É hora de afetos duradouros
Pessoas se relacionam com as marcas da mesma forma que se relacionam com outras pessoas
Pessoas se relacionam com as marcas da mesma forma que se relacionam com outras pessoas
Há muitos anos, atendi uma marca de bens de consumo que já tinha à frente do seu marketing uma executiva fora da curva. Toda vez que íamos lançar um produto novo para esse cliente, ouvíamos dela a mesma pergunta: como vamos fazer esse produto passar da barreira dos 3% de share?
A crença da CMO na época era que bastava um determinado produto estar na gôndola para que, com algum tempo, ele começasse a ser experimentado por alguém que visse alguma utilidade nele e chegasse aos famigerados 3% de share. Fazê-lo passar dessa arrebentação era o objetivo do trabalho de comunicação: precisávamos criar desejo para a marca e para o produto, e convencer os consumidores de que não podiam viver sem ele.
Esse era o modelo vigente nas empresas que hoje chamamos de legacy companies: desenvolver um produto que respondesse à visão de portfólio da empresa e, em seguida, criar necessidade para ele no mercado. Os serviços e produtos eram construídos com a visão de dentro e depois empurrados para fora através de comunicação massiva – um modelo Inside>Out.
Corta para alguns anos depois. Uber, Spotify e outros tantos “disruptores” da nova economia nos fizeram entender que há outro jeito de pensar: detectar uma oportunidade ou dor de um grupo de consumidores e criar uma solução escalável para ela. Essa visão Outside>In, impulsionada pelas possibilidades da tecnologia, é a que hoje acelera o progresso de startups de todas as idades e tamanhos.
O resultado a gente já conhece: um aumento enorme nas nossas opções, os onipresentes modelos de assinatura e “as a service”, o estabelecimento da concorrência “perceptual”, e o fim das fronteiras entre o físico e o digital.
Ao longo desse processo, as marcas e a indústria criativa foram redescobrindo que não bastava mais apenas contar uma grande história para todo mundo e gerar uma venda; que benefícios funcionais não necessariamente garantem o sucesso de um produto; e que o jogo das marcas no mundo pós-digital é outro: ele precisa partir da perspectiva dos consumidores.
E como pessoas se relacionam com as marcas da mesma forma que se relacionam com outras pessoas, o caminho paras marcas passa por:
– Conhecer bem o outro – ou entender profundamente o seu público. Isso significa construir, para cada cluster ou segmento com o qual a marca conversa, um olhar sobre o que move aquelas pessoas (pain points e passion points) e outro olhar sobre como elas se movem – em outras palavras, suas jornadas e padrões de comportamento.
– Saber ouvir. O contexto, a cultura, as falas e os sinais que todos nós, consumidores, deixamos à nossa volta. O que não falta é tecnologia para isso: ferramentas de social listening, plataformas de data viz, softwares de CRM. Mas, assim como nas relações pessoais, ter alguém verdadeiramente escutando é o que faz a diferença.
– Usar criatividade, anabolizada pela tecnologia, para reaprender a conversar nos mais diversos (e inesperados) canais, colocando seus valores a serviço das pessoas. O segredo é fazer os consumidores sentirem aquela sensação que é quase mágica quando a gente está namorando: que a outra pessoa (no caso, a marca) está pensando o tempo todo em você.
Saímos da era do storytelling para a do storyliving: mais do que ouvir, as pessoas querem compartilhar valores, conversas e experiências com as marcas. No seu tempo, do seu jeito.
Por isso, marcas que quiserem continuar trilhando caminhos de sucesso precisam se dedicar a construir relacionamentos com seus consumidores. Sim, relacionamentos – de preferência, de longo prazo, para maximizar o lifetime value da relação.
*Crédito da foto no topo: pexels-francesco-ungaro-281260
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