos para que nenhum retrocesso tenha espaço.
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