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11 de junho de 2024 - 6h00

Os algoritmos, essas entidades quase místicas da era digital, são a espinha dorsal das redes sociais, moldando silenciosamente nossas experiências online. Eles determinam não apenas o que vemos, mas também como interagimos com o conteúdo e uns com os outros no vasto oceano digital. A evolução desses algoritmos, desde a simples exibição cronológica até a sofisticada curadoria de conteúdo, reflete uma busca incessante por uma experiência de usuário otimizada, mas também levanta questões sobre o impacto dessas tecnologias em nosso comportamento e bem-estar. Estaríamos viciados em vídeos curtos? Essa é uma das perguntas que circula por aí.

No início, as redes sociais eram como um livro aberto, onde cada página seguia a outra em uma ordem lógica e previsível. Por volta de 2010, no entanto, essa narrativa começou a mudar. As plataformas, buscando engajar mais profundamente os usuários, começaram a implementar algoritmos de curadoria, transformando a timeline em um fluxo personalizado de conteúdo. Hoje, plataformas como Instagram e TikTok vão além, sugerindo conteúdos e conexões baseadas em um complexo entendimento de nossas preferências.

A preocupação de que os algoritmos possam nos viciar em um ciclo sem fim de consumo de conteúdo é real. No entanto, é importante reconhecer que, apesar de os algoritmos serem projetados para manter os usuários engajados, a intenção original não era criar dependência. As plataformas investem em algoritmos de curadoria para garantir que o conteúdo apresentado ressoe com os interesses do usuário, mas o efeito colateral dessa hiperpersonalização pode ser um engajamento excessivo, por vezes prejudicial.

Além disso, a tendência dos vídeos curtos merece uma análise especial. Esses conteúdos, projetados para serem consumidos rapidamente, atendem à nossa crescente demanda por gratificação instantânea. No entanto, eles também podem minar nossa capacidade de concentração e apreciação de experiências mais longas e significativas. A vida real, com suas nuances e complexidades, não pode ser acelerada como um vídeo. Essa discrepância entre a velocidade do conteúdo digital e o ritmo da vida real pode ter implicações profundas para nossa memória, capacidade de aprendizado e bem-estar geral.

No lugar de um educador, destaco a importância da responsabilidade dos publicitários e criadores de conteúdo, especialmente na criação dos tais vídeos curtos. Eles enfrentam o desafio de capturar a atenção do público em segundos, mas também devem se preocupar em transmitir mensagens que sejam éticas, autênticas e que promovam valores positivos. Nos tempos atuais, a eficácia de uma campanha publicitária ou de um vídeo “viral” não se mede apenas pelo engajamento ou vendas geradas, mas também pelo impacto positivo na percepção da marca e no bem-estar dos consumidores. Portanto, a criação de conteúdo transcende a estratégia de marketing, tornando-se também um exercício de responsabilidade social.

Nas pessoas que passam pela minha sala de aula, costumo incentivar o olhar crítico e um uso consciente das redes sociais. Enquanto navegamos pelas águas turbulentas das redes sociais, guiados pelos algoritmos que determinam nossa jornada digital, é crucial manter a consciência de como essas tecnologias influenciam nosso comportamento e percepção do mundo. Ao fazer isso, podemos garantir que as redes sociais permaneçam ferramentas de enriquecimento e conexão, em vez de fontes de distração e desconexão.

Em um mundo que valoriza a velocidade acima de tudo, escolher conscientemente desacelerar é um ato de resistência.

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