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Opinião

Importância do storytelling dos executivos pós-pandemia

O storytelling não está baseado, como muitos dizem, num marketing externo para convencer os outros, gerando uma motivação momentânea


14 de julho de 2021 - 8h00

Gabriel tem 45 anos e é o jovem CEO de uma reconhecida companhia internacional. Nas suas muitas apresentações em público não conseguia ser aquele speaker que motiva e faz as pessoas pensarem. Uma pessoa agradável e inteligente, porém, a narrativa dele não encaixava.

O storytelling profundo está ligado a autoconhecimento (Crédito: Ra2studio/istock)

Um dia, pedi para ele que falasse para mim da sua infância. Ele começou a falar sem parar. Uma história melhor que a outra. Ali estava tudo. A mística que ele desejava passar para a sua equipe: a dificuldade de uma família de origem de classe baixa com pais sem diploma de ensino superior, o esforço constante pelo estudo, o foco para ter um objetivo claro. Tudo.

Gabriel nunca tinha reparado que falar da sua complexa experiência como criança poderia fazer sentido para os outros. Ele foi se transformando num orador profundo.

O Storytelling não está baseado, como muitos dizem, num marketing externo para convencer os outros, gerando uma motivação momentânea. Não se trata de ser os chefes da torcida.

O Storytelling profundo está ligado com o nosso autoconhecimento das dores e alegrias que atravessamos e com a habilidade para reconhecer que, na nossa vida, há histórias que nos marcaram e que podem ser poderosas para os outros. Merecem ser contadas.

Muitos executivos, quando dão entrevistas para a mídia, tendem a ser estruturados demais e repetir uma fita K7, uma coisa brega em tempos onde a diversidade ganha espaços e onde se sair da caixa, produz curiosidade e impacto.

Contar a própria história de um jeito que comova aos outros é uma habilidade central nos executivos, em especial depois da pandemia. A gente foi rodeada pela morte que nos visitou, e a morte é uma grande pergunta sobre a vida.

Temos muitas histórias próximas para compartilhar: o escritório que invadiu nossas famílias, a virtualidade cansativa, a solidariedade que foi se gerando entre as pessoas. Nos invadiu a empatia.

Atravessar uma situação crítica, quando ela é bem refletida e aproveitada, é sempre significativo. Nos momentos de maior dificuldade nosso organismo produz cortisol, o hormônio do estresse. O mesmo que secretamos quando assistimos a uma série de suspense que nos inquieta. Somos pegos pela história.

É possível contar histórias numa reunião de trabalho e produzir a mesma reação na audiência, estabelecendo uma conexão profunda e duradoura (porque, quando nos emocionamos, lembramos exponencialmente os eventos e os dados envolvidos).

A pandemia foi um choque de cortisol em nossos corpos e em nossos estados de ânimo.

Esse choque pode e tem que ser utilizado para criar histórias concretas nas companhias. Histórias que consigam mostrar os rostos daqueles que fazem parte delas e que deixaram tudo por continuar trabalhando. Vendo seus filhos também cansados pela virtualidade escolar ou sofrendo a impossibilidade de estar com seus avós.

Passamos por uma situação totalmente anormal. Foram e ainda são muitas as mudanças e incertezas que vivemos nesses últimos catorze meses. Ainda precisamos compartilhar o que aprendemos e o que se transformou em nós. Isso é o que fazemos os seres humanos desde que habitamos a terra: compartilhar nossas histórias ao redor do fogo.

Boas histórias!

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