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Opinião

Muito além dos KPIs

Como líderes inspiradores podem transformar métricas em significado, promovendo uma conexão emocional que transcende números


5 de novembro de 2024 - 6h00

A era do “science marketing” nos devolveu algumas certezas e a possibilidade de corrigir a rota durante o voo. Mas quando os KPIs se tornam um estilo de vida, outra tecnologia nativa embarcada pode estar em risco – a da liderança inspiradora. Jacques Lacan diria que os maiores líderes não são aqueles que falam bem ou que têm resposta embasada a partir dos KPIs mais sofisticados possíveis, mas aqueles que conseguem ouvir o que não foi dito pela equipe. É como acessar um superpoder de leitura de mentes.

A IBM realizou uma pesquisa recente com 1,7 mil CEOs em 64 países e inspirar o time está no top 3 das habilidades mais desejadas em líderes. Apenas para citar um dos personagens mais celebrados na última década pela comunidade global de marketing, Simon Sinek, que propagou a mensagem do Golden Circle; a dica é focar no “porquê” das coisas e gerar uma energia de “não me diga o que fazer, mas o motivo de estarmos fazendo isso”. O tal do propósito, palavra tão desgastada em nosso vocabulário marqueteiro, que no centro da discussão antecede qualquer KPI e estaciona a liderança inspiradora em um lugar onde contexto é liberdade.

Liderar pelo porquê é fazer o time se sentir parte de algo maior, que não necessariamente é novo, pelo contrário: tem a ver com nossa necessidade humana de pertencimento e de estar dedicado a algo cuja importância você entende perfeitamente. E isso vale para tudo, inclusive na escolha de nossos ídolos. O fenômeno pop Taylor Swift nos conta isso. Em seu álbum Reputation, Taylor apresentou uma razão de viver para milhares de fãs muito mais potente que seu estilo musical. O propósito central de Taylor Swift é contar histórias pessoais através da música, refletindo suas experiências emocionais, relacionamentos e crescimento ao longo do tempo. Suas letras são intimamente ligadas às suas vivências, o que cria uma forte conexão emocional com seus fãs. Taylor prioriza a autenticidade e a conexão com seu público, criando uma sensação de intimidade através de suas canções. Ela é conhecida por compartilhar sua jornada de forma honesta, o que atrai fãs que se identificam com suas histórias. O que mais a projetou foi sua luta pela propriedade intelectual de suas músicas e por questões relacionadas ao empoderamento feminino, defendendo a importância da autonomia criativa e dos direitos dos artistas.

Não precisamos ir longe para buscar outros exemplos de liderança inspiradora. Madonna, ícone pop, mãe de todas as Taylor, é reconhecida por sua constante reinvenção artística e provocação cultural. Ela usou sua música e imagem para desafiar normas sociais, religiosas e sexuais, explorando tabus e incentivando o debate público sobre questões como sexualidade, religião e feminismo. Madonna foi pioneira na promoção do empoderamento feminino na música, quebrando barreiras e desafiando as expectativas sobre o que uma mulher pode ou deve fazer na indústria do entretenimento. Sua carreira é exemplo de independência e controle sobre sua própria imagem. Nunca escondeu seu propósito, ao contrário, sempre buscou impactar a cultura global, utilizando sua música e persona para influenciar tendências de moda, comportamento e atitudes sociais. Ela ajudou a moldar a cultura pop contemporânea e a expandir os limites do que é aceitável na música mainstream.

O mercado está precisando de menos chefes de marketing que se escondem atrás de KPIs e de mais Taylors e Madonnas na liderança, que apontem a direção e inspirem seus times a acreditarem em algo. No final das contas, é sobre criar espaço, visão e congregar profissionais que se sintam impactados pessoalmente por aquilo que estão construindo. É essa energia que trará à tona ideias aparentemente insanas, mas que têm o potencial de transformar o negócio genuinamente.

A liderança inspiradora não menospreza o atingimento de metas, mas faz isso com propósitos claros e definidos. Líderes inspiradores em nossa indústria se despem do ego e dão protagonismo para o propósito da marca, transformam campanhas em experiências épicas e entendem que a saúde dos KPIs depende de algo que antecede a eles. Afinal de contas, por que o seu time faz o que faz? Já se perguntou se eles sabem responder essa pergunta?

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