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Opinião

Mulheres são mais criativas que homens?

O equilíbrio de gêneros é apenas um passo no balanço das forças que precisamos calibrar para falar a linguagem do nosso tempo


6 de abril de 2016 - 17h37

*Por Mauro Cavalletti

Agora está claro: a composição dos times criativos das agências é desproporcionalmente masculina. Por um motivo ou outro, acabamos criando uma cultura de exclusão que não se justifica. Um provável resultado direto é que mais e mais mulheres estão questionando a propaganda que vai para a rua, que já não as representa. Uma vez que excelência profissional não discrimina gêneros, está difícil fechar essa conta.

Mas pergunte para qualquer liderança criativa que recrutou recentemente e você vai ouvir que o número de talentos femininos no mercado é pequeno. Também vai ouvir que não importa se o criativo é um homem ou uma mulher, o que realmente importa é o trabalho que apresentam. Difícil discutir meritocracia em mercados competitivos, onde a qualidade é fundamental. Mas criatividade é avaliada, muitas vezes, de maneira subjetiva, então quero dividir uma história.

Na última semana de fevereiro deste ano, a revista do New York Times trouxe um caso conhecido em alguns meios corporativos. Na década de 1970, a maior parte das orquestras sinfônicas americanas era composta por músicos homens e brancos, sob o argumento que eram os únicos candidatos qualificados. Também se argumentava que a oferta de talentos masculinos era maior que a oferta dos talentos femininos. Numa tentativa de entender melhor o problema e encontrar uma solução, as orquestras resolveram aplicar um método bastante conhecido em marketing, os testes cegos. Nas audições ao vivo, os músicos passaram a tocar atrás de um biombo e a banca passou a ouvir, somente ouvir, os músicos avaliados. Detalhe: a configuração do teste incluía tapetes na área de audição, já que os avaliadores percebiam o tique-taque dos saltos altos mesmo com a barreira visual.

Como resultado do novo processo seletivo, o número de mulheres contratadas pelas orquestras cresceu em até 46%. Não importa muito que o preconceito tenha sido, dessa maneira, escancarado. O que importa, realmente, é que resolveram o problema e passaram a contratar, por mérito, muito mais mulheres. Na verdade, em testes cegos, as mulheres contratadas acabaram formando um percentual ligeiramente acima dos colegas homens. Como consequência, o número de candidatos femininos cresceu proporcionalmente ao longo dos anos, num processo reverso muito interessante — as mulheres passaram a se interessar mais por uma carreira nas orquestras que adotaram o método.

Solução talvez criativa demais para um mercado como o nosso, onde as contratações são quase sempre baseadas em indicações, por sua vez baseadas na experiência do candidato. Isto é, o candidato já chega carimbado e avaliado na nossa mesa. Não estou questionando o critério do mérito, apenas apontando o paradoxo. O equilíbrio entre o número de mulheres e homens é apenas um passo no balanço das forças que precisamos calibrar para falar a linguagem do nosso tempo. Imagine os passos necessários para promovermos o equilíbrio étnico, de origens sociais, de formação cultural e outros pontos importantes na cultura cada vez mais pluridimensional que estamos construindo. Estamos vivendo uma mudança profunda de mentalidade que está colocando nossa audiência cada vez mais distante dos nossos times culturalmente homogêneos. E não adianta promovermos jovens lideranças com cabeça antiga. É preciso viver as mudanças do lado de dentro. Temos de ir além das homenagens e do reconhecimento das nossas colegas mais brilhantes, abrindo mais espaço para contratações de mulheres e promovendo a formação de mais lideranças criativas femininas.

A presença de mais mulheres talvez mude radicalmente nosso ambiente de trabalho e nossa cultura criativa. Talvez, não. Difícil saber. O que vai mudar com certeza é o produto criativo, que vai ficar mais afinado com o que está acontecendo no mundo, mais alinhado com as mudanças de comportamento que estamos vivendo. Nada errado nisso, muito pelo contrário: essas mudanças são urgentes para manter nosso trabalho relevante.

*Mauro Cavalletti é head of creative shop do Facebook

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