eSports: o despertar do gaming
Dentro das possibilidades que este novo mercado vem trazendo, o mais importante é ter o sincero objetivo de fomentar e fazer crescer o cenário com uma visão de longo prazo e não cair na tentação do oportunismo
Dentro das possibilidades que este novo mercado vem trazendo, o mais importante é ter o sincero objetivo de fomentar e fazer crescer o cenário com uma visão de longo prazo e não cair na tentação do oportunismo
16 de fevereiro de 2017 - 14h00
Estamos vivendo uma nova era para o mercado de games. Publishers, marcas de grande consumo, fabricantes de computadores, agências de publicidade, talent managers, jornalistas, canais de TV, organizadores de eventos, YouTubers, celebridades, clubes de esportes, ex-campeões de futebol ou de basquete: todos estão conversando, negociando, comprando, patrocinando, investindo e se posicionando nos “eSports”: as competições organizadas de jogos eletrônicos.
Essa nova bolha colocou os videogames de volta ao holofote, ajudando o mercado de games a sair pouco a pouco do clichê de “joguinho que faz perder tempo” ou do diabolizado “brinquedo” de “violência” que “mata” ou “faz matar” destacado no passado pela mídia.
O sucesso do eSports é a resposta da comunidade gamer ao eterno preconceito que sofreu nas últimas décadas. Hoje, o jovem millennial tem como se projetar em uma carreira de jogador profissional e responder para seus pais “eu vou ganhar minha vida jogando”, treinando para ser o novo “Fallen” ou “Coldzera”, ganhando milhões, galvanizando as comunidades e enlouquecendo as torcidas.
Essa revolução pode ser caracterizada por, no mínimo, seis convergências:
Primeiro, este boom está ligado ao crescimento da tecnologia: o desenvolvimento do acesso à internet e o aumento das velocidades de conexão, que permitiram a canais de streaming de vídeo tais como Twitch, Youtube ou mesmo Facebook oferecerem mais possibilidades e espaço de expressão para criadores de conteúdo e audiência para as partidas online. Muita audiência leva a muito espaço para publicidade que traz muitos anunciantes e, in fine, muito dinheiro. O que é promissor é que o gaming, que já é um canal de audiência forte, está hoje com uma perspectiva de crescimento exponencial por meio do eSports.
Explicando melhor: dentro dos muitos canais de conteúdo, os que falam sobre games já são os que geram mais audiência. Isso porque o gaming oferece infinitas possibilidades de conteúdos e discussões por trazer uma grande diversidade de narrativas, gêneros e estilos (ação, reflexão, tiro, luta, FPS, MOBA, etc…) e, mais que tudo, por ser uma mídia de experiência em que se vive quase sempre à primeira pessoa: o espectador é também o protagonista. O eSports surge como uma amplificação colossal a estes conteúdos e discussões, já que ele traz a dimensão competitiva, o que inclui campeões, torcedores, paixões, merchandising e tudo que já conhecemos no mundo do esporte.
Dentro das possibilidades que este novo mercado vem trazendo, o mais importante é ter o sincero objetivo de fomentar e fazer crescer o cenário com uma visão de longo prazo e não cair na tentação do oportunismo. O gamer faz parte de uma comunidade muita engajada e exigente, que somente se comprometerá com aqueles que querem trazer um valor maior para o mercado
Segundo, o interesse crescente da TV para as partidas online: SporTV, ESPN e Esporte Interativo estão cada vez mais colocando eSports no ar em horários de pico, disputando os conteúdos produzidos pelos organizadores. Isso vai contribuir muito para a democratização da disciplina não só para os jovens, mas também para o grande público que deveria torcer e se animar para os times e campeões de games como já faz com futebol, basquete e até o futebol americano.
Terceiro, estamos vendo o surgimento de novas celebridades: os talentos de eSports. YoDa, Zigueira, BrTT, e os membros de times como Pain Gaming ou INTZ são os novos ídolos dos millennials brasileiros. Eles são capazes de trazer milhões de pessoas para assisti-los ao vivo na internet, na TV ou em eventos. Em outubro de 2016, a final do Campeonato Mundial de League of Legends foi assistida por 43 milhões de pessoas no mundo, online e pela TV, com um pico de audiência de 14,7 milhões de espectadores simultâneos. O poder de influência deles não se questiona mais e um novo mercado para patrocinadores e agências de talentos emergiu e continua crescendo a todo vapor.
Quarto, toda essa audiência, muito engajada pela sua paixão (falamos de 800 milhões de horas de gaming consumidos no Brasil em 2016, segundo dados de Twitch), é um novo mercado para os anunciantes que querem falar com os millennials. Os custos de patrocínio ainda são bem reduzidos por ser um novo mercado, ainda pouco estruturado (em comparação à TV, por exemplo). Então, muitas marcas tais como Coca Cola ou Procter & Gamble estão neste momento trabalhando para se apropriarem deste território, com muitos investimentos chegando.
Quinto, no contexto de uma sociedade brasileira em crise, com fortes desigualdades e dificuldades crescentes de acesso à educação e a empregos, o eSports representa uma nova oportunidade para o jovem brasileiro pegar a escada de ascensão social e sonhar em ser o próximo “Neymar dos games”, um campeão milionário. A maioria dos jogos de eSports de grande audiência é grátis ou barata (League of Legends, CS GO..) oferecendo para todos igualdade de chances de ganhar.
Sexto, ainda que estejamos com um mercado muito masculino, vemos crescer talentos femininos no cenário, tal como a jogadora “Cherry Gumms”. Há uma oportunidade inédita de fomentar a ideia de que os times estejam cada vez mais mistos, porque uma das maiores diferenças entre esportes e eSports é que este último está crescendo em uma época em que o preconceito de gênero, ainda muito forte no esporte, está sendo cada vez mais mitigado, fortalecendo-se em uma base mais igualitária. Então, ao invés de continuar reproduzindo os antigos modelos do esporte, podemos ver no mercado do eSports a possibilidade de não repetir os estereótipos do passado.
Em conclusão, o eSports vem ocupando uma posição de destaque crescente no mercado com perspectivas fantásticas, não apenas do ponto de vista econômico, mas também para a própria comunidade gamer, democratizando os videogames e trazendo a possibilidade de quebrar paradigmas e preconceitos do passado. Dentro das possibilidades que este novo mercado vem trazendo, o mais importante é ter o sincero objetivo de fomentar e fazer crescer o cenário com uma visão de longo prazo e não cair na tentação do oportunismo. O gamer faz parte de uma comunidade muita engajada e exigente, que somente se comprometerá com aqueles que querem trazer um valor maior para o mercado. E isso vai garantir desenvolvimento, profissionalização e alcance para os talentos do segmento, levando adiante a maior revolução da indústria dos games nos últimos 40 anos.
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