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Feliz 50 anos, Intel. Você está bem parecida com a Kodak

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Opinião

Feliz 50 anos, Intel. Você está bem parecida com a Kodak

A fabricante de chips favorita do Vale do Silício fez um gol contra com smartphones. Se ela também errar com os carros elétricos, pode ser um adeus


25 de setembro de 2018 - 15h47

“Sou facilmente trinta centímetros maior que Andy Grove, mas sempre que estive com ele, sentia como se ele fosse um gigante.” Foi isso que o professor Clayton Christensen, da Harvard Business School, escreveu sobre o antigo CEO da Intel quando ele morreu, em 2017. Christensen, que criou o termo “tecnologia disruptiva”, afirmou que o que ele mais sentiria falta do executivo era a capacidade de entender como uma organização complexa funciona, e transformar isso em uma vantagem para a Intel.

 

Crédito: wellesenterprises/iStock

Isso permitiu que Grove, que entrou na empresa em julho de 1968, quando ela foi incorporada, pudesse reorientar o negócio nos anos 1980. A Intel saiu dos cartões de memória de computadores para seguir em direção aos microprocessadores – o motor que entra em ação quando você liga seu computador.

Alavancado por um acordo com a IBM para colocar o processador Intel em todos os computadores da companhia, a empresa passou a fornecer ao Vale do Silício uma de suas tecnologias mais essenciais. O Intel Inside com seu jingle se tornou uma das propagandas mais memoráveis da era moderna.

Mesmo após cinco décadas de liderança, nenhuma outra empresa no mundo é capaz de produzir microprocessadores melhores ou mais rápidos. A Intel está em seu auge em uma indústria que consegue construir milagres como nenhuma outra. Nós temos a tendência de buscar inovação como algo incerto, particularmente quando é muito dependente do avanço causado por cientistas. Mesmo assim, a Intel pode ser qualquer coisa, menos ambígua. Ela tem lançado sucessivas melhorias em seus processadores de forma constante.

Em 1965, o futuro co-fundador, Gordon Moore, realizou uma previsão ousada sobre o crescimento exponencial do poder de computadores. Ele previu que o número de transistores em um microchip instalados em uma mesma área de um processador dobraria a cada dois anos – e, portanto, também dobraria a capacidade do computador. Desde então, a Intel entregou essa promessa improvável, imortalizando a “Lei de Moore”.

É difícil para qualquer pessoa conseguir entender o efeito do crescimento exponencial. Mas é por isso que um iPhone hoje tem muito mais poder de processamento do que a espaçonave inteira da Nasa que chegou à lua em 1969. Sem a lei de Moore, não haveria Google, Facebook, Uber e Airbnb. O vale do Silício seria como qualquer outro vale.

O grande erro
Mesmo assim, o iPhone foi, também, o que a Intel perdeu. Logo após a companhia conquistar a conta de Macs, em 2005, Steve Jobs pediu outro chip para seu smartphone. Certamente a Intel quis dominar esse mercado emergente, mas o preço que Jobs ofereceu era abaixo do custo esperado de produção e a Intel julgou errado o tamanho do mercado que o iPhone iria conquistar. Eles deixaram passar.

A Apple não teve outra escolha senão construir seu próprio chipset, licenciando tecnologias da ARM, uma companhia britânica controlada por ativos japoneses. Se a Apple com seu iPhone tivessem sido os únicos competidores, a Intel talvez pudesse ter se adaptado gradualmente. Mas o Google chegou logo depois com o Android, um sistema operacional grátis que Samsung, Huawei e HTC adotaram. Qualcomm, Nvidia e Texas Instruments, todas licenciadas pela ARM, se tornaram as favoritas das fabricantes de celular quando o assunto era eficiência energética e baixo custo.

Essas rivais americanas não estão tentando vencer a Intel. A Qualcomm se especializou em celulares e a Nvidia em gráficos de vídeo games. Todas terceirizam sua produção com empresas asiáticas. Mas um microprocessador da Intel é vendido por cerca de cem dólares, enquanto um chip da ARM é vendido por cerca de dez dólares. Às vezes, menos que um dólar. Dessa forma que os conceitos e designs da ARM conseguiram alcançar mais de 95% dos smartphones do mundo atualmente.

Em outras palavras, a Intel falhou ao não entrar na competição por smartphones contra àqueles com muito menos recurso. É tudo uma grande ironia quando refletimos que Grove uma vez convidou Christensen para a sede da Intel, em Santa Clara, Califórnia, para explicar a ele a teoria da disrupção.

A corrida pelo ouro
Agora, a questão principal é se a Intel repetirá o erro dos iPhones – agora com carros autônomos. Em março ela comprou a Mobileye, uma companhia israelense que produz tecnologia de visão digital, por US$ 15,3 bilhões. Foi uma aposta grande em um setor com muito potencial: conforme a direção autônoma decolar, veículos se tornaram computadores de rodas. Eles precisaram de mais e mais microchips e a Intel espera dominar o setor.

Exceto por um problema. Tudo que a Intel tem feito nos últimos 50 anos é voltado a chipsets de uso generalizado, de alta performance. Seu modelo integrado – onde a companhia desenha e produz os processadores – significa absorver uma enorme quantidade de custo fixo, em pesquisa e design tanto quanto na produção.

A única forma de se dar bem com esses custos é vender em larga escala com margens de lucro altas. O resultado disso é que a companhia é obcecada por progresso tecnológico, mas tem um modelo de negócio rígido que limita o que ela pode ou não fazer. Há um monstro dentro da Intel com um apetite feroz.

Mas e se a direção autônoma não precisar do poder de processamento que a Intel está contando? Essa é a visão da Huawei. Quando eu visitei Shenzhen, executivos da telecom chinesa explicaram que boa parte da infraestrutura da cidade será digitalizada e que a Huawei irá saturar ela com uma rede 5G. Isso reduzirá drasticamente qualquer problema de latência ou velocidade em computadores.

Isso significa que a computação dentro de carros pode ser transferida à infraestrutura da cidade. Isso em uma visão radical, mas claramente viável. A implicação disso é que a BMW e a Toyota não precisam de tantos chipsets de alta performance no fim das contas. É a questão do smartphone mais uma vez.

O insight de Christensen foi que companhias de sucesso morrem não porque são complacentes com a mudança. Kodad, Polaroid, Blockbuster e DEC entenderam a mudança no cenário. Entretanto, em cada um desses casos, o modelo de negócio e a demanda de acionistas formou um ambiente rebelde que mesmo os executivos mais corajosos encontraram dificuldade em navegar. Uma vez Grove disse: “somente os paranoicos sobrevivem”. Talvez ele estivesse certo.

 

*Crédito da imagem no topo: ktsimage/iStock

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