Igualdade de gênero na prática
Como a mulher pode concorrer com o homem em igualdade de condições no ambiente corporativo
Como a mulher pode concorrer com o homem em igualdade de condições no ambiente corporativo
Esse é um tema que tem despertado o interesse tanto de empresas que desejam promover a equidade de gênero quanto de mulheres que no dia a dia se veem desafiadas a lutar por seus espaços. Afinal, desde criança somos levados a acreditar que nem tudo é para todos e que homens e mulheres têm funções diferentes e predefinidas que não podem ser modificadas. Acredito que não exista outra maneira de se chegar à igualdade de gênero se não for mudando a noção que temos sobre as competências das mulheres e seu papel na sociedade. E isso se dá através da educação. É preciso promover uma mudança cultural na sociedade indo além das imagens sociais da mulher como ‘cuidadora’ por exemplo ou dos homens de ‘provedor’, ‘herói’ ou ‘grande homem’.
Se as escolas e universidades contribuírem nessa formação teremos pessoas mais aptas e mais conscientes para promover a cultura da igualdade de gênero. Do ponto de vista familiar, é importante promover uma mudança de paradigmas para que a mulher não tenha a carreira prejudicada por engravidar, por entrar em licença-maternidade ou por ser a única responsável pelo filho quando ele fica doente. É fundamental abrir mais espaço para o protagonismo dos homens. Um pai também deve levar o filho ao médico e participar da reunião da escola. Se houver esse equilíbrio na família, as empresas também vão lidar com o fato de que o homem precisa eventualmente se ausentar para vivenciar a paternidade; e isso deixa de ser uma questão feminina. Historicamente existe uma visão de que os cargos de gestão combinam mais com características ditas masculinas, como rapidez de decisão, coragem, força e ambição.
As organizações precisam valorizar os atributos ditos femininos, como sensibilidade, flexibilidade, intuição, capacidade de trabalhar em equipe e administrar a adversidade, que são fundamentais para gerir e liderar equipes e trazer bons resultados para a empresa, qualquer que seja o ramo de atividade. Pesquisa realizada pelo IBGE aponta que as mulheres possuem nível de escolaridade superior ao dos homens, ocupam a maioria das vagas das universidades (55,1%) e são maioria também na conclusão do curso (58,8%). Em se tratando de pós-graduação, representam 53,5% dos mestres do país. No ramo de seguros, segundo pesquisa da Escola de Negócios e Seguros – ENS, 56% das mulheres têm nível superior. Ou seja, não falta qualificação. Mas ainda hoje existe o estigma de que mulheres em altos cargos chegaram à chefia por seu poder de sedução ou seus atributos físicos. As empresas precisam se esforçar para eliminar o preconceito, contratando funcionários com base na competência profissional. Homens ganham mais do que mulheres, ocupando os mesmos cargos e exercendo as mesmas funções. Em média, as mulheres da seguridade brasileira recebem 70% do salário dos homens, padrão que é bem mais grave em outros setores do Brasil. Um dos motivos é a ideia de que os homens são os provedores da casa.
Pesquisa realizada pelo Grupo Globo apontou que 48,7% dos domicílios brasileiros são chefiados por mulheres. Ainda assim, elas não se sentem confiantes para pedir aumento de salário. Para alcançar a igualdade salarial é preciso que todas as esferas da sociedade façam sua parte. As famílias precisam promover uma divisão igualitária de tarefas para que as mulheres pudessem ter a possibilidade de manter suas carreiras. Um maior número de empresas já deveria ter políticas organizacionais que contemplassem as necessidades das mulheres, como sala de amamentação, creches conveniadas, licença parental, entre outras. E o governo implementando um maior número de creches e tornando lei a licença-maternidade compartilhada, por exemplo, o que permitiria às mulheres mais dedicação à sua vida profissional. Homens precisam compartilhar as tarefas de casa com as mulheres. Não raro vemos a expressão “ajudar nas tarefas”. Se o homem acha que “ajuda” a mulher com as tarefas de casa, ele está pressupondo que a obrigação é dela, quando, na verdade, a responsabilidade por cuidar da casa é de todos que moram nela. Isso é comum nos EUA e Europa, mas no Brasil temos grande dificuldade pela cultura machista que vem se perpetuando. Homens, mulheres e até mesmo idosos ou crianças devem fazer a sua parte para manter a casa limpa e organizada. Se todos colaborarem, não fica pesado para ninguém, e a mulher poderá se dedicar à carreira com mais tranquilidade. A maternidade ainda é uma das principais causas da saída da mulher do mercado de trabalho.
Especialmente após a pandemia, muitas mulheres, não tendo mais a ajuda de secretárias do lar ou babás, optaram por deixar os seus empregos para cuidar dos filhos. A legislação brasileira contribui para esse cenário concedendo aos pais o direito a apenas cinco dias de licença-paternidade, enquanto as mães podem tirar até quatro meses de licença. Isso já impõe às mães a responsabilidade pela criação dos filhos. O ideal seria que a lei garantisse uma licença compartilhada. Mesmo com a ampla participação feminina no mercado de trabalho – e no mercado de seguros elas são 55% segundo estudo da Escola de Negócios e Seguros – ENS, as mulheres ainda enfrentam discriminação e dificuldades para se manter no emprego e crescer profissionalmente. Algumas ações que as empresas precisam promover para que a mulher concorra com o homem em igualdade de condições são:
1. Garantia da Paridade Salarial – contratação e promoções com salários iguais para cargos iguais, independentemente de gênero. É importante garantir que nenhuma mulher ganhe menos do que um homem fazendo o mesmo trabalho na empresa.
2. Criação de um Programa de Liderança Feminina – programas específicos para o desenvolvimento de lideranças femininas; assegurar que metade dos futuros líderes da empresa em treinamento sejam mulheres.
3. Oferecer creche ou auxílio-creche – Essa é uma das formas mais eficientes de promover a igualdade de gênero na empresa: pensar nas mães na hora de formular as políticas de benefícios.
4. Tomar medidas contra o assédio – O assédio sexual é um problema que afeta diretamente as mulheres e ameaça sua permanência e evolução no emprego. As empresas precisam ter um canal de denúncias eficiente e políticas de enfrentamento que preservem a vítima e afastem o agressor. Ter políticas internas para combater a discriminação, o assédio moral e sexual e a violência contra a mulher. Importante também criar campanhas internas de conscientização para tornar o combate ao assédio parte da cultura organizacional.
5. Flexibilidade – Oferecer horários flexíveis e opções de home office parcial ou integral permitindo que as mulheres, e principalmente as mães, consigam conciliar melhor a vida pessoal com a vida profissional, sem prejudicar nenhuma das duas.
6. Promover mudanças no Processo de Recrutamento e Seleção – Muitos recrutadores possuem vieses inconscientes que consideram as mulheres menos aptas para funções que exigem maior racionalidade e pensamento estratégico, por exemplo. Outros discriminam mães com filhos pequenos ou mulheres que pretendam engravidar por conta dos supostos prejuízos à empresa com licença-maternidade ou saídas no horário comercial por causa de emergências com as crianças. É preciso fazer um recrutamento justo por competências e experiência e sem diferenciação por gênero.
7. Ouvidoria – Proporcionar um ambiente que permita à mulher liberdade e segurança para expor suas ideias, necessidades e problemas que esteja enfrentando, sabendo que serão acolhidas e não punidas ou discriminadas por isso. Praticar a escuta ativa, ouvindo atentamente as opiniões e necessidades, garantindo mudança e melhoria dos problemas expostos. O fim dessa disparidade parece distante.
De acordo com relatório do Fórum Econômico Mundial, o Brasil ocupa a 79ª posição no ranking mundial de desigualdade de gênero no mercado de trabalho. Neste ritmo, as brasileiras levarão 95 anos para atingir a igualdade. Aplicando com foco e acompanhamento constante essas ações, poderemos, quem sabe, diminuir a distância entre o sonho e a realidade de termos a tão esperada equidade de gênero.
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