Multiverso ou metaverso da loucura?
Na expectativa do que espero encontrar no filme, foi inevitável fazer um comparativo mental com tudo que tenho lido sobre metaverso e suas promessas, maravilhas, riscos, oportunidades
Na expectativa do que espero encontrar no filme, foi inevitável fazer um comparativo mental com tudo que tenho lido sobre metaverso e suas promessas, maravilhas, riscos, oportunidades
Esta semana, estreia mais um blockbuster da Marvel, com o querido Stephen Strange, mais conhecido como Doutor Estranho, em mais uma aventura que, com certeza, vou adorar, como fã de “nerdices” em geral. Na expectativa do que espero encontrar no filme, foi inevitável fazer um comparativo mental com tudo que tenho lido sobre metaverso e suas promessas, maravilhas, riscos, oportunidades etc. Tudo isso, ao mesmo tempo em que estamos vivendo, em minha opinião, uma espécie de realidade paralela, ou “multiverso”, nas narrativas que encontramos por aí.
Basta dar uma boa navegada pelos portais e ver quais as notícias mais lidas de cada dia, para constatar o que anda atraindo a atenção dos leitores. Infelizmente, veremos que tem muita gente buscando uma espécie de fuga para a difícil realidade que vivemos, em um mundo castigado pela pandemia, crise, guerra, desemprego, desencanto com o trabalho e outros fatores, que estão implodindo a saúde mental e física das pessoas.
Por isso, não é de hoje que vemos indícios de uma vida artificial sendo projetados nas redes sociais, e a discussão em cima disso é vasta. Não faltam críticas sobre pessoas que exibem vidas de contos de fadas ou que enxergam lições de superação em tudo e, com isso, a positividade tóxica inunda as principais redes.
Evidentemente, há muito conteúdo legal, e todos têm liberdade para postar e/ou consumir os conteúdos que quiserem. Faz parte do nosso livre-arbítrio. Basta não esquecer que, por trás desses mecanismos, temos os cada vez mais poderosos algoritmos, nos direcionando e sugerindo conteúdos cada vez mais de acordo com o que eles entendem que queremos consumir. Por isso, nunca me esqueço desta máxima: “Atraímos para nós aquilo que pensamos e projetamos.”
A futurista Amy Webb trouxe no último SXSW muitos insights do seu estudo Tech Trends, que tem sido quase um oráculo para mostrar os impactos da inovação tecnológica nas nossas vidas nos últimos anos. Desta vez, ela tratou a importância da “repercepção” do mundo, que será causada pela trinca composta por inteligência artificial, biologia sintética e metaverso. Segundo Amy, ainda não vimos nada dos reais impactos disso. Os tão falados non-fungible tokens (NFTs), por exemplo, são apenas uma sombra da ponta do iceberg que vemos pela frente. Simplificando: trata- se de uma nova realidade para as pessoas e marcas, em que as fronteiras de tecnologia e dados não existem mais.
Por exemplo, para os amantes de games e investidores em criptomoedas, essa nova realidade já é algo familiar. Diversas empresas já estão realizando iniciativas de marketing e vendas segundo o conceito de pertencimento à marca, por meio dos NFTs. A Mattel, por exemplo, lançou mão dos NFTs nas campanhas das linhas da Barbie e Hot Wheels. E isso já tem gerado dinheiro.
A Gucci vendeu uma versão “digital” de um dos seus produtos dentro do jogo Roblox, por um valor muito acima da versão física e real. A Nike comprou um fabricante de tênis virtual, já pensando nos benefícios comerciais também.
Bom, se as fronteiras tecnológicas caíram, o que dizer das fronteiras psicológicas? Será que teremos maturidade como sociedade para entrar nesse novo mundo? Nosso mundo “real” ainda tem muitos problemas de raiz para ser resolvidos. Então, por que a busca de soluções no metaverso não pode se configurar em um poderoso instrumento de refúgio e escape?
Aqui, trago como reflexão os riscos de concretizar o “terceiro lugar”, termo cunhado pelo sociólogo Ray Oldenburg, no metaverso. Explicando: o primeiro e o segundo lugares onde passamos nosso tempo são o lar e o trabalho, respectivamente. Com o modelo híbrido, isso se funde em um único ambiente físico. Ter um terceiro lugar “fora” de casa e das telas é crucial para a saúde e o bem-estar das pessoas.
Nesse sentido, temos muitas perguntas e apenas algumas respostas. Outras questões, certamente, surgirão ao longo do caminho. Em cada um de nós, há um Doutor Estranho, com o poder de abrir e fechar esses portais. Assim como ele, não sabemos o que pode entrar ou sair deles. É importante nos preparar e estar atentos, para não nos descuidarmos da vida off-line, tão necessária para uma realidade saudável e feliz.
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