Encontrando Bogusky
Assim como seu filho predileto dos anos 2000 e agora engenheiro-chefe de criação da CP+B, a própria publicidade também se lançou em uma viagem de ressignificação ao longo da última década
Assim como seu filho predileto dos anos 2000 e agora engenheiro-chefe de criação da CP+B, a própria publicidade também se lançou em uma viagem de ressignificação ao longo da última década
26 de novembro de 2018 - 15h40
Toda vez que o meu time de coração é eliminado, o que hoje em dia acontece sempre que disputamos algum campeonato, amigos costumam lembrar que o mundo era bem diferente quando o São Paulo F.C. conquistou pela última vez um título de maior relevância, o Brasileirão de 2008. Naquela época, nós, tricolores, não pudemos compartilhar nossa alegria nem brincar com os adversários pelo WhatsApp, pois o aplicativo simplesmente não existia. Pelo mesmo motivo, não tivemos a opção de pedir um Uber ao sair para comemorar. Também não assistimos a uma série no Netflix para fechar a noite de celebração, enquanto a adrenalina típica dos campeões ainda bombava, pois o serviço de streaming da companhia tinha acabado de ser lançado nos Estados Unidos e ainda levaria alguns anos para chegar por aqui. O Facebook era uma rede social para fazer amigos e reencontrar pessoas.
A realidade era bem parecida, um ano e meio depois, quando Alex Bogusky, celebrado como um dos criativos mais originais de seu tempo, anunciou que estava deixando a publicidade — mas o ritmo das mudanças que a transformação digital acarretaria em nossa sociedade e nas maneiras como nos comunicamos e consumimos estava começando a acelerar. Em meados de 2010, por exemplo, o WhatsApp e o Uber já davam seus primeiros passos e o Netflix anunciou sua primeira expansão internacional, para o Canadá. Nesse cenário ainda incipiente, mas promissor e entusiasmante, o filho predileto da publicidade na década passada decidiu respirar novos ares que o motivassem a buscar mais uma vez o melhor de si.
“É uma crise de meia-idade, mas não é sobre a morte. É um medo de não ser capaz de dizer que tentei tudo o que pude, com toda a sinceridade” afirmou, na época de sua saída, em entrevista à Fast Company, a mesma publicação de inovação e empreendedorismo que, dois anos antes, o chamara de “Steve Jobs da publicidade” em sua capa.
Por três vezes tentei falar com Alex Bogusky, nos anos que se seguiram, mas sem o mesmo sucesso da Fast Company.
“Não trabalho mais com publicidade” foi a curta resposta que recebi na última tentativa, em 2012. Seis anos depois, a repórter Isabella Lessa conseguiu a entrevista que fiquei devendo a você, caro leitor, agora em outro momento emblemático, tanto para Bogusky quanto para a própria indústria da publicidade — que, assim como o agora engenheiro- chefe de criação da CP+B, também se lançou em uma viagem de autoconhecimento e ressignificação ao longo da última década, na busca de reencontrar seu caminho como negócio, em um espaço agora influenciado diretamente por players originários da fonte em que Bogusky matou sua sede de aprendizado nessa temporada longe das agências.
“Não vejo meu trabalho como pensar em ideias, mas sim construir um novo processo para a criatividade que funcione para a publicidade e, espero, para além dela. Que seja mais rápido, mais acurado e produza resultados melhores. E essa é uma tarefa de engenheiro”, afirmou.
Ao longo da entrevista, publicada nas edição impressa de Meio & Mensagem, ele reforça essa ideia de que a real importância dos processos tem sua relevância ignorada pelas lideranças do mercado, que, diferentemente de outras indústrias, ainda resistem muito em “hackear” a tecnologia existente para modificar e alimentar todas as etapas intrínsecas aos trabalhos criativos — e que essa postura contribui para a redução do valor da oferta. Dentro do espírito colaborativo da indústria maker com a qual conviveu ultimamente, Bogusky diz que está disposto a compartilhar os padrões que desenvolver, assim que se provarem funcionais e eficientes.
“À medida que ficamos mais refinados com nossas novas abordagens, vamos compartilhá-las com todo mundo. Achamos que estamos chegando em um lugar que seria bom para a indústria. Acreditamos que a maré alta levanta todos os barcos.”
*Crédito da imagem no topo: Jenpol/iStock
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