25 de março de 2025 - 17h46
Durante o SXSW 2025, um marco importante foi anunciado: a criação da Associação Brasileira de Futuristas (ABFPro). Um movimento essencial para a consolidação e reconhecimento da atuação profissional daqueles que se dedicam a compreender e moldar os futuros. Mas, afinal, o que é um futurista?
Recentemente, no artigo “Cartomantes são mais confiáveis que futuristas”, Ian Black trouxe uma crítica contundente aos autointitulados futuristas, referindo-se a profissionais que vendem previsões mirabolantes como certezas, mais próximos de influenciadores do que de estrategistas organizacionais. Embora o ceticismo seja compreensível, essa crítica, por mais válida que seja, não pode colocar em xeque todo um campo de estudos e atuação que tem sido fundamental para empresas, governos e organizações.
O que é um futurista?
Em linhas gerais, um futurista é um profissional que atua nos campos de Estudos de Futuros e Foresight Estratégico. Embora cada área possua suas particularidades, ambas convergem em um princípio fundamental: o futuro não se prevê, ele se constrói. Se podemos entender os Estudos de Futuros como um campo acadêmico que analisa, de forma ampla e interdisciplinar, diferentes possibilidades – explorando desde a alfabetização de futuros até o mapeamento de sinais, tendências, incertezas e cenários –, a área de Foresight é a aplicação prática desse conhecimento, com ferramentas específicas que ajudam empresas e organizações a tomar decisões estratégicas mais robustas, se antecipando às mudanças e construindo caminhos desejáveis para o futuro.
O futurista, portanto, não é um adivinho, mas um estrategista. Quando atua com Foresight, ele auxilia organizações a identificar tendências, mapear riscos e desenvolver soluções adaptáveis para um mundo em constante transformação. Relação direta com inovação e lucratividade.
Mas, podemos questionar. Qual a relevância deste profissional? Diversos estudos comprovam que organizações que aplicam Foresight estruturado possuem vantagens competitivas claras.
Um estudo publicado na IEEE Engineering Management Review, no final de 2024, analisou 291 empresas varejistas no Peru e constatou que aquelas que utilizam Foresight de forma sistemática não apenas antecipam mudanças, mas também lideram a transformação digital e a inovação de modelos de negócio.
Já a pesquisa “Corporate Foresight and its Impact on Firm Performance”, publicada na Technological Forecasting & Social Change, acompanhou 83 empresas ao longo de sete anos e revelou que as organizações que adotam Foresight estruturado foram 33% mais lucrativas que a média do setor e apresentaram um crescimento três vezes maior na capitalização de mercado. Os pesquisadores notaram que as empresas que aplicaram Foresight estrategicamente tiveram 63% mais chances de estar entre as líderes do mercado, enquanto aquelas que negligenciaram essa prática corriam um risco 22% maior de cair para as piores posições. O que isso significa? Que o futuro pertence a quem se prepara para ele.
Se o desejo de prever o futuro pode ser perigoso quando conduzido de forma superficial, ignorar o Foresight estruturado é um erro ainda maior. O verdadeiro problema não está na antecipação de cenários, mas na forma como essa prática é utilizada.
Empresas e governos que incorporam a análise de futuros em seus processos decisórios não tentam adivinhar o amanhã – elas se preparam para diferentes possibilidades, gerenciam riscos e exploram oportunidades de forma proativa. O futuro não é um destino fixo, mas um território dinâmico de possibilidades.
Portanto, a crítica ao futurista superficial é necessária, mas confundi-la com o verdadeiro Foresight estratégico pode custar caro para organizações que precisam se preparar para um mundo cada vez mais incerto e complexo.
Para um futuro estratégico, inovador e sustentável, precisamos de futuristas preparados. O anúncio de uma associação de futuristas chega no momento certo, impulsionando a profissionalização dos Estudos de Futuros e do Foresight no Brasil.