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Opinião

Jogo das cores

Copa do Mundo do Catar expõe choques culturais, gera tensão nos comitês de crises das marcas aliadas ao evento e abre possibilidade de ressignificação na relação dos brasileiros com os símbolos nacionais


16 de novembro de 2022 - 10h22

Sete semanas de incertezas nos separam do fim do intenso ano de 2022. Dois focos de atenção no período para os brasileiros são a transição no governo federal (além das trocas nos estados em que não houve reeleição) e a Copa do Mundo. Como é habitual em diversos momentos da história do País, novamente as esferas política e futebolística se cruzam e influenciam a economia, os negócios, a confiança dos mercados e o estado de espírito da população — o que também se reflete no consumo.

No campo governamental, as oscilações dependem de fatores que vão desde a postura do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (como mostraram os nervos do mercado financeiro na semana passada) até as reações do atual ocupante do cargo, Jair Bolsonaro (em fase reclusa desde o segundo turno), e poderão ser amenizadas com a escalação do ministério e de outros postos-chave pelo futuro governo. Para os gramados, a seleção já está convocada, mas o desenrolar dos negócios atrelados à Copa ainda depende de algumas variáveis. A principal delas é o próprio desempenho do Brasil “dentro das quatro linhas”, mas há um deserto de dúvidas em relação a fatos que poderão ocorrer no Catar.

Não bastassem os ineditismos do torneio no último trimestre e sua realização pela primeira vez no Oriente Médio, restrições do país-sede, como o fato de a homossexualidade ser considerada crime, expõem o choque cultural com outras regiões do planeta e impõem sinal amarelo para as marcas que estão aliadas à Copa e às 32 seleções participantes. Alguns times previam manifestações contrárias, mas, na semana passada, a Federação Internacional de Futebol (Fifa) jogou areia nas boas intenções, ao proibir a Dinamarca de treinar com camisas que estampassem mensagens de defesa dos direitos humanos.

O desenrolar da Copa ainda implica em gestões de crises corporativas que envolvem comportamentos específicos da população brasileira e vão desde aspectos práticos, como o impacto dos expedientes reduzidos em dias de jogos no trabalho e no consumo — justamente nas épocas de Black Friday e Natal —, até questões mais comportamentais, como a relação das pessoas com as cores que tradicionalmente embasam a torcida nacional. O momento de tensão nessa relação foi aferido este ano pela pesquisa Branding Brasil, realizada pela agência Ana Couto, que ouviu 2,5 mil pessoas de todo o País para investigar a conexão emocional dos brasileiros com a imagem do País e com os símbolos nacionais — da bandeira à seleção. O estudo aponta que a maioria (58%) sente saudades de usar algo com as cores do Brasil.

Este ponto afeta também as estratégias das marcas, que em épocas de Copa costumam ressaltar o aspecto de união nacional em torno de um objetivo comum, o que fica mais difícil em um cenário de polarização ideológica. Ainda mais quando os usos da camisa da seleção e da bandeira brasileira passaram a ser associados a apoio ao bolsonarismo e a manifestações antidemocráticas. Há quem enxergue a Copa como um bom momento para ressignificação dos símbolos nacionais — empreitada que também depende do engajamento, narrativas e posicionamentos das marcas em suas ações de comunicação. A própria Confederação Brasileira de Futebol (CBF) puxou a fila, na semana passada, com filme que procura dissociar o uniforme da seleção da questão política. Ao usar a música Tão bem, de Lulu Santos, busca mostrar que todos podem se sentir bem com a camisa amarela.

Para analisar e debater temas como esses, estreia nesta semana, com a reportagem de Taís Farias, nas páginas 42 e 44, e seguirá sendo publicado nas próximas, o especial Negócios da Copa, com o qual Meio & Mensagem consolidará sua cobertura do mundial que ocupará espaços também em outras plataformas, como o site e as redes sociais. Nas edições semanais, os focos serão os impactos do evento nas indústrias de comunicação, marketing e mídia. Nas próximas sete semanas, a torcida, além de mirar o hexa, será para algo que hoje parece utopia: que torneios globais como a Copa e trocas de governos sejam momentos de competição sadia e pacífica nos campos das atividades intelectuais e físicas, que ditam a evolução da espécie humana.

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