Me engana que eu gosto
Muitas pessoas são facilmente ludibriadas e parte do problema é atribuída ao funcionamento do cérebro e sua tendência à economia de energia
Muitas pessoas são facilmente ludibriadas e parte do problema é atribuída ao funcionamento do cérebro e sua tendência à economia de energia
Todo dia, um desavisado e um malandro saem de casa. Quando eles se encontram, sai negócio.
Emagrecimento milagroso. Enriquecimento rápido. O segredo que as companhias aéreas não querem que você descubra. O curso de copy que faz quem nunca escreveu ganhar rios de dinheiro. A cura da impotência. Da calvície. A fórmula para ter milhões de seguidores no LinkedIn. Para ganhar dinheiro com o TikTok. A lista é grande.
Esses dias, maratonei Vinagre de Maçã na Netflix e fiquei com isso na cabeça. (Spoiler nem tão spoiler assim: envolve picaretagem). E lembrei de outra série: Inventando Anna. E lembrei da assombrosa história de Carlos Kaiser, um jogador que esteve em “atividade” (assim mesmo, entre aspas) por mais de 20 anos, passando por Flamengo, Fluminense, Vasco, Botafogo, Puebla do México e Independiente da Argentina — tudo isso com um pequeno detalhe: ele não sabia jogar bola. O mais assustador? Todas são histórias reais.
Mas por que é tão fácil enganar a gente? Segundo a neurociência, parte da culpa é do seu cérebro. Para economizar energia, usamos os tais dos gatilhos mentais. Eles nos ajudam a tomar decisões sem gastar muita energia. Mas também nos tornam mais suscetíveis a erros. Junte isso ao viés da confirmação, que faz a gente aceitar mais facilmente coisas que confirmam nossas crenças e ignorar evidências contrárias, e temos a cara do erro. Terra plana? Claro. Meu político preferido envolvido em escândalo? Nem pensar. Urnas adulteradas? Deve ser.
Tem uma frase atribuída a Mark Twain que explica: “É mais fácil enganar as pessoas do que convencê-las de que elas foram enganadas.”
Hoje, parece que vivemos uma reedição do clássico A Roupa Nova do Rei, de Hans Christian Andersen. Toda hora, alguém aparece com um novo tecido invisível que garante mais conversão, melhores resultados, insights insólitos e, por que não, um uso revolucionário da inteligência artificial (IA) no melhor estilo “seus problemas acabaram” da saudosa Organizações Tabajara. E pode notar: aqui, quanto mais complicado, melhor. Neologismos. Jargões. Explicações demasiadamente longas e desnecessariamente técnicas. Fórmulas complexas e até tabelas periódicas reinventadas. Porque, como na fábula, o importante não é vender um produto real, mas sim a sensação de que, sem ele, o cliente não enxerga o tecido mágico do sucesso.
Funciona? O Golpista do Tinder, o falso herdeiro da Gol, os keynotes cada vez mais longos e vazios e os complicadores do óbvio estão aí para provar que sim. Pelo menos por um tempo.
Abraham Lincoln disse que você pode enganar uma pessoa por muito tempo, algumas por algum tempo, mas não consegue enganar todas por todo o tempo.
Pode ser. O problema é que, do jeito que a coisa anda, quando o desavisado se dá conta de que foi enganado, o malandro já partiu para o próximo negócio.
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