Leiam antes que mude tudo
Alguma coisa que está aqui hoje, muito bem obrigada, sendo a última tecnologia do pacote de dados, pode morrer amanhã. É, não existe inovação sem tentativa e erro, sem fazer. Sempre sob o risco de falhar
Alguma coisa que está aqui hoje, muito bem obrigada, sendo a última tecnologia do pacote de dados, pode morrer amanhã. É, não existe inovação sem tentativa e erro, sem fazer. Sempre sob o risco de falhar
26 de novembro de 2018 - 17h30
Minha filha de 11 anos tem dificuldade em acreditar, mas quando eu era adolescente não existia celular. Ha ha ha. Nem nada que hoje existe dentro dele, como computador, câmera, WhatsApp, Messenger, Facebook, Instagram e por aí vai. Mãe, como vocês viviam? O telefone era fixo e quando alguém já estava falando com alguém, o telefone dava um sinal chatinho de ocupado! Tan tan tan tan.
A gente se comunicava em casa por meio de bilhetes. Quem saísse tinha de deixar escrito pra onde foi, com quem foi e a que horas voltava. Era toda segurança que existia tanto dos filhos em relação aos pais, quanto dos pais em relação aos filhos. A minha geração viu coisas incríveis aparecerem e mudarem em tudo. E, pasmem, também as vimos desaparecerem e tudo mudar novamente.
Recentemente eu assisti a dois documentários sobre coisas que chacoalharam o mundo, e o meu mundo, quando eu era adolescente: a Tower Records, era o templo da música dos anos 1980 nos Estados Unidos e, para quem podia ir do Brasil aos Estados Unidos, era uma experiência imperdível. Nessa época pré-celular e pré-CD, quando a MTV era sobre música, a Tower chegou a faturar US$ 1 bilhão. Mas pediu para sair do play em 2006.
O documentário All Things Must Pass – The rise and Fall of Tower Records, de 2015, conta como essa genial rede de lojas do visionário Russ Solomon chegou ao fim. Dirigido pelo ator Colin Hanks, filho de Tom Hanks, o filme tem trilha sonora de Elton John e Bruce Springsteen, meus ídolos quando eu tinha 16 anos e fazia intercâmbio em Colorado Springs, no Colorado.
Conto isso porque foi lá que conheci o Atari (no Brasil o jogo mais eletrônico que chegou na minha casa tinha sido o Genius, à pilha). Em 1986, o Atari era febre aqui, mas nos EUA já estava sendo engolido por jogos mais famintos que o Pac-Man. E essa história do Atari, criado pelo pré-Vale do Silício, Nolan Bushnell — ou não só por ele — é contada no documentário Atari, Game-Over, de 2014, dirigido por Zak Penn.
Duas histórias que eu vi acontecer e que contam como alguma coisa que está aqui hoje, muito bem obrigada, sendo a última tecnologia do pacote de dados, pode morrer amanhã. Assistam. É um jeito delicioso de lembrar onde foi o início das startups, dos bilionários de camisetas, das incubadoras, dos unicórnios e da visão de que é preciso fazer grande, revolucionar, mesmo que também se cometam grandes erros no caminho. É, não existe inovação sem tentativa e erro, sem fazer. Sempre sob o risco de falhar.
Em um país em crise, errar não vem sendo uma opção. E quem mais sofre com isso é a grande ideia, que acaba sendo preterida pela ideia “Safe”. Melhor fazer o que já se sabe que funciona. Mesmo que já não funcione lá essas coisas. Uma escolha arriscada, já que a nova economia é totalmente pautada pelas inovações. Não se pegam mais táxi sem aplicativo, aliás o táxi teve de se reinventar por causa do Uber. O desktop ficou enorme e desconfortável com o celular virando nossa mão direita, esquerda e cérebro. O WhatsApp acelerou os novos pequenos negócios de serviços, a manicure, o salão de cabeleireiro. Até namoro hoje é por aplicativo.
Mas é importante lembrar que até para fazer os Minimum Viable Products (MVP) das startups, exigem o mínimo de valor, como está no seu nome. E estão aí duas coisas que rareiam quando falamos em tirar do papel uma grande ideia: tempo e investimento. Por isso, mesmo com o avanço digital, não se enganem, estamos ficando para trás. Nossa inteligência artificial ainda precisa estudar muito, não temos home-assistants que falem com a gente, não pagamos com a wallet do celular.
Na era das experiências, da interatividade não ter acesso à tecnologia e a investimentos é diminuir as chances de as ideias se concretizarem, mesmo sendo o brasileiro um povo supercriativo e inovador. E parece que não estou sozinha nessa opinião, já que cada vez mais empresas pelo mundo estão aproveitando que a economia anda fraca por aqui, para levar grandes talentos das mais diversas áreas.
Mas, é principalmente quando falta investimento que precisamos fazer escolhas mais corajosas. Uma grande ideia ainda salva tudo? Pode salvar, mas ela nunca será grande sem investimento para produção, sem tempo para execução. Grandes ideias, quando são desenvolvidas, geram valor, mas antes precisam de investimento para serem grandes. E quem não souber escolher onde investir será seguidor em um mundo onde cada vez mais é preciso ser seguido para crescer.
Compartilhe
Veja também