Diversidade em xeque
Contrastes estratégicos entre Coca Cola e Pepsi em 2025
Contrastes estratégicos entre Coca Cola e Pepsi em 2025
27 de fevereiro de 2025 - 14h00
Em 2025, em meio a um cenário marcado por uma pressão política e regulatória que remonta aos tempos pós‑Trump, duas gigantes do setor de bebidas adotam abordagens radicalmente distintas para suas políticas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DE&I). Enquanto a Coca‑Cola reafirma seu compromisso com a transformação interna – com a meta ambiciosa de que 50% dos cargos de liderança sênior sejam ocupados por mulheres até 2030 -, a PepsiCo opta por abandonar as metas de representatividade em cargos de gestão e entre fornecedores, redirecionando seus patrocínios para eventos que impulsionem o crescimento dos negócios.
A decisão da Coca‑Cola reflete uma visão de que a diversidade é um motor de inovação e competitividade, até porque dados de 2023 indicam que a empresa ainda está longe do patamar desejado, com apenas 41,5% de representação feminina em cargos de liderança. Assim, a marca aposta em políticas internas robustas, acreditando que um ambiente de trabalho que reflita a pluralidade do público é um diferencial estratégico para se manter relevante num mercado cada vez mais exigente.
Por outro lado, a estratégia da PepsiCo, anunciada em fevereiro de 2025, evidencia uma mudança de paradigma. Ao interromper as metas de representatividade, a empresa parece priorizar uma abordagem que alinha seus investimentos e patrocínios a oportunidades de crescimento, sem, contudo, negligenciar a importância da inclusão.
Reflexões estratégicas para um ambiente corporativo em transformação
As mudanças nas políticas de DE&I refletem, em parte, um ambiente político e regulatório que vem se remodelando nos Estados Unidos. Após a retomada de políticas de redução de programas de inclusão no governo federal e a recente decisão da Suprema Corte de restringir a ação afirmativa no ensino superior, várias empresas têm sido desafiadas a reavaliar suas estratégias internas, o que leva a um verdadeiro retrocesso.
Nesse contexto, a divergência entre Coca‑Cola e PepsiCo ilustra como as organizações estão buscando equilibrar responsabilidade social e performance comercial. Para as empresas que pretendem navegar com sucesso nesse cenário complexo, alguns pontos merecem destaque:
A dualidade entre as estratégias das duas empresas evidencia um dilema que vai além de simples números. De um lado, manter metas de diversidade é uma forma de fomentar a inovação, a colaboração e a resiliência organizacional, além de uma sinalização à justiça no ambiente corporativo através da força da representatividade. Do outro, o redirecionamento de recursos para iniciativas apenas sob a óptica dos números pode sinalizar uma tentativa de otimizar resultados, mesmo que isso implique riscos à imagem corporativa em termos de responsabilidade social, assim como em muitos casos esconde por trás de uma máscara uma falsa narrativa da meritocracia que apenas favorece ao poder heteronormativo branco.
As escolhas estratégicas adotadas pela Coca‑Cola e pela PepsiCo ressaltam que o debate sobre DE&I é multifacetado e complexo, assim como nos mostra como ele está acima de qualquer assunto corporativo e é, sim, também, humano. O desafio para o futuro é encontrar o equilíbrio que permita a integração dos valores de inclusão com os imperativos de performance, sem abrir mão da ética e do compromisso com uma cultura corporativa verdadeiramente diversa e inovadora.
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