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Opinião

Logos em série: quando a identidade de marca se perde na multidão

O fascínio em relação às potencialidades do avanço tecnológico soa mais religioso que racional, mais cultural que lógico


10 de fevereiro de 2025 - 6h00

Tudo igual. A padronização dos logotipos ameaça diluir o caráter único das marcas. À medida que mais empresas aderem a essa tendência, é essencial questionar: estamos diante de inovação ou simplesmente preguiça disfarçada de minimalismo?

A homogeneização dos logos é uma tendência alarmante, transformando marcas previamente distintas em meros reflexos umas das outras. Nos últimos anos, a pressão por modernidade e adaptação digital levou muitas empresas a optar por simplificações extremas, sacrificando singularidade no altar da conformidade. Os defensores da simplicidade argumentam que logos minimalistas são mais adaptáveis em plataformas digitais e suas telas pequeninas. Essa passividade perante a tirania da tecnologia no fundo postula que os meios digitais assumiram um status quase religioso na indústria contemporânea, com os indivíduos imbuindo-a de poderes transformadores semelhantes aos de uma divindade. Estamos testemunhando o surgimento de uma estética que busca reforçar a noção de tecnologia como uma força mágica ou aura de mística. Esse fascínio em relação às potencialidades do avanço tecnológico que as organizações contemporâneas parecem ser capazes de fornecer soa mais religioso que racional, mais cultural que lógico.

Nossos cérebros preferem simplicidade, é verdade. Padrões básicos em vez de designs detalhados, é verdade. Círculos em vez de polígonos, é verdade. Linhas retas em vez de curvas. Menos cores em vez de mais. As empresas estão lentamente fazendo a transição de seus logotipos para essas preferências. O objetivo de um logotipo é múltiplo, mas a premissa é que ele deve ser facilmente reconhecível e se destacar do ruído. BINGO. É aí que reside o absurdo: o ruído não existe mais se todos são iguais, então, a lógica da simplificação vai na contramão de tudo que uma marca precisa: diferenciação e identidade própria. Por que alguém se uniria à paisagem?

A abordagem de simplificação frequentemente reduz o impacto visual e emocional. Um logo já tentou contar histórias e transmitir alguma essência (muitas vezes de forma incompetente, é fato), mas se tornar uma anotação genérica dentro de um identificador algorítmico é triste demais, não?

Já sabemos como a falta de diferenciação impacta negativamente a lealdade dos consumidores. Quando todos os logos se tornam indistinguíveis, a conexão emocional entre marca e consumidor se esvai.
Embora o desejo de acompanhar tendências seja compreensível, é essencial lembrar que a força de uma marca reside em sua individualidade. Já conhecemos o truque dos setores de moda e tecnologia: a necessidade de se reinventar constantemente e parecer moderno em vez de datado. O mundo da moda vive de tendências, e não deveríamos nos surpreender quando suas marcas as seguem. Essa pressão por modernidade, entretanto, também pode levar à superficialidade, em que a essência é sacrificada em nome de uma “aparência fresca”. Num trocadilho infame, será que não seria mais prudente preservar seu patrimônio visual e resistir às modas passageiras ?

Investir em design ousado e inovador pode ser a salvação para marcas sufocadas por similaridade. Avaliar a história e os valores da empresa, e refletir isso em cada aspecto do design de marca, não apenas revitaliza a identidade visual, mas também fortalece o posicionamento no mercado. É fundamental que as marcas se lembrem de que os logos não são apenas símbolos; são potenciais embaixadores visuais da cultura e missão das empresas.

Enquanto a maré de logos homogêneos continua a crescer, a solução reside em reivindicar a individualidade que outrora definiu grandes marcas. Mais do que uma estética visual, a diversidade nos logos pode simbolizar a resistência e a expressão de marcas verdadeiramente icônicas. Vamos celebrar e comemorar quem não se rendeu a essa patifaria, como Coca-Cola, Disney, Harley-Davidson e Johnnie Walker. A Coca-Cola, com sua famosa caligrafia cursiva, mantém uma assinatura visual rica em história e emoção, longe dos padrões flat e minimalistas. A Disney preserva elementos icônicos, como o castelo e sua tipografia única, que evocam magia e narrativa, estabelecendo uma conexão emocional forte. Já a Harley-Davidson aposta em um logotipo robusto e complexo, representando sua herança e atitude rebelde, enquanto a Johnnie Walker utiliza o icônico “striding man” para demonstrar sua narrativa sobre progresso e qualidade. Nada disso pode ser reduzido para o canto inferior direito de um post de Instagram, mas e daí?

Para os designers gráficos, apoiaria que levantassem suas vozes e exigissem uma revolução no design de logos. Se a tendência de uniformidade continuar, o que nos aguarda é um futuro desolador, no qual o talento e a criatividade serão eclipsados pela mediocridade. Lutar pela originalidade não é apenas uma questão de estilo; é a sobrevivência profissional de todos os que se dedicam a transformar visões em identidades memoráveis.

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