Menos grife, mais escala
Megafusão entre Wunderman Thompson e VMLY&R prova que ainda há espaços para consolidações na indústria, motivadas por objetivos estratégicos, mas que não fogem da necessidade de rentabilizar as operações
Megafusão entre Wunderman Thompson e VMLY&R prova que ainda há espaços para consolidações na indústria, motivadas por objetivos estratégicos, mas que não fogem da necessidade de rentabilizar as operações
Independentemente das motivações estratégicas de cada caso, grandes fusões de agências de publicidade sempre envolvem planos de rentabilizar, o que inevitavelmente passa por providências doloridas, como cortes de custos, demissões e economia com ocupações imobiliárias.
A escolha das lideranças locais e a extensão dos cortes de pessoal são duas das principais incertezas que rodeiam, no Brasil, a fusão global entre Wunderman Thompson e VMLY&R, anunciada na semana passada pelo grupo WPP. Nos primeiros dias de negociações, o que se viu por aqui foi a disposição em acompanhar o passo das matrizes e ter a empresa local resultante da união operando a partir do início de janeiro. Para isso, os envolvidos sabem, haverá muito trabalho nas próximas semanas. Há várias sobreposições de cargos quando colocados lado a lado os organogramas das duas operações brasileiras, cujas estruturas praticamente se espelham. As equipes das agências somadas atingem quase mil pessoas — e é evidente que a operação resultante da fusão não manterá um time tão grande assim.
As opções feitas pelo WPP até o anúncio da megafusão apontam caminhos e humores da maior holding de agências do mundo. O CEO Mark Read deixou evidente em sua declaração a importância da escala: é nesse campo que a gigante VML vai jogar. Considerando dados do faturamento de 2022 compilados pelo Ad Age, a agência resultante da fusão somaria faturamento de US$ 4,1 bilhões e ganharia folga no topo das maiores networks de publicidade, ficando atrás apenas das grandes consultorias, que tomaram para si a liderança quando colocadas em uma mesma lista. Os números de Accenture Interactive, PwC Digital, Deloitte Digital e IBM iX, variam, nessa ordem, de US$ 12 bilhões a US$ 6 bilhões. Mas, no segundo pelotão, o das agências que têm na publicidade seu foco principal, a nova VML se distancia, à frente de Dentsu, McCann, Publicis Sapient e TBWA.
Outro aspecto relevante é o desapego a marcas ícones. O movimento anunciado na semana passada tira de cena, em uma só tacada, a Thompson, a Y&R e a Wunderman. Talvez nomes emblemáticos como esses não tenham mesmo hoje a importância que já tiveram para a publicidade no passado — curiosamente, a atividade que tem entre seus propósitos principais a construção de marcas fortes.
No fim das contas, a sobrevivente é a caçula VML, sua cultura, estilo de gestão e atuação, que fez a rede se destacar dentro da holding e, já em 2018, ter sobreposto sua marca à da Y&R, que era muito maior, na ocasião. Neste ponto, o discurso de Jon Cook, escolhido para CEO da operação resultante da fusão, é o mesmo que ele já mantinha no comando da VMLY&R: as bases de crescimento estão na combinação de brand experience, customer experience e commerce.
Cook é formado em jornalismo e fez carreira quase que exclusivamente na VML: em 1996 ele se juntou à agência de Kansas City, apenas quatro anos após sua fundação, quando a empresa ainda não passava de 30 funcionários. Sua defesa da importância de disciplinas como commerce encontra eco em ações do WPP no Brasil, onde a holding comprou no ano passado a Corebiz, adicionando-a ao grupo de empresas liderado pela VMLY&R.
Globalmente, a fusão e seu foco em áreas como commerce, experience e CRM são vistos também como resposta à queda de faturamento dos grupos globais com clientes de tecnologia. Entre as promessas que os anunciantes atendidos por Wunderman Thompson e VMLY&R ouvem estão as de que as decisões serão tomadas sempre com a perspectiva “client centric” e de que o movimento dará mais eficiência ao portfólio de serviços a eles ofertado.
As oportunidades abertas aos negócios em momentos como este provam que ainda há muito espaço para consolidações na indústria, e, evidentemente, motivam profecias e memes como o postado pela R/GA, do grupo Interpublic, na época das megafusões do WPP de 2018, mas que voltou ainda com mais razão agora: “O ano é 2078. Resta uma agência de publicidade: WPPublicisCom&IPGDentsuCorpCo”.
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