Dois é bom, pouco ou demais?
Entidade intrínseca à história da publicidade, as duplas passaram a dividir os holofotes com outros modelos criativos – mas sem perder a ternura
Entidade intrínseca à história da publicidade, as duplas passaram a dividir os holofotes com outros modelos criativos – mas sem perder a ternura
A edição mais recente da revista Shot contou com a colaboração de profissionais da J. Walter Thompson de Londres e Nova York, como editores convidados. Em uma das reportagens produzidas exclusivamente para a publicação britânica, cem duplas de criativos foram entrevistadas para uma pesquisa. O objetivo: identificar os valores que consolidam a união de parcerias bem-sucedidas, assim como os principais pontos de atrito entre quem, não raramente, passa mais tempo com o colega de trabalho do que com a própria família.
Alguns resultados são curiosos. A proximidade física com o parceiro é elemento-chave nessa química: 92% dos entrevistados afirmaram que se sentem mais criativos quando o parceiro está por perto, enquanto 91% ficam mais seguros para defender suas ideias quando estão juntos. Oito em cada dez sentem muita falta quando a cara-metade está distante, e 26% admitiram já terem acidentalmente preparado duas xícaras de café (ou chá!) em dias nos quais sua dupla não está no escritório. Em uma atitude extrema, 53% confiariam suas vidas nas mãos do outro.
Toda relação tem seus percalços e nem todos estão satisfeitos, consciente ou inconscientemente: 43% disseram já terem sonhado que trabalham com outra pessoa e 34% confessaram terem de fato esse desejo, quando estão acordados.
Além do estudo, um especialista em terapia de casais foi convidado para analisar psicodinamicamente duas das duplas mais longevas a prestarem seus serviços para a J. Walter Thompson, uma do escritório de Nova York, e a outra, de Londres. Para manter a confidencialidade que envolve as relações entre médicos e pacientes, foi estabelecido que as anotações e conclusões do psicoterapeuta Raymond Francis só poderiam ser reveladas com a permissão dos participantes.
Ao final do projeto, Francis avaliou que os alicerces fundamentais do sucesso das parcerias criativas estão baseados em: confiança; respeito mútuo; assumir responsabilidades; estar aberto à diversidade de opinião e cultura; comunicar-se abertamente; ter uma atitude positiva; e gerenciar bem os limites.
São ingredientes comuns, convenhamos, a toda receita de sucesso de relacionamentos pessoais não apenas sólidos, mas também saudáveis — seja um casamento, seja uma grande amizade —, em que muitas vezes é preciso concordar em discordar e seguir em frente, mesmo quando a decisão tomada não é a que mais lhe agrada, particularmente. Quando a divergência insiste em dar o tom, transparência e flexibilidade funcionam como fiadores do vínculo.
As duplas são uma entidade da indústria criativa há seis décadas, desde que Bill Bernbach, um dos fundadores da DDB, uniu redator e diretor de arte em equipes. Certamente estarão em cena por muitos anos ainda, mas a eficiência de tal modelo tem encontrado críticos em maior número, recentemente. Afinal, a dinâmica de trabalho atual nas agências ostenta poucas semelhanças com os anos 1950 — ou, ao menos, deveria.
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