Feito é melhor do que perfeito?
Entre as siglas amadas pelos marketeiros o MVP conquistou destaque, mas o problema é quando a cultura do “mínimo viável” vira um estilo de gestão permanente
Entre as siglas amadas pelos marketeiros o MVP conquistou destaque, mas o problema é quando a cultura do “mínimo viável” vira um estilo de gestão permanente
Marketeiros adoram siglas e expressões em inglês. Marketeiros digitais gostam ainda mais. CAC, LTV, CTA, MQL, ROAS são algumas das mais usadas. Mas uma delas ganhou especial atenção ultimamente: MVP. Essa é a abreviação da expressão traduzida como “mínimo produto viável”.
Vivemos na era do “rápido e barato”. O mundo das startups nos ensinou a lançar produtos inacabados, testar com clientes e melhorar ao longo do caminho. O tal do MVP. A lógica por trás disso é óbvia: antes de investir rios de dinheiro e tempo em algo que pode fracassar, melhor testar.
Fazer protótipos é algo que faz parte da nossa história antropológica. Desde os primórdios, os seres humanos sempre testaram e aperfeiçoaram ferramentas, técnicas e conceitos antes de adotá-los de forma definitiva. Esse processo de tentativa e erro foi essencial para a sobrevivência, permitindo o desenvolvimento de utensílios mais eficientes, abrigo mais seguro e estratégias de caça e cultivo mais eficazes.
Mas o problema começa quando a cultura do “mínimo viável” vira um estilo de gestão permanente. Quando empresas confundem um rascunho com um modelo de negócio definitivo.
Oferecer uma versão incompleta de um produto ou uma alternativa ultrabásica de um serviço para os clientes pode ser uma boa forma de aprender, mas essa não pode ser a sua proposta de valor no longo prazo. Se seu cliente perceber que sua empresa sempre entrega o mínimo necessário, que percepção ele terá da sua marca?
Imagine que você quer ter uma locadora de automóveis online. Você monta um aplicativo caseiro, coloca um jovem inexperiente para fazer tudo na operação e oferece apenas duas unidades de veículos. Tudo bem, afinal, você está testando o modelo. Mas agora imagine que cinco anos depois, sua locadora continua nesse mesmo esquema. A verdade é que você ainda está operando no MVP!
O mesmo vale para qualquer negócio. Se você está vendendo um curso online, pode começar com vídeos simples gravados no celular. Mas, se anos depois você ainda não investiu em melhor qualidade, em uma plataforma mais amigável e em um suporte de excelência, você não está criando uma marca de verdade. Você está eternamente testando algo que já deveria ter evoluído.
Na fase inicial, o cliente aceita a “versão beta” porque sabe que faz parte do processo. Mas, na sequência, certamente a expectativa é de que os degraus comecem a subir. As grandes marcas não constroem lealdade entregando o mínimo. Elas surpreendem. Elas encantam. Elas investem na experiência. Se o iPhone fosse sempre um MVP, estaríamos até hoje usando um celular tosco, sem tela de retina, sem câmeras incríveis e sem inovação. Se o Uber fosse sempre um MVP, os motoristas ainda receberiam pagamentos manuais, o app não teria navegação integrada, e ninguém sentiria segurança na plataforma.
Muita gente teme abandonar o MVP porque acha que isso significa perder a agilidade e o espírito de startup. Mas dá para crescer sem perder a essência. Ninguém está esperando a perfeição, mas a evolução.
MVP bom é MVP que dura pouco e se transforma logo em algo que viabiliza clientes satisfeitos de verdade. Seus consumidores sentem essa evolução, acompanham as mudanças e estão dispostos a recompensar as melhorias que os beneficiam. Toda empresa de sucesso começou com um MVP, mas nenhuma delas se manteve nele.
Muita gente coloca a preocupação em iniciar rápido acima de tudo. Concordo que é importante testar logo. Ninguém precisa esperar o produto ideal para começar a pegar feedbacks do mercado. Mas, fazer rápido somente vale a pena se isso vier com a clara intenção de aprimorar na mesma velocidade. Na disputa entre o feito e o perfeito, o que funciona melhor é o bem-feito.
Compartilhe
Veja também
Sejam pessoas curiosas
É o tempo certo para isso; os idiotas estão repletos de certezas
Quando a diversidade se torna produto, o verdadeiro progresso fica para trás
Se a equidade de gênero é um valor essencial, então ela precisa estar presente nas decisões diárias, nas políticas internas e na forma como o talento feminino é reconhecido e promovido