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Opinião

Nas redes sociais, você é o que publica

Sem conhecimento adequado, sem profundidade mínima, escrevemos meia dúzia de palavras e publicamos através de um simples click, não entendendo bem a extensão do que fazemos e nem consciência do impacto que causamos


18 de julho de 2017 - 7h00

Comentários que mais incomodam são os simplistas radicais, que não deixam espaço para debate (Crédito: Reprodução)

 

Talvez tenha chegado a hora de mudar a forma como estou lidando com as mídias sociais. Não paro de pensar nisso. O meu interesse pelas redes não é mais o mesmo e isso tem uma razão muito clara. Este post é quase um desabafo.

Não sou um produtor de conteúdo “arroz com feijão”. Ao longo dos últimos dois anos, comecei a publicar conteúdos mais profundos, expressando o meu ponto de vista sobre vários temas e procurando ser mais assertivo na forma de me posicionar. Explorei assuntos polêmicos, muitas vezes envolvendo preconceitos e aspectos sociais, como, por exemplo, diversidade, substituição da força de trabalho por robôs e crise de liderança. Gosto de abordar os temas de forma pessoal, de forma racional e elegante, mas sinto que o ambiente das comunidades está mais extremista.

Não estou mais conseguindo lidar tão bem com os comentários radicais, irônicos, preconceituosos, intransigentes e até jocosos que tenho recebido nos últimos tempos nos vários canais com os quais contribuo.

Há menos de um mês, eu publiquei um post chamado “O terceiro banheiro é uma evolução da sociedade” em vários canais. O assunto ganhou evidência, com muita gente comentando e apresentando pontos de vista divergentes, o que é bem legal, mas no Facebook o assunto tomou um rumo muito estranho. Foram vários comentários radicais e irônicos, de pessoas que provavelmente nem leram o artigo por inteiro e não estavam ali para debater.

A facilidade e a displicência com que publicamos algo numa rede social são incríveis. Às vezes, sem pensar, sem conhecimento adequado, sem profundidade mínima, escrevemos meia dúzia de palavras e publicamos através de um simples click, não entendendo bem a extensão do que fazemos e nem consciência do impacto que causamos.

A sequência de comentários pendurados no post criou espontaneamente grupos com opiniões divergentes. Não houve ali um clima saudável para conversa e nem uma mediação, que poderia até ter sido feita por mim. Confesso que me senti acuado com alguns comentários e por isso fui mero espectador. Os comentários que mais me incomodaram foram aqueles simplistas radicais, que não deixam espaço para debate, que entram ali para incomodar, mostrar uma revolta ou intolerância com aquele assunto.

Esse não foi o primeiro caso que ocorreu comigo, mas foi o que mais me incomodou. Essa banalização da intolerância radical e da grosseria fortuita está crescendo. Conforme o número de seguidores nos meus canais sociais online foi crescendo ao longo do tempo, a audiência se tornando mais pública e aberta, esse comportamento foi aumentando. Reconheço que apenas uma pequena parte das pessoas age assim, mas é torturante ter que lidar com isso. Estou convencido de que tais comportamentos inibem outras pessoas e criam barreiras para boas conversas. Aceito muito bem a discordância em relação aos meus pontos de vista, aceito críticas, até gosto disso, quero apenas respeito e boa educação.

No caso das mídias sociais, você é o que você publica. O seu caráter, a sua personalidade e a sua reputação no mundo social online são consequências diretas do seu comportamento nesse meio. Acredito que a maioria das pessoas não tem plena consciência disso. No mundo online, somos personagens de nós mesmos, ou podemos criar personagens completamente distintos do que somos na vida real.

Conheço amigos e colegas que apresentam nas mídias sociais um comportamento tendencioso para a impaciência e a intransigência; chegam a ser lacônicos e irônicos, mas na vida real, em conversas presenciais, eles são dóceis, atenciosos e curtem um papo aberto e equilibrado. Qual é o elo que se rompe e que provoca essa mudança de comportamento de algumas pessoas quando estão nas mídias sociais? Eu não tenho a resposta.

Aqui, tenho outro fato interessante para contar. Uma das pessoas que postaram um comentário mais polêmico no meu post do “terceiro banheiro” enviou uma mensagem privada pelo Messenger com o seguinte conteúdo: “Mauro, não tive intenção de criar problemas no seu post do terceiro banheiro ok? Sei que tenho umas ideias muito diferentes da grande maioria e às vezes sou mais apaixonado do que deveria em defendê-las. Então, se eu tiver passado do limite, é só falar”.

Gostei muito dessa mensagem, por vários motivos. Me senti agradecido pela atenção e carinho que essa pessoa teve comigo. Gostei também de ela própria ter sentido que foi dura, evidenciando que tinha consciência de que seu comentário levava a conversa para a fronteira entre um debate saudável e radical. Na verdade, achei até que ela “pegou leve” diante de tantos outros comentários bem mais intransigentes. De qualquer forma, me fez bem.

Sempre postei meu conteúdo de forma pública, para atingir o maior público possível e conhecer novas pessoas, aumentar o meu networking e sair da armadilha de publicar conteúdo para aqueles que pensam igual a mim. Isso é que faz a gente crescer. Pode ser que essa seja uma sensação passageira ou uma conjunção de fatos que ocorreram simultaneamente provocando esse desconforto. Vou continuar produzindo conteúdo, mas agora pensando melhor nas opções a seguir. Gostando ou não, sempre leio os comentários em tudo que publico. Gosto de ouvir as pessoas e entender o que está na cabeça delas.

É preciso que as pessoas tenham consciência de que esses ambientes digitais sociais são praças públicas, onde convivemos e interagimos em grupo. Respeitar o espaço dos outros, ser polido e respeitoso faz parte de qualquer ambiente social.

Se você seguiu lendo até aqui, é porque de alguma forma concorda comigo. Aqui quero fazer um pedido: influencie a sua rede para que as pessoas participem das redes sociais de forma positiva, colaborativa e com equilíbrio. Estabelecer uma rede de relacionamento e desenvolvimento saudável depende apenas da gente.

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