Jornais reduzem formato para sobreviver
The Guardian vai às bancas na segunda-feira, dia 15 de janeiro, em formato tabloide. Não se trata de nenhuma estratégia de melhorar o produto, mas de poupar dinheiro
The Guardian vai às bancas na segunda-feira, dia 15 de janeiro, em formato tabloide. Não se trata de nenhuma estratégia de melhorar o produto, mas de poupar dinheiro
O ótimo jornal inglês The Guardian vai às bancas na segunda-feira, dia 15 de janeiro, em formato tabloide. Não se trata de nenhuma estratégia de melhorar o produto, mas de poupar dinheiro, como admite a CEO Katherine Viner. “Preferimos economizar em processos industriais do que em jornalismo”, observou. O Guardian abandonou o formato standard em 2005, adotando o berliner – intermediário – alegando que queria ser moderno e estar em linha como a linguagem digital (uma balela). Agora vai mais fundo, em um caminho sem volta.
The Guardian é, talvez, o melhor jornal do Reino Unido. Famoso entre tantas reportagens premiadas por revelar o sistema global de vigilância armado pela NSA (leia-se Edward Snowden), pelo qual ganhou vários prêmios entre eles o Pulitzer de 2014, pratica jornalismo sério e competente. Mas passa por uma crise, como tantos jornais do mundo. Chega a pedir doações aos leitores que frequentam seu site.
O Brasil, porém, parece outro planeta. Os três maiores jornais do país são standard (Folha de S. Paulo, O Globo e O Estado de S. Paulo). Também adotam o mesmo formato desconfortável líderes locais como o Correio Braziliense, O Estado de Minas, O Povo e A Tarde, para citar só alguns. E até o falecido Jornal do Brasil, que acaba de anunciar a ressurreição, sairá do túmulo standard. Verdade que o papel, por ser uma commodity, está em um momento de bom preço. Mas hoje em dia é difícil justificar que a seriedade está atrelada ao formato do jornal, como antigamente.
Na contramão anda a imprensa do Sul, como Zero Hora e Diário Catarinense. E alguns exemplos de ex-standards que se renderam aos formatos mais compactos e econômicos, poupando um bom punhado de reais, como O Popular e Correio da Bahia. Na Argentina, o tradicional La Nación é tabloide de segunda a sexta. E standard no fim de semana. Em Portugal todos são tabloides, exceto o Expresso – um semanário berliner. Na Espanha também o tabloide é o preferido. Já nos Estados Unidos os tradicionais The New York Times e The Washington Post acabam influenciando o mercado os líderes locais seguem a tendência de jornais grandes.
Formato de jornal é uma discussão antiga. Quando os jornais ingleses pagavam impostos pelo número de páginas, convencionou-se a publicar enormes páginas, para pagar menos. Uma decisão, portanto, econômica. Depois as rotativas foram sendo criadas respeitando o padrão estabelecido: standard. Por isso a predominância dos jornalões. Mas quando alguém se deu conta que uma enorme página standard poderia de transformar em duas tabloide e que a facilidade de se ler em um formato compacto é inquestionável (experimente em um avião ou ônibus), a imprensa começou a mudar.
A economia do The Guardian é ainda maior. Com a mudança de formato a empresa vai desativar o centro de produção – a rotativa. Como isso desaparecem 50 postos de trabalho. Foco na produção de conteúdo, não na impressão de papel. A quantidade de páginas não será aumentada significativamente – para garantir a economia. E para não reduzir o inventário de anúncios, The Guardian há muito que utiliza o sistema de venda de módulos – e não de centímetros x coluna, como muitos brasileiros ainda insistem. Com isso, não haverá queda de receita ao alterar o tamanho das páginas.
Ou será que um anunciante de TV paga mais por um telespectador com uma TV de 52 polegadas do que aquele que assiste em 14 polegadas?
Boa sorte, The Guardian.
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