Não espere o Ano Novo
Na fluidez da vida, o começar e o terminar não necessariamente se encaixam nos marcos do calendário
Na fluidez da vida, o começar e o terminar não necessariamente se encaixam nos marcos do calendário
18 de dezembro de 2023 - 14h00
Enquanto mergulho nas lembranças de 2023, percebo como este ano foi repleto de expectativas e desafios. Tive a alegria de dar as boas-vindas à minha primeira filha, um capítulo que redefiniu completamente o que pensava sobre maternidade, e sobre a minha própria existencia. Ao mesmo tempo, surgiu uma oferta profissional em outro país, prometendo uma nova jornada, tanto para minha carreira quanto para minha família.
No início do ano, quando fui convidada a me abrir para tantas mudanças, decidi abraçá-las com a empolgação típica dos apaixonados (afinal, já contei para vocês que a paixão é uma das minhas fortes características). Essa era uma progressão de carreira muito aguardada, e a perspectiva de começar uma nova vida, em um lugar, inaugurando um também novo momento familiar e pessoal, me despertava as melhores expectativas. Contudo, como já poderia ser esperado pelo que já aprendemos, os meses revelaram um intricado jogo entre a expectativa e a realidade. E essa mudança tão grande não só exigiu uma grande capacidade de adaptação, como me fez descobrir limites e repensar prioridades.
Vim para o novo querendo tudo, e para ontem. Queria a casa mobiliada e decorada logo – mas a mudança demorou quase 3 meses para chegar, e decidimos ir decorando aos poucos, conforme fomos nos descobrindo por aqui. Queria promover transformaçoes logo – mas precisei escutar e aprender, antes de apenas falar e fazer. Queria retomar o meu hobby da corrida (pausado desde a gestação da Manu) – mas percebi que essa não é uma prioridade para o tempo que tenho disponível agora, e decidi fazer treinos curtos na academia e passar mais tempo com a família nos finais de semana.
Às vezes, na empolgação com as coisas novas, nos lançamos a muitas atividades e abraçamos muitas tarefas. E muitas delas acabam se revelando impossíveis de concluir em pouco tempo (ou possíveis a um custo muito alto). Diante dos meus desafios, precisei fazer uma triagem do que verdadeiramente importava. Afinal, não começar alguma coisa pode nos levar a terminar outras muito bem. Então, em vez de desistir ou fazer tudo pela metade, decidi me concentrar naquilo que realmente fazia sentido.
À medida que o ano avançava, entendi que fazer as coisas bem é um processo contínuo de aprendizado e adaptação. Começamos algo novo cheios de paixão, mas é quando as dificuldades surgem que somos confrontados com a realidade, muitas vezes nos sentindo incompetentes diante do desconhecido. É nessa hora que o propósito emerge para nos ajudar a fazer escolhas alinhadas com o que queremos, e então nos dar força para continuar. E, não, não se trata de continuar em tudo, mas sim de persistir naquilo que realmente importa.
Com essa experiência, aprendi a desmistificar a jornada, compreendendo que nem sempre as coisas precisam ser perfeitas para serem realmente boas. A execução, muitas vezes, revela possibilidades que não eram visíveis na idealização inicial – desde que a gente esteja de olhos, mente e coração abertos para viver os meandros do caminho, extraindo deles crescimento e aprendizado.
A arte de terminar um ano melhor do que começamos exige paciência, mente aberta e adaptação. Lidar com os desafios pessoais e profissionais sem nos desengajarmos é uma habilidade valiosa. Cada dia é uma oportunidade de transformação; cada “sim” também é um “não”. Portanto, busquemos estar cada vez mais conscientes nas escolhas do que aceitamos e nos dedicarmos a fazer.
E, paradoxalmente, embora eu escreva esse artigo em dezembro de 2023, minha experiência esse ano me mostrou que não precisamos de uma virada de calendário para tomar decisões importantes. Elas podem ser incorporadas à rotina diária, nos guiando a escolhas que nos façam mais sentido. Portanto, não espere pelo Ano Novo para refletir sobre suas prioridades e fazer mudanças necessárias. A verdadeira magia está em abraçar a vida com sua imprevisibilidade, sem medo de mudar de rota, todos os dias.
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