Do tabu à inclusão: repensando a relação do brasileiro com o dinheiro
A ausência de conhecimentos básicos sobre orçamento, poupança, investimentos e planejamento financeiro pode levar a uma sensação de insegurança e ansiedade em relação ao dinheiro
Do tabu à inclusão: repensando a relação do brasileiro com o dinheiro
BuscarDo tabu à inclusão: repensando a relação do brasileiro com o dinheiro
BuscarA ausência de conhecimentos básicos sobre orçamento, poupança, investimentos e planejamento financeiro pode levar a uma sensação de insegurança e ansiedade em relação ao dinheiro
Segundo uma pesquisa realizada pelo Banco BV e o Instituto MindMiners em 2022, 61% dos brasileiros associam o dinheiro a sentimentos negativos e 54% ainda o consideram um tabu.
Esses dados trazem à tona um desconforto bastante evidente quando o assunto é finanças. E, embora essa seja uma visão comum para os brasileiros, não é universal, podendo ser atribuída a uma série de fatores sociais, culturais e históricos do país.
A desigualdade social é um dos principais motivos para essa associação negativa e, infelizmente, é até hoje um dos maiores desafios enfrentados pelo Brasil. Nosso país tem uma distribuição de renda extremamente desigual, com uma pequena parcela da população concentrando a maior parte da riqueza, enquanto a maioria enfrenta dificuldades financeiras e vive em condições adversas.
Para você ter uma ideia, segundo a Pnad Contínua 2020, a renda de 1% da população brasileira mais rica equivale a 34,8 vezes o rendimento dos 50% que ganham menos no país.
Essa disparidade pode levar a uma percepção negativa em relação ao dinheiro, já que muitos associam a riqueza a privilégios e oportunidades que estão fora do alcance da maioria da população. E para aqueles que possuem salário, a máxima vivida é “pouco dinheiro para muitos boletos”.
A corrupção, que tem uma ligação direta com esse problema, também desempenha um papel importante na associação negativa do dinheiro. Esse tem sido há anos um empecilho enraizado na sociedade brasileira, com escândalos políticos e empresariais frequentemente divulgados pela mídia. Casos assim reforçam a ideia de que o dinheiro está relacionado a práticas ilegais, desonestas e prejudiciais à sociedade.
Fora que hoje, segundo um estudo da Eixo, o principal motivo por trás de uma solicitação de crédito no Brasil são as dívidas. Portanto, já é de se esperar que a relação do brasileiro com o dinheiro não seja das melhores.
Além disso, os anos de inflação e todas as turbulências vividas na economia acabaram por fragilizar a imagem da moeda brasileira. E é por esse motivo que hoje, expressões famosas como “dinheiro não traz felicidade” transparecem a falta de confiança e a dificuldade de pensar no dinheiro como algo estável.
A falta de educação financeira adequada é outra que desempenha um papel importante nessa associação negativa. Muitos brasileiros não têm acesso a informações e recursos que os ajudem a gerenciar suas finanças de forma eficaz, a fim de planejar o futuro, economizar e tomar decisões financeiras conscientes.
No Brasil, a educação financeira não costuma ser parte integrante do currículo escolar, o que resulta em uma lacuna de conhecimento financeiro entre a população. Sem uma base sólida de educação financeira, muitas pessoas podem enfrentar dificuldades na gestão de suas finanças pessoais, acumular dívidas excessivas e ter dificuldades em alcançar seus objetivos.
Além disso, a ausência de conhecimentos básicos sobre orçamento, poupança, investimentos e planejamento financeiro pode levar a uma sensação de insegurança e ansiedade em relação ao dinheiro.
Muitos brasileiros não compreendem totalmente as taxas, juros, investimentos e outras informações relacionadas a transações financeiras. Isso pode resultar em escolhas inadequadas e custos adicionais, como taxas bancárias desnecessárias ou investimentos pouco rentáveis.
Todas essas situações podem levar a uma percepção negativa em relação ao dinheiro, já que nesse cenário muitas pessoas se sentem desamparadas e incapazes de lidar com questões financeiras de forma adequada.
No Brasil, de acordo com dados do Instituto Locomotiva, 34 milhões de pessoas ainda não têm acesso a serviços bancários.
Promover a inclusão financeira significa garantir o mesmo acesso a serviços financeiros, como contas bancárias, empréstimos, seguros e investimentos, por parte de todos os indivíduos, independentemente de sua renda ou localização geográfica.
Por isso que quando se fala em inclusão nesse contexto, é preciso entender que ela não significa apenas ensinar as pessoas a lidar com suas finanças, fazer investimentos e melhorar sua relação com o dinheiro. Muitos brasileiros não têm sequer uma conta em banco, portanto incluir significa alcançar esses indivíduos também.
E é importante lembrar ainda que os desbancarizados são, em sua maioria, mulheres das classes D e E. Por isso, ações voltadas para esse perfil são importantes nessa virada de chave do dinheiro vilão para o dinheiro parceiro.
Portanto, a inclusão financeira, aliada à educação, proporciona acesso a serviços que podem ajudar a promover a segurança financeira e a mobilidade social. Ter acesso a serviços de crédito formal, por exemplo, pode permitir que as pessoas invistam em educação, iniciem um negócio próprio ou adquiram bens duráveis, como uma casa ou um carro. São estratégias assim podem ajudar a “desvilanizar” a imagem do dinheiro.
Compartilhe
Veja também
A consciência é sua
Como anda o pacto que as maiores agências do País firmaram para aumentar a contratação de profissionais negros e criar ambientes corporativos mais inclusivos?
Marcas: a tênue linha entre memória e esquecimento
Tudo o que esquecemos advém do fato de estarmos operando no modo automático da existência