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Opinião

Elas por elas

O aumento da presença feminina no comando é a variável chave com influência para acelerar o processo de equidade em cargos de liderança


2 de março de 2020 - 10h44

(Crédito: iStock/ All Royalty Free)

O debate sobre os caminhos para a redução do gap entre homens e mulheres em posições de liderança nas empresas tornou-se um dos mais quentes temas corporativos. Políticas foram implementadas e estudos quanto aos benefícios que uma maior diversidade entrega para os negócios ganharam destaque.

O resultado prático, porém, não acompanha o hype em torno da teoria.

A mais recente pesquisa Panorama Mulher, do Insper e Talenses, divulgada em outubro do ano passado e realizada com 532 empresas, apontou que apenas 19% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres no Brasil. A defasagem é maior quando o posto em questão é a presidência: apenas 13% dos CEOs são mulheres — um retrocesso em relação aos 15% registrados na edição de 2018 da pesquisa.

Informação e governança são aliadas fundamentais para a construção de um novo ambiente de trabalho, mas a morosidade da transformação indica a predominância de um mindset ultrapassado, que precisa ser confrontado para evitar que a estratégia seja, como alertam os manuais de gerenciamento, engolida pela cultura.

A dimensão desta barreira fica explícita em outro estudo, da Kantar, que ressalta o impacto negativo de estereótipos no avanço da equidade de gênero quanto às oportunidades e ao reconhecimento profissionais. Apurado entre julho e setembro de 2019, o índice Reykjavik para lideranças mostrou que, em média, nos países que pertencem ao G7 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido), o percentual da população que se diz confortável com uma mulher ocupando a presidência de uma grande empresa nacional ficou abaixo da metade, mais precisamente em 48%.

Nesse quesito, o Brasil, incluído no estudo junto com China, Índia e Rússia, aparece alinhado à Itália e França, e à frente da Alemanha e do Japão. Ao todo, 41% dos entrevistados brasileiros se disseram confortáveis com o cenário — Canadá, Estados Unidos e Reino Unido apresentam índices bem superiores. Uma ponderação se faz necessária: tal patamar é turbinado pelo nível de confiança demonstrado pelas mulheres brasileiras (48%). Se a análise ficar restrita às respostas masculinas, o copo fica meio vazio: apenas 33% dos homens afirmaram se sentir confortáveis com mulheres liderando grandes companhias. A diferença nas respostas entre os gêneros, em nosso País, é a maior registrada pela pesquisa em termos absolutos.

A mudança nessa percepção é importante por vários motivos, um deles em especial. O aumento da presença feminina no comando é a variável chave, com influência para acelerar exponencialmente o processo rumo à equidade. A pesquisa do Insper e Talenses apontou que, quando a presidente é uma mulher, as chances de uma empresa ter representantes femininas também na vice-presidência e em cargos de direção aumentam em duas vezes e meia — a multiplicação é por quatro quando o foco é o número de mulheres no conselho das companhias.

A manchete da edição impressa de Meio & Mensagem desta segunda-feira, 02, retrata iniciativas independentes que investem na força da união feminina como agente dessa transformação, em setores como o varejo e em áreas como criação e produção. São consultorias e hubs de geração de negócios, networking, empreendedorismo, capacitação e divulgação, que se propõem a prover o conhecimento e as conexões aos quais muitas não têm acesso no dia a dia profissional, por conta da cultura de suas corporações ou dos setores nos quais estão inseridas.

“A conquista dos espaços de poder pelas mulheres vai acontecer independentemente de nossa existência”, afirma Laura Florence, em entrevista para as jornalistas Bárbara Sacchitiello e Karina Balan Julio, que assinam a reportagem de capa. A diretora executiva de criação da Havas Health é, junto com Camila Moletta, head de design da F.oxi Consulting, uma das criadoras do More Girls, plataforma que conecta e impulsiona o trabalho de criativas. “O que fazemos é acelerar para que isso não aconteça de forma tão lenta.”

*Crédito da foto no topo: Mfto/iStock

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