É hora de derrubar muros e construir pontes
Precisamos direcionar inteligência e energia para entender as mudanças que influenciarão o que produzimos e como consumimos
Precisamos direcionar inteligência e energia para entender as mudanças que influenciarão o que produzimos e como consumimos
Estrear neste espaço, em um momento especialmente atípico para todo mundo, me fez refletir sobre mudanças. E sobre reações às mudanças. Não vou falar de ‘novo normal’ porque, sinceramente, não sei qual será esse ‘novo normal’ e, sendo engenheira por formação, sigo tendência mais pragmática. Claro que a intuição ajuda muito. Mas isso é tema para outra conversa.
O fato é que estar à frente de transformação digital e TI em uma grande empresa de alimentos — setor considerado essencial e, assim, necessário que opere em sua capacidade plena — me colocou no meio de um turbilhão. Do dia para a noite, tive de desconstruir rotas e construir planos com minha equipe. Do dia para a noite, agreguei muitos colegas de outras áreas em força-tarefa poderosa constituída para responder às necessidades imediatas do negócio. Do dia para a noite, estabeleci uma rotina diferente em casa, com meu filho, meu marido, meus pais, meus amigos. Do dia para a noite, reinventei o home office para, mesmo à distância, permanecer perto das pessoas, dos times, dos parceiros.
A questão do home office tem sido tema para muita reflexão. Foi incorporado às nossas vidas pela situação inesperada que estamos atravessando, mas sem preparação nem treinamento. Tenho ouvido por aí a expressão ‘trabalho remoto forçado’, já que a jornada à frente do computador aumentou exponencialmente e, em muitos casos, sem a estrutura adequada que, minimamente, se assemelhe a um escritório. Humanidade e empatia em altas doses podem nos ajudar a tornar essa nova rotina mais leve para todos.
E este é só mais um dos desafios com o qual estamos lidando agora. Tudo sem receita, sem guia, sem parâmetro anterior. Por outro lado, essa urgência trazida pela Covid-19 provocou um salto no tempo — não esperado, mas desejado — para transformação digital. Vejo projetos que levariam tempo para acontecer já se tornarem realidade porque são necessários.
O que vivencio também reforça minha crença pessoal de que tudo flui melhor se você compartilha dos valores da empresa para a qual trabalha. No nosso caso, o respeito é o valor que norteia suas ações — Respeito por nós mesmos, pelos outros, pela diversidade, pelo futuro. E é assim que temos trabalhado, principalmente para entender os pontos de maior sensibilidade para cada ponta da cadeia, oferecendo apoio para minimizar impactos sérios.
Com isso em mente, em três dias a equipe colocou de pé a parceria com a plataforma Apoie Um Restaurante, incluindo cafeterias e confeitarias para que subsistam com perspectivas mais à frente. Da mesma forma, incrementamos o negócio Vem de Bolo para apoiar pequenos empreendedores, cuja maioria são mulheres confeiteiras responsáveis pelos rendimentos da casa. Com Gerando Falcões, um parceiro já de alguns anos, estruturamos uma forma do colaborador doar um valor e a empresa replicar esse valor destinado a cestas básicas digitais para pessoas em situação de vulnerabilidade social.
E você, que chegou até aqui na leitura desta coluna — obrigada;) —, pode se perguntar qual a relação disso com transformação digital, pois acredito muito que essa é a vocação desta área, feita por e para pessoas. A peculiaridade deste momento é que não temos tempo para testes. Nossa base de trabalho é a de criar e compartilhar valor. Então, faz todo sentido que, agora, olhemos para aqueles que vivem uma realidade de maior fragilidade para que ultrapassem essa fase com algum respaldo, até o momento da retomada. É a vida real nos convocando para a ação. Como costuma dizer o fundador da Gerando Falcões, Eduardo Lyra, temos de derrubar muros e construir pontes.
Acredito que, agora, precisamos voltar nossa inteligência e energia para entender os sinais de mudanças de comportamento que logo influenciarão o que produzimos e como consumimos. Transformação digital tem um papel importante de colocar o consumidor — eu, você, seus amigos — como protagonista dessa ‘nova realidade’ com muito respeito, dialogando e entendendo profundamente essas transformações. Sabemos que elas já estão ocorrendo. E que — realmente acredito nisso! — podemos ajudar para que abracem muito mais valores positivos voltados a um futuro mais saudável, gentil e acolhedor para todos.
*Crédito da foto no topo: Cassi Josh/ Unsplash
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