Medo e medos
Quando as pessoas arriscam o novo, o diferente, são consideradas loucas, rebeldes, inconsequentes. Mas, quando dá certo, viram gênios, visionários e intrépidos
Quando as pessoas arriscam o novo, o diferente, são consideradas loucas, rebeldes, inconsequentes. Mas, quando dá certo, viram gênios, visionários e intrépidos
Medo:
Psicol. Estado afetivo suscitado pela consciência do perigo ou que, ao contrário, suscita essa consciência. “m. ao se sentir ameaçado”
Temor, ansiedade irracional ou fundamentada; receio.
Semelhante: covardia.
Coragem:
Moral forte perante o perigo, os riscos; bravura, intrepidez.
Firmeza de espírito para enfrentar situação emocional ou moralmente difícil. “armou-se de c. para rever o amigo moribundo”
Semelhante: arrojo, audácia, bravura.
Dois sentimentos antagônicos, mas que andam de mãos dadas, um não existe sem o outro. Embora me pareça injusto que a coragem seja sempre a dadivosa, e o medo, o envergonhado. Sempre fui muito medrosa. Meu apelido era “Preo”, de preocupação. Logo aprendi que ia ter que conviver com ele. E “ele” era “eles”, eram muitos medos. E eu precisava fazer com que eles andassem ao meu lado; nem atrás, para eu não me estrepar, nem na frente, para eu não paralisar.
Com o tempo, fui concluindo que medo é o Grilo Falante, é o Hardy do leão Lippy, é o resultado da pesquisa, é o advogado da agência. É para a gente ouvir, mas não necessariamente obedecer. É para ter ao lado, nunca na frente. Senão a gente não consegue ver a coragem ali na frente. Conheço muita gente corajosa. Em sua maioria, superinteligentes, curiosos e estudiosos. (Porque nem super-herói enfrenta o medo sem algum avião invisível, ou um cinto de utilidades, um escudinho básico de vibranium.)
Todos com quem conversei tiveram medo, noites sem dormir, dores de barriga, mas, mesmo assim, estudaram riscos, avaliaram perdas e ganhos, seguiram e fizeram coisas incríveis. Mulheres que assumiram cargos, homens que assumiram casas, pessoas que assumiram posições políticas ou sua sexualidade. Teve gente que eu vi assumir erros, fraquezas e também virtudes, quando muitas vezes isso é visto como contar vantagem. Gente com coragem de abrir empresas e gente com coragem de fechar.
A coragem não é coisa fácil de ser entendida, porque o medo vem do instinto animal de sobrevivência. Então, ele, às vezes, é visto só como “precaução”, “segurança”, “é assim mesmo”, “melhor um pássaro na mão do que dois voando”. Quando as pessoas arriscam o novo, o difícil para a maioria, o diferente, são consideradas loucas, rebeldes, inconsequentes. Mas, quando dá certo, quando mudam tudo e revolucionam, viram gênios, visionários e intrépidos. Hoje, a tecnologia e a inovação fazem parte de muitas das ideias que realmente impactam as pessoas.
A questão é que, como tudo que é novo, tem que testar, melhorar, testar novamente e, mesmo assim, problemas aparecerão no caminho. E haja Nexium, Neprazol, Pantoprazol, Omeprazol e reza forte. Justamente por isso, todo grande projeto só acontece a muitas mãos, com cliente e agência juntos acompanhando cada uma das vitórias ou das mudanças de rumo necessárias.
Essa nova cultura de decidir juntos a cada etapa e avaliar juntos os riscos é fundamental para que o medo seja um aliado, e não uma barreira. Olhando grandes campanhas de sucesso, é fácil ver várias fontes de dor de estômago. O que a gente quase não vê é como elas foram enfrentadas pelos clientes e agências. O “behind the scenes”, assim como o medo, é pouco valorizado no mundo lindo das redes sociais. Pena. Aprenderíamos mais rápido. A cultura do erro é valorizada em muitos países justamente porque já houve mais aprendizado. As chances de acerto aumentam. Sim, “é caro e nossa economia é capenga”.
Pronto, voltamos à escolha do seguro, do “safe”. É puxado, porque nunca vão faltar razões para voltar a ele. É preciso mostrar mais os resultados surpreendentes de quem venceu o medo e fez acontecer. E olhando agora, até a expressão “vencer o medo” coloca esse sentimento em um lugar injusto. Ele só é uma ameaça, só deixa paralisado, velho, para trás e assustado quem não sabe colocá-lo no lugar certo.
*Crédito da foto no topo: Tookapic/Pexels
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