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Opinião

Ilha deserta? A publicidade brasileira é um baile funk bombando

Que lindo seria se os publicitários da antiga geração estimulassem os novos líderes criativos


19 de agosto de 2019 - 15h40

É o fim de uma era. É a morte da criatividade. É o maior apocalipse de todos os tempos. Não, não é. O genial Fábio, o elegante Marcello, o pop star Olivetto e o estratégico Júlio deixaram a propaganda, e tudo continuará a ser como era antes. Ou melhor: nada será como era antes.

Pois o mundo mudou, e ninguém mais quer que ele fique preso ao que antes funcionava. Escrevo este texto para elogiar também a jovem geração de CEOs e/ou donos criativos contemporâneos, como o Gordilho, o João e, para acrescentar, o Anselmo, o Edu Lima, o Luiz Sanches, o John, o Jahara, o Guga Kertz, o Simões, o Kassu, o Marcão, o Carlão, a Márcia Esteves, o Hugo Veiga, o Diego Machado, o Passamani e mais alguns profissionais brilhantes em ascensão, como o Saulo, a Andrea Siqueira, o Adriano Matos, o Donato, a Keka, a Laura Esteves, a Marilu, o Rafael Urenha, entre outros que já quebraram e estão quebrando a internet a cada campanha que lançam, independentemente do canal de mídia utilizado. Caso você não seja dessa geração ou não tenha intimidade com os novos meios, Google neles. Se eu for listar as campanhas memoráveis aqui, vai acabar o espaço do artigo.

Acho uma maldade quem desaparece do mercado, em que se moldou, bater nos que ficam e, consequentemente, nos grandes CMOs e anunciantes que aprovam os ótimos trabalhos que nós fazemos hoje. Ou é por falta de conhecimento ou é pura vaidade travestida de condolências.

Certa vez, fui filmar em Hollywood para um dos meus clientes, com um astro de cinema (vencedor de alguns Oscars) e ele me disse: “Eu não saberia fazer o que os atores jovens de hoje fazem.” Fiquei embasbacado com a humildade e a capacidade de um verdadeiro gênio ao transferir para a próxima geração os seus louros. Isso é proteger a indústria que você tanto ama e que é tão importante para a sociedade. Nós, a meninada criativa, graças a Cronos, temos muito o que aprender com os precursores realmente generosos.

Sim, nós somos apaixonados, livres, socialmente comprometidos e estamos fazendo a nova e efervescente propaganda tropical. Sim, nós estamos nos divertindo, produzindo aquilo que é consumido de forma inovadora, rentável, clusterizada, que emociona as pessoas, inclusive nossas mães, e gera resultado para as marcas. Muito resultado. Nós estamos colados nos clientes, vivendo as dores deles, sejam eles internacionais ou não, falando a mesma língua, voando na pista fumegante chamada Brasil sem a menor dificuldade para sermos nós mesmos. Nossa geração não tem crise existencial, é muito bem resolvida com seu toque de bola. O grupo em que eu atuo, por exemplo, me dá as condições básicas para inovar, pensar em estratégias, correr risco e criar sempre o melhor, como qualquer empresa internacional operando no Brasil. Isso se chama globalização. E quem não vendeu sua empresa a um grande grupo que atire o primeiro artigo incoerente. Aprendi, nesses dois anos como presidente executivo, a entender as metas de cada mês e, claro, não humilhar as pessoas por causa delas. Assim, trabalhando com garra e todo o respeito, tenho certeza de que compreendo melhor também as metas mensais dos meus clientes. As condições conjunturais do mercado estão, sim, favoráveis: basta transparência nas negociações.

Quem não encontra nada de bom na TV ou no digital, provavelmente está qualificado num target de mídia bem conservador. Principalmente se você é daqueles que ainda usam os termos “TV” e “digital”. É o maravilhoso efeito otimizador das audiências avançadas.

Não estou arrasado com a saída do Fábio da F/Nazca. Ele apenas deixou a empresa que vendeu, não se aposentou nem deixou a existência do planeta. Fábio está vivíssimo e tenho certeza de que um cara incomparável como ele voltará a empreender no segmento da comunicação, se assim o desejar, e fará diferente de novo. Fábio é icônico e maior que um CNPJ.

Mas, por fim, só existe uma coisa que me enfada mais do que a velha guarda da música, do futebol, da siderurgia, da propaganda criticando quem ainda está bombando na ativa: essa obsessão de usar a falsa tristeza da saída de concorrentes como escada para revender paradigmas que não se encaixam mais no nosso mercado. E, só para terminar essa deliciosa verborragia, Caetano e Gil, vocês para mim são exemplos de arte e inspiração, não gatilho para uma estranha autorreferência. Portanto, jovens talentos da geração Z, acreditem: a publicidade hoje é incrível, e nossa profissão é fenomenal. Agora chega desse assunto e bora inovar, que tem job bom na mesa e os clientes precisam da nossa criatividade para vender.

*Crédito da imagem no topo: erhui1979 – iStock

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