Meu tête-à-tête com a Kamala
Independentemente do resultado da eleição norte-americana, a trajetória da candidata democrata representa uma grande vitória para a realidade das mulheres
Independentemente do resultado da eleição norte-americana, a trajetória da candidata democrata representa uma grande vitória para a realidade das mulheres
Decifrados os sempre enigmáticos votos dos estados-pêndulos, sabemos que, desta vez, não deu para a democrata Kamala Harris.
Mas, independentemente do resultado da eleição norte-americana, considero que há, nesse processo, um fato que é incontestável: a trajetória de Kamala representa uma grande vitória para a realidade das mulheres.
Muito já se falou sobre o legado histórico que, ao disputar a presidência dos Estados Unidos, a vice-presidente deixa para todas nós, principalmente as que ocupamos espaços de liderança.
Sem entrarmos no perfil do cargo ou da função que cada uma exerce, acho que toda mulher gostaria de, num eventual tête-à-tête com Kamala, cumprimentá-la e parabenizá-la pela segurança e pela forma bem-articulada e convincente com a qual ela tem encarado seus desafios.
Eu, pelo menos, faria isso com o maior prazer.
E, de cara, já começaria dizendo que também admiro muito a mãe dela, que costumava dizer: “Kamala, você pode ser a primeira a fazer muitas coisas, mas faça tudo com a certeza de que você não será a última”.
Sob diferentes perspectivas, tudo também já se disse sobre os sentidos da participação de Kamala na disputa presidencial. Que ela agregou entusiasmo, interesse, frescor e até certa “leveza” às eleições. Que, como mulher negra e de ascendência indiana, definiu um marco ao quebrar barreiras em lugares historicamente dominados por homens.
Discussões ideológicas ou políticas à parte, gosto da assertividade que Kamala estabelece com sua presença, da elegância casual e da espontaneidade sob medida que ela mostrou para circular entre seus apoiadores e estimular a audiência, do tom empático com que se dirigiu ao público e aos eleitores. Mera construção de imagem, alguns dirão.
Pelo sim pelo não, gosto especialmente de que Kamala, em plena forma e vigor físicos aos 60 anos – completados no mês passado –, crie outros pontos de vista sobre o é que equidade, palavra muito citada quando se fala em desigualdades de gênero.
Simplificando um pouquinho, equidade significa dar às pessoas o que cada um – mulher ou homem, não importa – necessita para que todos tenham acesso às mesmas oportunidades.
No caso de Kamala, parece-me que ela tem se empenhado justamente nessa direção, a de se preparar cada vez mais para acessar oportunidades sempre desafiadoras. Isso é de um valor enorme e faz com que seus atributos profissionais sejam notáveis.
A experiência como vice-presidente, por exemplo, é uma qualidade e uma conquista que nenhuma outra mulher americana teve antes. A trajetória, sabemos todos, é valorosa, especialmente se falamos de carreira e trabalho.
Para estar perto do que poderia ser, nesse contexto eleitoral, o posto máximo de sua história profissional, Kamala automaticamente mudou, de um jeito irreversível, a forma como as mulheres ainda são vistas em algumas empresas e na sociedade de maneira geral.
O resto, incluindo o resultado das eleições, fica por conta da democracia e de uma história que não se muda da noite para o dia. Quando a atriz Julia Roberts aparece em um anúncio de TV dizendo para as mulheres que elas poderiam votar em Kamala sem que seus maridos ficassem sabendo disso, produziu-se, além de uma cena audiovisual rara e histórica, a certeza de que nada será como antes.
Meus sinceros cumprimentos a Kamala Harris.
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