E a planilha de influenciadores – você viu?
O assunto que provocou o mercado nos últimos dias também traz reflexões sobre ética da exposição de determinadas informações e questionamento sobre onde estão os influenciadores pretos e periféricos
O assunto que provocou o mercado nos últimos dias também traz reflexões sobre ética da exposição de determinadas informações e questionamento sobre onde estão os influenciadores pretos e periféricos
3 de fevereiro de 2025 - 10h00
Essa foi a frase que mais ouvi nos últimos dias e, claro, trabalhando na área de influência, fiquei curiosa para dar uma espiada nos nomes e casos citados.
Há alguns anos, viralizou no mundo publicitário a famosa planilha das agências, onde colaboradores compartilharam suas opiniões pessoais sobre como é trabalhar nesses lugares. Confesso que, antes de entrar em uma agência, também dei uma olhada para ver se havia algo muito absurdo que me fizesse mudar de ideia.
Agora, em 2025, o que viralizou e até se transformou em uma oportunidade de publicidade para marcas e influenciadores (Carla Diaz acertou em cheio) ou no cancelamento deles, foi uma nova planilha, feita por profissionais da área de influência. Nela, relatam suas experiências ao trabalhar com talentos, avaliando se vale a pena ou não investir neles.
Refleti sobre dois pontos importantes a partir do documento:
No caso das planilhas das agências, vemos questões relacionadas aos direitos dos trabalhadores, abusos e diferenciais que podem atrair ou afastar futuros colaboradores. Mesmo sendo uma ferramenta informal, pode ser útil para melhorar ou fortalecer a cultura organizacional das empresas.
Porém, no caso dos influenciadores, vi comentários como: “Não vale o preço que cobra”, “Não sabe editar”, “Muda de ideia”, “É desorganizado”, “pediu para retocar tom de pele”, esse último entra em uma camada racial que vale outro texto, entre outros.
Não estou aqui justificando comportamentos inadequados, porque agressividade e falta de educação são injustificáveis, independente de quem seja. A questão é que cada influenciador tem seu modo de criar, assim como nós, quando passamos em um processo seletivo, temos nosso estilo e ritmo. Na área criativa, isso é ainda mais natural, já que o trabalho não é só operacional.
Quando dizemos que um influenciador “não vale o que cobra”, estamos criando uma expectativa sobre ele, mas, antes de contratar, já sabemos como ele atua visualmente nas redes. Cabe ao profissional da marca ou agência avaliar se o perfil combina com o branding e a campanha. Além disso, muitos influenciadores vindos da música, reality shows ou TV não têm formação na área de digital, porém, precisam se adaptar para pagar as contas. E não é porque alguém é famoso que é automaticamente rico – o mundo do entretenimento nem sempre é fácil, especialmente para artistas pretos e LGBTQIAPN+.
É importante que os profissionais entendam, antes da contratação, se o talento faz edição, se tem equipamentos além do celular e se precisa de suporte da agência para entregar o que é esperado. Com isso claro, é possível negociar melhor o valor e planejar o que será necessário para a entrega final.
Como profissional da área é impossível não reparar quantos influenciadores com recorte de diversidade são citados na planilha de forma positiva ou negativa, só que li e reli e aí me vem a velha pergunta: cadê as pessoas pretas e periféricas nas contratações?
Estamos em 2025, e mais um ano em que o lifestyle e a cultura de favela são destaques e hypes para várias marcas e consumidores. Ver essa cultura em alta é ótimo, mas, para que isso aconteça de forma justa, girando a economia dentro da própria favela, precisamos aumentar a contratação de influenciadores desse cenário. Caso contrário, é mais um caso de apropriação cultural e econômica às custas da população marginalizada.
Por fim, a ética profissional e o olhar além da bolha elitista precisam ser repensados. E, claro, muitos influenciadores também precisam rever suas atitudes, entendendo que a fama não é passe livre para falta de educação e arrogância. No mundo da publicidade, todos os agentes jogam no mesmo time, então vamos trabalhar em conjunto e fazer o trabalho acontecer.
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