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Opinião

Interseccionalidade como oportunidade

Não queremos nos limitar a épocas específicas do ano, mas enquanto o mercado não se comunica genuinamente com a diversidade, efemérides seguem importantíssimas


18 de julho de 2023 - 6h00

Ainda falta intencionalidade nesse diálogo, que não deve ser subestimada (Crédito: Divulgação)

“Devagar e sempre”. Esse é o famoso ditado popular conhecido por representar a fórmula do sucesso. Porém, para certas empresas, o “sempre” pode ser substituído por “raramente”, quando o assunto é a inclusão de criadores LGBTQIAPN+. O sexto mês do ano vira uma verdadeira festa junina para criadores da comunidade. Mas, como diz também outro ditado, “acabou o milho, acabou a pipoca”. Ou melhor: acabou junho, acabou a visibilidade.

“Pra que esperar até novembro para contratar uma pessoa preta? Se adianta, boba! Já leva um gay e um preto ao mesmo tempo”, brinca o influenciador e DJ Mirands, em uma esquete de humor publicada em seu Instagram (https://www.instagram.com/p/CthMxACr9wc/).

No vídeo, que foi postado no início de junho, ele ironiza a relação real de creators negros com muitas marcas, chamando-as para – supresa! -, contratar a publicidade de criadores pretos fora do mês da Consciência Negra. Além disso, faz piada com as intenções sazonais dessas empresas, que assinam com pessoas da comunidade LGBTQIAPN+ em junho, “apoiam o lacre”, mas esta fonte seca assim que julho começa.

Findo mais um mês do Orgulho, a piada faz ainda mais sentido, mas desce amarga.

Costumo falar, sempre que posso, sobre a importância de as marcas olharem para esses influenciadores não apenas nas datas comemorativas referentes a eles. Ao mesmo tempo, a realidade é que ocasiões como os meses do Orgulho, da Consciência Negra e da Visibilidade PCD representam, muitas vezes, as únicas oportunidades de destaque para muitos criadores serem visibilizados.

Ou seja, vivemos um paradoxo. Não queremos estar limitados a épocas específicas do ano. Mas, enquanto o mercado não absorver a importância de comunicar-se, genuinamente, com a diversidade, as efemérides seguem importantíssimas para esses influenciadores se manterem na ativa (aqui, com “mercado”, me refiro não apenas às marcas, mas às agências e seus times de criação).

Um estudo divulgado em julho de 2022 pelo Instituto Locomotiva descobriu que as chamadas minorias sociais (mulheres, negros, portadores de deficiência e os LGBTQIA+) respondem por R$ 72 de cada R$ 100 gastos no mercado consumidor brasileiro. Falando especificamente sobre mulheres e pessoas negras, são cerca de 4 trilhões mensais anualmente.

Fica claro que é pouco estratégico concentrar os esforços em comunicar-se com a diversidade apenas uma vez ou outra, quando essas pessoas são consumidoras importantes durante todo o ano. Ainda falta intencionalidade nesse diálogo, que não deve ser subestimada.

A creator economy tem possibilidades diversas e amplas no Brasil. Mas não aproveitaremos esse potencial em toda a sua força até que entendamos, como mercado, a importância de discursos diversos e constantes. Enquanto a profissão de criador ainda for tão mais árida para pessoas LGBTQIAPN+, pretas e com deficiências, ainda estaremos deixando lacunas nesse diálogo com o público.

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