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Opinião

E-sports para todos

Tão ou mais profissional quanto os outros esportes, a modalidade movimenta milhões de dólares, cativa a audiência e cresce entre os fãs de todas as partes do mundo


28 de fevereiro de 2019 - 14h10

 

(crédito: reprodução)

Nos últimos dias, o universo dos e-sports recebeu com surpresa e repúdio as declarações de Marion Kaplan, conselheira do Flamengo, que se mostrou totalmente contra os esportes eletrônicos. As ofensas ao time de League Of Legends da própria instituição foram feitas com palavras fortes, rotulando os jogadores de “nerds e autistas”. Vale lembrar que o próprio Flamengo já se manifestou dizendo que não compactua com o que foi dito por ela.

Entretanto, esse episódio serve como oportunidade para a abertura de uma reflexão importante, principalmente para aqueles que ainda não têm dimensão do que esse segmento representa nos dias de hoje. É preciso conhecer um pouco mais sobre esse mercado, que movimenta milhões de dólares pelo mundo e que já mudou a vida de tantas pessoas.

Apesar do preconceito escancarado, prefiro acreditar que essas pessoas que não reconhecem os esportes eletrônicos como esporte ou rotulam de “nerds” aqueles que vivem dessa profissão não têm as informações necessárias.

Nós, que fazemos parte da Associação Brasileira de Clubes de e-sports, sabemos o quanto é trabalhoso, mas ao mesmo tempo prazeroso, ver o crescimento desse cenário com o passar dos anos. Conhecemos de perto a rotina e sabemos a quantidade de pessoas sérias que dedicam 100% de suas carreiras a esse meio. A Associação foi criada em 2016 justamente com esse objetivo: profissionalizar cada vez mais o cenário.

Para os que “só ouviram falar” de e-sports, esse universo pode ser visto como uma brincadeira ou simplesmente ser resumido na frase: “Jovens que ganham a vida jogando videogame”. Mas os esportes eletrônicos são muito mais do que isso. Como qualquer outra profissão, eles exigem paixão, seriedade, dedicação, comprometimento, treino, habilidade, preparação mental e física. Parece que ao falarmos dessas exigências estamos nos referindo aos esportes tradicionais, né? Mas por que, na hora em que falamos de e-sports, isso não é tão reconhecido?

As pessoas que compactuam com o que foi dito pela conselheira não devem saber o quanto esses jogadores profissionais são sérios e dedicados. Não devem saber o quanto de esforço, responsabilidade e comprometimento eles têm. Não devem imaginar o que já conquistaram por meio dessas modalidades.

O mercado está crescendo exponencialmente, envolvendo inúmeras áreas. Fechar os olhos para isso ou não reconhecer o mérito de quem faz parte desse universo é inaceitável

Devem desconhecer toda a estrutura profissional que há por trás dessa rotina, com centros de treinamentos modernos que viram as casas desses atletas com toda a base e conforto necessário. Não devem saber que existem grandes empresas desenvolvedoras de jogos, patrocinadoras, investidoras, managers, donos de times, advogados, jornalistas, que pensam com tanto cuidado nesse cenário. Psicólogo, fisioterapeuta, nutricionista? Não devem nem ter ideia desse acompanhamento diário. E o regime de trabalho? Será que todos sabem que os e-sports no Brasil hoje são regidos pela Lei Pelé, a mesma usada em contratos de jogadores de futebol? Esses “Pro Players” possuem vínculos empregatícios com os clubes e organizações que defendem.

Os números que esse cenário movimenta também são reveladores. Só no Brasil temos 20 milhões de fãs de e-sports, tornando o país o terceiro com maior público cativo do mundo, de acordo com a Newzoo. Este ano, globalmente, o mercado chegará a movimentar bilhões de dólares. O público global crescerá para 453,8 milhões, continuando a atrair também a atenção de grandes empresas, que deverão investir 456,7 milhões de dólares em patrocínios. Aqui no Brasil, o cenário já tem despertado o interesse de grandes marcas não endêmicas que enxergam o grande potencial e oportunidade que têm em falar diretamente com esse público altamente engajado. NET, Burger King, Gilette, Vivo, Oi, Netshoes, Monster e Coca-Cola são alguns exemplos.

Ainda segundo a pesquisa da Newzoo, agência especializada em análises de games e e-sports, o crescimento contínuo do cenário e sua popularidade vão fazer com que mais atletas do segmento sejam destaque em campanhas de marketing nacionais e internacionais em 2019. Em 2018, um exemplo notável:  a estrela do League of Legends, Uzi, apareceu ao lado da lenda do basquete LeBron James na campanha “Drible &” da Nike, na China.

Tantos fatos e números não podem deixar de ser levados a sério ou serem resumidos em declarações preconceituosas. O mercado está crescendo exponencialmente, envolvendo inúmeras áreas. Fechar os olhos para isso ou não reconhecer o mérito de quem faz parte desse universo é inaceitável.

Os e-sports estão aí para todos: homens, mulheres, adultos, jovens, de diferentes idades, cores e etnias. É importante ressaltar que eles não chegaram para tirar ou invadir o espaço de nenhuma modalidade esportiva. Eles vieram para somar. E quem quiser conhecer mais sobre eles e discutir para agregar é muito bem-vindo, pode chegar !

*Crédito da foto no topo: Reprodução

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