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Opinião

Motivar ou empurrar, que verbo sua agência conjuga?

Transformar deve ser a principal vocação dos modelos de negócios que querem sair do limbo da mediocridade, alcançando um lugar ao sol no respeito e na admiração de marcas e pessoas — sentimentos escassos nas relações atuais


10 de agosto de 2016 - 9h00

Escuto e leio frequentemente que nossa profissão já foi mais sexy e interessante do que é hoje e não adianta tentar culpar a estagnação e retrocesso econômico, menos ainda se apoiar em outra muleta qualquer que nos coloque no que chamo de “zona de conforto do caos”. Em momentos como o que vivemos é importante romper, desconstruir e ousar. Verbos comuns na cultura de agências que se posicionam como agentes transformadores de marcas e de negócios. Transformar deve ser a principal vocação dos modelos de negócios que querem sair do limbo da mediocridade, alcançando um lugar ao sol no respeito e na admiração de marcas e pessoas — sentimentos escassos nas relações atuais.

Para isso, alguns aspectos são fundamentais, e começo falando do mais importante deles: gente. Nossa profissão é, talvez, a mais sensível a bons desafios ou à falta deles e o dia a dia apenas em tons de cinza corrompe profundamente a motivação de nossas equipes. Em nosso negócio, o tal salário emocional é tão ou mais importante do que a remuneração financeira. Saciar emocionalmente o bolso de nossos colaboradores está absolutamente atrelado a construir e a fazer parte de histórias incríveis, a trabalhar em um ambiente inspirador — sob uma liderança também inspiradora —, tendo ao seu lado profissionais com repertórios diferentes e ao mesmo tempo complementares ao seus.

Os mais inovadores modelos de negócio que conheço valorizam as pessoas mais do que o próprio ofício. Inovação tem profunda relação com a felicidade e o sentimento de “querer mais”. Este ano fui buscar em Cannes esta reflexão, me propondo a deixar o olhar para a criatividade em segundo plano e focar na observação de modelos de negócio de agências, que, não por acaso, realizam atualmente os trabalhos mais provocadores e disruptivos.

A principal constatação é que “atitude inovadora e de tomada de risco” devem partir da cultura da agência em primeiro lugar. Se o ambiente não transpirar a liberdade e principalmente encorajamento para ousar, não adianta criar o tal departamento de inovação/labs/startups… whatever.

Traçando um paralelo, recentemente Abel Reis disse ao Meio & Mensagem: “Se você precisa de uma área digital, está morto e não sabe.” Reforço aqui. Se você acha que vai gerar inovação deixando para um núcleo essa responsabilidade, o que está de fato procurando não é inovação e sim um culpado por não conseguir inovar.

Por sua vez Nick Law, vice-chairmain da R/ GA, foi taxativo ao afirmar que “a inovação vem de diferentes lugares e o maior impedimento para as agências inovarem é a sua própria cultura”. Desmistificando a inovação, e desde que a organização esteja voltada para ela como prioridade, será possível tê-la com frequência brotando de onde menos se espera e não apenas como um espasmo ou fenômeno isolado.

Como exemplo de um modelo de negócio phoda e vencedor cito aqui a Hakuhodo Inc. Na palestra em Cannes do CCO Masaru Kitakaze ficou claro a cultura de tomada de risco que a Hakuhodo tem, prototipando ideias em suas unidades de negócio como a Hakuhodo Institute of Activation Design, Institute of Shopper Insight e Innovation Lab & Innovation Design — vale à pena xeretar.

Outro exemplo interessante foi a conversa que tive com Al Moseley, presidente e CCO da 180 Amsterdam. Ele esclarece que desconstruir, experimentar, romper e dar estímulos ao risco são premissas que norteiam a agência na geração de projetos e campanhas e ainda complementou: “prototipar é um processo valioso e divino, quando você escolhe pensar verdadeiramente de forma disruptiva acaba criando história incríveis e atrai automaticamente o melhor tipo de clientes que você poderia ter”. O bônus em processos de busca do acerto pelo risco é proporcional e exponencialmente vantajoso pois uma hora você vai acertar e quando acertar vai acertar muito. E o fato é que quem não arrisca corre o risco mesmo assim, e o pior deles: o de não inovar e se reinventar.

O novo modelo de negócio de agências não se baseia em uma questão organizacional e sim de uma ousada mudança de mentalidade, na qual motivação será apenas uma consequência. Agências conduzidas como grandes indústrias, produzindo comunicação na esteira de montagem, perderão sua melhor matéria-prima: gente linda, elegante e sincera, que não topa mais esse tipo de relação em suas vidas.

Motivação no dicionário da comunicação tem um sinônimo: inovação. Enfim, para motivar seu time e construir um negócio admirável, permita-se cometer os erros antes que qualquer um no mundo.

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