É das vira-latas que eles gostam mais

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Opinião

É das vira-latas que eles gostam mais

Agências independentes, ao contrário dos “cães de pedigree” (grupos internacionais), se movimentam com inteligência de rua, enquanto estes são mais preocupados em sustentar complexidades


19 de julho de 2024 - 6h00

A paisagem publicitária brasileira foi mapeada recentemente pelo informe NB Score 2023, estudo anual da consultoria Scopen no qual, para mim, uma verdade se destaca mais que as outras: as agências independentes – com a versatilidade e carisma de uma cachorra vira-lata – dominaram o cenário com cerca de 64% do mercado de novos negócios no período, enquanto os grupos internacionais – os “cães de pedigree” – somaram 36% da fatia de NB (new business) durante o ano passado. Esse dado já é fascinante por si só, além de deixar claro que a força das “vira-latas” da publicidade, com sua diversidade e resiliência, refletem uma mudança profunda no terreno da comunicação e do marketing.

Nos meus 15 anos nos bastidores dos principais veículos de comunicação, certamente vi de tudo um pouco. E, sim, eu vi os grupos internacionais, verdadeiros “pitbulls” do nosso quintal publicitário, com suas campanhas milionárias e processos tão complexos que fariam qualquer um suspirar. Mas, como um bom apreciador da astúcia brasileira, sempre me encantou a habilidade das vira-latas em fazer mais com menos, mostrando que o tamanho do orçamento nem sempre é diretamente proporcional à qualidade ou ao impacto da publicidade.

Encontradas em cada esquina do Brasil, de todos os tamanhos, alguns ainda buscando seu lugar ao sol enquanto outras já se estabeleceram e latem com autoridade, as agências SRD – “sem raça definida”, nome oficial das vira-latas – são verdadeiras mestras na arte de aproveitar oportunidades. Elas não têm medo de enfrentar os “pitbulls”, porque sabem que a astúcia e a adaptabilidade estão do lado delas. Essas agências, com seus modos inovadores e estruturas flexíveis, provaram que é possível oferecer soluções criativas e eficazes sem a necessidade de orçamentos exorbitantes.

Ao longo da minha carreira, testemunhei negociações que poderiam ser roteiros de comédias dramáticas, nas quais por vezes os grandes orçamentos pareciam mais preocupados em sustentar a complexidade das grandes corporações do que em gerar resultados efetivos. As vira-latas, por outro lado, se movimentam com uma inteligência de rua, sabendo quando pular as cercas ou se deitar à sombra, sempre de olho na melhor oportunidade para surpreender e conquistar.

O triunfo dessas vira-latas sobre os tradicionais “bulldogs franceses” da publicidade não é apenas uma vitória para as agências independentes, mas um lembrete de que a criatividade, a agilidade e a capacidade de adaptação são as verdadeiras moedas de valor no mercado atual. Mostra que, no mundo da publicidade, ser uma vira-lata não se trata apenas de sobreviver, mas de florescer em meio à adversidade, trazendo frescor, inovação e, acima de tudo, resultados que falam mais alto que qualquer pedigree.

Enquanto o mercado continuar a evoluir, as vira-latas da publicidade brasileira estarão aqui, não apenas para ficar no bando, mas para liderar a matilha, mostrando ao mundo da publicidade que a astúcia, a adaptabilidade e o charme inato podem, de fato, levar ao topo.

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