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Opinião

Férias digitais 3 e o conceito de “Infobesity”

Quantos de nós hoje em dia não estamos “gordos” e “sedentários” ao recebermos esta avalanche diária de informações?


17 de janeiro de 2018 - 8h00

Novamente, tive a oportunidade de descansar por duas semanas na praia, pois a empresa onde trabalho adota o formato de férias coletivas entre Natal e Ano Novo. Já está virando uma tradição esta minha vontade de ficar totalmente off-line nesse período festivo.

A cada férias, maior o número de interações digitais “perdidas”. (Crédito: SXC/Freeimages)

Desta vez, desliguei  meu celular dia 27 de dezembro e só retornei a ligá-lo no dia 7 de janeiro, quando voltei da praia. Uau! Estamos ficando cada vez mais dependentes do nosso mundo digital. Explico. Quando me desliguei pelo mesmo número de dias entre 2016/2017 eu já tinha notado um aumento de 73% das “interações digitais” (qualquer movimento digital nas minhas contas de mídias sociais/email) para 2.849 (versus 1.641 no período 2015/2016). Ao fazer a minha contabilidade digital no período deste ano verifiquei que as interações digitais aumentaram exponencialmente. Somente um dos 48 grupos de WhatsApp do qual estou participando tinha 1.801 mensagens (texto e/ou vídeos). No total, em todos os grupos do WhatsApp, likes no Facebook, likes e solicitações no Instagram, likes e solicitações no LinkedIn, e-mail – corporativo e pessoal – o número total de “interações digitais” foi 5.612. Mais 96% em relação ao mesmo período do ano passado. Aonde estas conexões digitais nos levarão?

Nos anos anteriores já escrevi aqui sobre o conceito de “Liberdade Online”, ou seja, já consigo ver que no futuro pagaremos para ficarmos livres das interações digitais por um período. Tipo um detox digital sabe? Já me expressei sobre a validade de sermos “mais conectados” ou escolhermos ser “mais alienados”, dependendo do momento. Agora vou falar sobre outra ideia: Infobesity.

Durante estas férias, li o sensacional livro do Andrew Esses “The End of Advertising”, que foi publicado nos Estados Unidos em junho de 2017. De uma forma direta e, às vezes, sarcástica o autor aborda vários temas e conceitos bem interessantes. A “extinção” do negócio de propaganda intrusiva (sim meus amigos o fim de um negócio de US$ 600 bilhões mundialmente), implicações e crises a partir do momento que as pessoas tiveram acesso a bloqueadores de propaganda (ad-blocking), mas o conceito que achei mais intrigante foi o de INFOBESITY.

Quantos de nós hoje em dia não estamos “gordos” e “sedentários” ao recebermos esta avalanche diária de informações, fake news incluídas? Será que estamos perdendo a nossa capacidade de sermos curiosos em busca de informações porque estas “aparecem” nos nossos dispositivos digitais como se fossem “pragas”? Quanto tempo dos nossos dias estamos dedicando às “interações digitais”? No meu caso, se eu tivesse dedicado 30 segundos em média a cada uma destas interações quanto tempo das minhas férias eu teria perdido? Quantos vídeos ou mensagens foram (ou são) realmente importantes nas nossas vidas? Será que porque deixei de ver aquele vídeo do esquilo que foi morto pelo gato meus amigos me chamariam de alienado? Se não deu like naquele post do amigo ele ficou bravo? Enfim, ainda é cedo para analisarmos o impacto deste mundo digital no comportamento das pessoas, afinal, a menos de 20 anos nada disso existia. Será que vai existir a carreira de antropólogo digital no futuro para analisar estes impactos? Tomara….

Não quero aqui passar a imagem do tiozinho que vive em um mundo analógico, que lê jornal impresso em papel todos os dias ou que ainda tem uma coleção de CDs em casa, pois me considero até que bem ativo neste novo mundo digital (escutei horas de playlists criadas com o clima de verão no Spotify…) mas gostaria realmente de entender como esta conexão está ajudando ou atrapalhando as nossas vidas. Ou o Andrew Essex está certo? Infobesity será uma doença e ainda não percebemos isso? Quanto é muito? Quanto é necessário? Bom eu já estou pronto para 2018 pois meus dez dias de dieta digital me permitiram fazer esta análise sem culpa. E você conhece algum nutricionista com especialização em Infobesity?

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