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Fake news ou real ads?

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Opinião

Fake news ou real ads?

Num mundo onde as notícias são inventadas e os anúncios precisam ser “reais” para não serem atacados, será que não haveria espaço para jornalista jornalista e publicitário publicitário?


10 de outubro de 2017 - 10h49

Na semana passada, li aqui no Meio & Mensagem a entrevista de Sebastian Tomich, vice-presidente sênior de publicidade e inovação do The New York Times. Como assinante daquele jornal na versão digital, fiquei surpreso em saber que eles possuem agências de publicidade para realizar trabalhos direto com os anunciantes. O branded content. E que, em alguns anos a receita dessa área será a metade do faturamento da publicação.

Claro que sei que este é um movimento comum atualmente e a dificuldade em fechar as contas para manter um jornal. É difícil realmente. Mas é que o NYT é o NYT né? Ou era.

Hoje um dos temas que mais ameaçam a democracia ocidental e que está no alerta do inconsciente coletivo do mundo é o das fake news. Os Estados Unidos tiveram comprovadamente as eleições alteradas pelas notícias falsas. O presidente americano cria sua própria realidade e as pessoas que são impactadas por sua audiência, via Twitter por exemplo, levam em consideração a sua versão dos fatos. É como se fôssemos colocados dentro do mito da torre de babel pela tecnologia das redes sociais. E a gente não sabe como sair dessa.

Nunca o mundo precisou tanto de jornalismo sério, isento e autossuficiente. A gente aprende na escola que a democracia depende da divisão clara de papéis. A separação de jornalismo e publicidade sempre foi uma questão de fundamento da democracia. Fiquei pensando alguns desdobramentos possíveis com a mistura desses papéis.

1. A luta dos jornais para ser/ter também uma agência de publicidade não lhes toma atenção e energia para fazer jornalismo relevante? O “furo” não seria a razão de ser dos jornais? Pulitzers ou GPs em Cannes? Afinal, a gente assina o jornal para quê?

2. Credibilidade num mundo babelesco como vivemos não aumentaria o valor das assinaturas?

3. Fazer só jornalismo e mais nada não seria um diferencial?

4. Será que o leitor não vai pensar duas vezes se está no meio de um “branded content” em vez de uma matéria séria?

5. Qual seria a posição do jornal, acaso um anunciante importante precisasse ser investigado pelo jornal? (Veja só. Não seria apenas a receita publicitária que o jornal perderia, que seria substituída por outra. Mas também a criação, fees, etc. Poderia abalar a saúde financeira da empresa, gerar demissões… como seria?

6. Se sou de uma indústria que precisa de apoio público, como do setor armamentista ou químico, por exemplo, não entregaria a conta ou faria projetos de branded content com esses veículos? Ou esses jornais com agências não aceitam contas assim?

E mais algumas questões por outro lado.

7. E se as agências de publicidade comprassem emissoras e jornais? A credibilidade estaria de qual lado? Dos jornais com agências ou das agências com jornais? Haveria algum conflito?

8. E se os institutos de pesquisa fizessem notícias? Ou também passassem a criar publicidade e noticiar a informação?

9. Num mundo aonde as notícias são inventadas e os anúncios precisam ser “reais” para não serem atacados, será que não haveria espaço para jornalista jornalista e publicitário publicitário?

Entendo que a sobrevivência financeira é um desafio real das publicações e não sei dizer qual é a solução para isso, mas fiquei pensando também que em algum lugar um garoto recém-formado em jornalismo, apaixonado pela profissão esteja pensando assim: e se eu criasse um jornal que só se concentrasse no jornalismo, e nada mais?

A essência vende.

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