Eleições X Rede Sociais: uma mistura que merece cautela
Apenas com conteúdo de qualidade e verídico é possível formar a opinião de uma forma realmente livre
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A propaganda eleitoral no rádio e na TV tem suas definições específicas em relação ao tempo disponível para cada candidato, porém, em uma outra plataforma de comunicação, todos correm em pé de igualdade na busca pela proximidade com o eleitorado. Ainda que nos meios de comunicação tradicionais o tempo de propaganda política seja um fator poderoso na hora de definir o voto do brasileiro, as mídias sociais têm sido uma crescente fonte de informação para o eleitor, e muito do que gera atenção no meio virtual acaba virando notícia nos meios de comunicação tradicional. Dessa forma, as campanhas têm usado as mídias sociais como ferramenta estratégica para chamar a atenção dos eleitores.
De acordo com uma pesquisa divulgada em 2019 pela Agência Senado, do Instituto DataSenado, 45% dos brasileiros afirmaram ter levado em conta as redes sociais para decidirem o seu voto e 80% dos participantes do levantamento afirmaram ver grande influência das redes na opinião política das pessoas. Nas últimas eleições, foi facilitado o compartilhamento de notícias através das redes sociais. Por conta do olhar não regulamentado no Brasil, o que facilitou ainda mais o processo de pulverização de informações de interesse de grupos articulados e financiados para uso de Fake News. Disso surgiu a CPI, que apura a existência do “gabinete do ódio” confirmada pela PF em relatório.
Nesse sentido, cabe a pergunta: as mídias sociais são um ambiente representativo da população brasileira? De acordo com um estudo que reuniu dados da Hootsuite e WeAreSocial, o Brasil ocupa o 3º lugar dos países que mais usam as redes sociais, com uma média de 3 horas e 42 minutos por dia. Em contrapartida, segundo a Pesquisa Brasileira de Mídia, 34% dos brasileiros ainda não possuem acesso à internet. Dos que acessam a rede, uma grande maioria são homens, e, em boa parte nos grandes centros urbanos do país — principalmente da região Sudeste. Se considerarmos somente esses critérios, podemos afirmar que não é um ambiente representativo do eleitor médio brasileiro. Para além disso, muito do que acontece na internet demanda um olhar mais apurado, além de não representativo, muitas vezes o debate tem a influência de usuários falsos.
Tradicionalmente, uma boa campanha política é eficaz quando consegue chamar a atenção. Por isso, no Brasil, o tempo disponibilizado na televisão é um fator-chave para eleger um candidato. Em tempos de mídias sociais, a atenção não é uma variável tão linear como na televisão. Ela é gerada pelo alcance e pelas reações dos usuários aos posts, seja por likes ou compartilhamentos, e pode vir de usuários reais ou falsos. Perfis falsos — sejam eles operados por pessoas ou de forma automática (bots) — ou a automatização de mensagens de perfis verdadeiros são estratégias cada vez mais usadas para gerar essa atenção de forma artificial.
Este ano, temos mais um ano eleitoral pela frente. Certamente, as redes sociais seguirão como grandes personagens para a campanha eleitoral. No entanto, é esperado uma menor facilidade para o uso de estratégias inadequadas para a manipulação do povo, pois as plataformas sociais estão investindo cada vez mais em mecanismos para barrar falsos conteúdos e perfis. De certa forma, é preciso apostar nos recursos de denúncia das próprias plataformas que são os canais oficiais e mais rápidos para que conteúdos sejam banidos antes de ter alcance significativo.
As plataformas das redes sociais têm colocado mecanismos de denúncias e bloqueios de campanhas eleitorais patrocinadas, mas temos um longo caminho ainda no combate às Fakes News. Não há uma legislação que possa inibir os autores e ainda, de certa forma, a política de privacidade protege algumas ações fazendo com que o discurso sobre o sigilo seja mais forte que o próprio crime. As empresas como Meta (detentora do Facebook, Instagram e WhatsApp), Twitter e Microsoft (detentora do LinkedIn) possuem algoritmos com AI (inteligência artificial) que filtram alguns padrões e comportamentos ofensivos, mas ainda muita coisa pode ser feita somente com um trabalho manual do time de revisores, “assim chamados na equipe de suporte de denúncias”. É possível deletar conteúdos, punir contas com exclusão e chegar com muita sorte a rastrear a origem.
Apesar de tais esforços, todo cuidado nessas plataformas é válido, sempre é bom checar as informações através das pesquisas ao receber conteúdos de fontes duvidosas e, principalmente, a busca por informações em canais boa procedência. Apenas com conteúdo de qualidade e verídico é possível formar a opinião de uma forma realmente livre. Apesar de ser difícil saber o limite das redes, cabe a cada um ter a coerência de como dedicar melhor o seu tempo e sua atenção na internet, é preciso medir e avaliar sempre com olhar crítico aquilo que parece ser sensacionalista.
Além disso, o usuário de redes sociais deve tomar muito cuidado ao se posicionar politicamente em posts (compartilhamentos e interações), pois correm o risco de comprar uma briga que não é sua, ser mal interpretado e ainda comprometer sua divulgação pessoal como profissional. O respeito a opiniões dos outros é uma importante premissa da comunicação. Já os profissionais e empresas que são ativos em seus perfis da internet com fins comerciais, devem entender que produtos e serviços, apesar de muitas vezes estarem ligado a crenças e valores, devem ser comunicados com a neutralidade devida, condizente a uma boa estratégia de marketing.
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