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E aí, a profissão de designer morre ou não morre?

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Opinião

E aí, a profissão de designer morre ou não morre?

Anúncio da integração entre ChatGPT e Sora causou alvoroço no mercado, mas o que se tem continua sendo uma ferramenta, só que ainda mais avançada


23 de abril de 2025 - 10h00

No dia 25 de março, foi anunciada a integração do ChatGPT com a Sora, permitindo a geração de vídeos realistas a partir de texto. A internet, então, foi bombardeada com comentários pessimistas de profissionais da área criativa sobre o futuro do design. Antes disso, o mesmo tipo de alarde pairava sobre a profissão de escritor e outras áreas correlatas. Houve até quem dissesse que pensava em entrar para o design, mas que simplesmente desistiu.

Eu entendo que a Sora — assim como outras inteligências artificiais — é, e continuará sendo, apenas uma ferramenta, assim como são o Photoshop e outros softwares de edição. Antigamente, desenhava-se no papel, no entanto, com o surgimento de softwares de ilustração digital, os artistas migraram gradualmente para o uso de ferramentas digitais. Ainda que tenham mantido seus estilos próprios, a tecnologia proporcionou ganhos imensos em produtividade.

Agora, lidamos com uma ferramenta mais avançada. Mas, ainda assim, é uma ferramenta. A inteligência artificial (IA) não cria — ela recombina e aprende com o que já foi criado por seres humanos. Se o Studio Ghibli não tivesse desenvolvido seu estilo único, a IA não teria de onde copiá-lo. Ou seja, antes da IA, houve um artista.

Como qualquer outra tecnologia, a IA precisa de pessoas capazes de orientá-la — e até mesmo de criá-la. Você já tentou pilotar um drone profissional? Ou operar uma colheitadeira autônoma? São máquinas altamente sofisticadas, mas, sem uma mente humana para programar, direcionar e interpretar, não funcionam com eficácia.

Criar um prompt capaz de gerar uma imagem publicitária não é trivial. É necessário saber qual mensagem se deseja transmitir, qual o estilo visual, qual emoção se quer despertar e principalmente, qual mensagem transmitir. A IA apenas traduz o pensamento humano — e se esse pensamento estiver raso ou vago, o resultado será igualmente sem sentido. Entregue um campo de prompt aberto a alguém que não sabe o que quer dizer, e verá: a IA devolverá exatamente isso — nada. Apenas o ser humano continua sendo capaz de criar a mensagem. A IA é apenas um meio.

Portanto,  a estratégia — tanto visual quanto textual — continuará sendo indispensável. A IA apenas reposiciona o humano no seu devido lugar: no centro da criação. A não ser, claro, que você acredite que ser designer é apertar botões.

A única hipótese em que esse cenário mudaria seria com o surgimento de uma inteligência consciente — um salto de ficção científica. Nesse caso, não estaríamos mais falando apenas de uma ferramenta, mas talvez da próxima etapa evolutiva da nossa própria espécie.

Mas, voltando à realidade concreta: não há o que temer. Esse debate não é novo. Walter Benjamin, em 1955, muito antes da era digital, já introduziu o conceito de reprodutibilidade técnica. Ele teorizou sobre como a possibilidade de replicar obras de arte tecnicamente causava a perda da “aura” — ou seja, da unicidade e autenticidade da obra, ligada ao seu “aqui e agora”. A obra de arte, na era da técnica, perdia seu valor de culto e ganhava valor de exposição — passava a ser distribuída em massa, em nome do consumo. Isso te lembra alguma coisa? 

Portanto, a reprodutibilidade técnica já existe antes mesmo do advento tecnológico, agora ela intensifica e ganha uma nova esfera: a da Inteligência Artificial, que exige justamente que o ser humano deixe seu apego à operacionalidade e conecte-se a sua essencialidade. 

Esse é um convite a todos nós, profissionais da área, a refletir sobre os nossos verdadeiros papeis enquanto comunicadores, pois comunicar-se é um dos elementos principais que nos fazem seres humanos, algo que nos distancia totalmente da substituição pelo uso da IA.

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