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Opinião

Em busca da fórmula mágica

Jornais tradicionais adotam nova postura para facilitar o fluxo de informação nas redações


3 de maio de 2019 - 15h02

(Crédito: Pixabay)

O quadro é sempre muito parecido. A publicidade em queda livre, os assinantes desaparecendo, as contas que não fecham. E a ordem começa a ser “vamos cortar custos”. Corte de investimentos, corte de gastos ordinários, corte de cabeças. Se o corte é planejado, a solução é possível. Se o corte vem por impulso, sem estratégia, quase sempre significa um desastre.

Verdade que marcas conhecidas, líderes em seus mercados, começam a adotar uma nova postura. Em vez do “corte pelo corte”, uma reestruturação. Mas mesmo esse reordenamento precisa de muito estudo, preparo, cuidado. O espanhol El País, por exemplo, alterou o fluxo da redação há três anos. Fez um processo apressado, tudo – inclusive a reforma física da Redação – em 60 dias. Foi um fracasso, e já foi desmantelado, voltou ao passado pré-2015.

Agora é o argentino Clarín que anuncia mudanças. Segundo seus responsáveis, uma “aposta pela qualidade para fazer crescer a audiência”. Argumento perfeito. A ideia é “acelerar a transformação digital”. Tudo em sintonia com o que se acredita de mais moderno. Só que há um erro básico no processo: a lógica de transformação é manter as práticas do impresso – que, afinal, é quem ainda paga a conta. E é aí que mora o perigo.

Clarín dividiu a produção em três frentes: Conteúdo Original (que seria a criatividade sobre o noticiário, as análises, opiniões), Notícias Comuns (o breaking news) e Impresso (cobertura direcionada ao papel). Aí cabe a pergunta: por que um assinante (digital) precisa esperar o ciclo de 24 horas para receber um conteúdo “direcionado ao papel”? Assinante é assinante, é alguém que paga antecipadamente para receber o que há de melhor. No papel, no digital ou mesmo por sinal de fumaça. Claro que é preciso manter algo diferente para o papel – ou seu desaparecimento será precoce. Mas não é escondendo conteúdo – e sim refinando o material relevante.

A audiência do Clarín é importante. São 16 milhões de usuários únicos, dos quais 11% são registrados e pouco mais de 1% pagam para navegar (173 mil assinantes). Só que a assinatura digital custa 55 pesos mensais (algo como US$ 1,25, ou R$ 5). Para usufruir do Clube do Assinante, o valor triplica.

A aposta digital é fundamental em qualquer meio de comunicação. É impossível lutar contra o hábito da sociedade. E a receita através das plataformas digitais, ainda que modesta, é sempre mais uma fonte. Portanto, necessária. O erro costuma ser o protagonismo do impresso em uma redação falsamente integrada. Pelo que anunciou, Clarín estaria nessa direção.

De qualquer forma, vale a pena seguir os passos do diário líder da Argentina para se entender as consequências. Tomara que positivas.

*Crédito da foto no topo: Reprodução

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