Eu vou escalar o Everest
Como quero alcançar um sonho extraordinário e o percurso para isso se transformou em aprendizado para várias áreas da vida
Como quero alcançar um sonho extraordinário e o percurso para isso se transformou em aprendizado para várias áreas da vida
Em abril, vou enfrentar o maior desafio da minha vida: escalar o Everest. Sei que parece impossível, mas há oito anos decidi me juntar ao grupo de 500 mulheres que já conseguiram isso. Decidi fazer parte de algo extraordinário. Tudo começou em 2015, com uma viagem ao Tibete que transformou a minha vida. Fui fazer um passeio na base da montanha que mexeu muito com minha cabeça. Na hora que vi as pessoas se preparando para a rocha majestosa, soube que queria subir o Everest.
Até aquele momento, era uma completa novata no universo da escalada; nunca tinha subido uma montanha e, sinceramente, não fazia ideia de como começar. Ao voltar para casa, mergulhei de cabeça nos estudos sobre alpinismo, determinada a transformar essa nova paixão em realidade. Minha mente estava borbulhando e me vi tomada por uma ideia: escalar os “Sete Cumes”, as montanhas mais altas de cada continente.
De repente, tudo ficou claro, e eu sabia exatamente o que queria. Essa definição foi crucial na jornada, um aprendizado pra várias áreas da vida. Nada extraordinário se alcança sem foco. O alpinismo exige não apenas preparo físico e técnico, mas também um forte compromisso pessoal. Em nome dos treinos intensos, abri mão de férias com os amigos, de descanso, de compromissos sociais. São escolhas muito difíceis, que não se sustentam com simples inércia. Ter os Sete Cumes como um alvo maior me ajudou muito a perseverar em momentos difíceis. A claridade do meu sonho foi, em muitos momentos, o que me fez não desistir e ficar determinada.
Ao mesmo tempo, quando comecei externalizar esse sonho, tive reações de espanto. “Porque você quer fazer isso, Bel? Como você vai fazer isso? Você é pequena demais. Você não vai conseguir”. É óbvio que tinha frio na barriga e um medo natural, mas isso aumentou exponencialmente ao ser alimentado pelas opiniões duvidosas. No mar de desencorajamento, algumas vozes se levantaram para me apoiar. Meu pai e meu marido foram os primeiros a falarem o quanto me achavam capaz e forte. Eles sabiam que eu pensava diferente. Disseram-me que qualquer coisa que eu me propusesse a fazer, iria conseguir. Aos poucos, comecei a me enxergar pelos olhos deles.
Também tive dois chefes que, ao contar a eles o plano, disseram que não era uma ideia louca. Era um sonho admirável! Eles ajudariam a remover barreiras para fazer meu sonho acontecer. Com isso, percebi o quanto as pessoas à sua volta podem te ajudar a transformar sua mentalidade. Em vez de pensar nas limitações que tinha me colocado, eu passei a pensar que “eu posso, eu quero, eu vou fazer”. Nada extraordinário acontece no entorno de opiniões ordinárias. Quem você escolhe para estar ao seu lado é tão importante quanto o que você quer alcançar.
Escolhi, então, por onde começar: o Kilimanjaro, na África. Com preparação, a subida fluiu bem. Ali percebi que levava jeito. A paz que se sente na montanha é incrível, com uma caminhada gradual para que o corpo vá se aclimatando. Devagar, se chega longe. A sensação de conquistar esse cume foi maravilhosa. Ganhei confiança, o que foi muito importante para que eu me mantivesse engajada. Cada pequeno ganho vai retroalimentando a mente, e dando força para seguir. Nada extraordinário se alcança do dia para a noite. Precisamos celebrar cada vitória para chegar até o objetivo final.
Claro que, na montanha, as adversidades são numerosas. Tenho muitos aprendizados, que ficam para um próximo texto. Houve momentos em que mal conseguia me mover e fiquei presa em uma barraca por três dias durante uma tempestade. Enfrentei temperaturas de -40 graus na Antártida e uma queda de mais de cinco metros em uma fenda no Alasca. Cada evento testou meus limites físicos e mentais. O que me fez seguir a jornada é realmente alcançar algo extraordinário. Nada extraordinário se conquista sem foco, sem apoio e sem confiança. Oito anos depois, subi seis dos sete cumes mais altos do mundo. Em breve, espero estar no topo mais extraordinário de todos.
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