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Opinião

No topo do mundo: como foi subir o Everest

Na montanha, encarei meu maior trauma e minha maior alegria em um espaço de duas horas


29 de julho de 2024 - 14h00

Há dois meses, alcancei o cume do Everest. É quase inacreditável pensar, enquanto escrevo estas palavras. Foi o desfecho de uma jornada de nove anos, que começou na base dessa montanha imponente, para completar o Desafio dos Sete Cumes. Contei um pouco desta experiência em meu artigo anterior.

Cada obstáculo foi precedido por horas de preparação rigorosa. Tirei dois meses de licença do trabalho, onde recebi todo o apoio. Segui uma rotina disciplinada de alimentação, exercícios e exames médicos. Contudo, cuidar do físico é apenas parte da equação. O verdadeiro desafio no montanhismo está na mente – que pode ser nossa maior aliada ou principal adversária.

A expectativa para a subida do Everest era imensa, já que há muitos fatores: tempestades de neve, ventos fortes, avalanches, escassez de oxigênio e temperaturas de até -40 graus. O percurso é pausado e necessário para que o corpo se adapte às condições extremas. À medida que avançava, eram muitos os pensamentos simultâneos: cansaço intenso, ansiedade, incerteza e felicidade incomparável. Cada dia, a superação de um novo limite. Cada trilha, uma vista inacreditável. Conheci glaciais, paredões de gelo, grutas, abismos e escaladas técnicas, sempre com cuidado, junto ao meu guia e ao grupo. Formamos amizades e vínculos que durarão a vida toda.

Chegou o momento de “atacar” o cume, na chamada Zona da Morte, entre 8 mil e 8,9 mil metros de altitude. O maior desafio ocorreu a 8,6 mil metros, na perigosa Hillary Step. A cerca de uma hora e meia do cume, a plataforma de gelo em que eu estava desmoronou. O chão sumiu e eu caí. Meu pensamento imediato foi: “Chegou a minha hora. É aqui que vou morrer”. Senti um tranco enquanto caía e eu e mais quatro alpinistas ficamos presos apenas pela corda de segurança, com uma queda de três mil metros abaixo. Foi um momento de crise e estresse extremo. Achei que a expedição mais importante da minha vida tinha acabado.

Todos os alpinistas permaneceram imóveis para evitar que o gelo desabasse ainda mais. Em silêncio absoluto, com grande esforço, tentei escalar o gelo novamente. Com a ajuda do meu guia, consegui retornar à trilha. Avaliando minha situação, percebi que estava bem, embora assustada.

A decisão era: retornar em segurança para a base ou seguir em frente e enfrentar a descida pelo mesmo caminho que acabara de passar? Nunca precisei tanto da minha mente. Lembrei de cada momento investido, cada treino, cada conquista. Pensei que, se eu parasse ali, a montanha ficaria marcada por esse trauma. Isso poderia invalidar toda a minha jornada e assombrar minha vida. Mas eu queria uma lembrança diferente do Everest. Meu ponto mais baixo não me definiria. Essa reflexão me deu a força necessária para prosseguir.

A chegada ao topo do mundo foi uma mistura intensa de sentimentos: uma imensa gratidão por estar viva, uma enorme tensão pelo ocorrido e uma felicidade extrema por conquistar um sonho. Uma paisagem única, espetacular. Um sonho se tornando realidade. Enfrentei meus medos, abracei-os e continuei. Consegui!

No Everest e na vida, nosso primeiro instinto é fugir do medo. A ameaça gera adrenalina e a reação inicial é se proteger. Mas é impossível viver sem medo. Todos enfrentamos momentos desafiadores. A montanha me ensinou algo crucial: precisamos abraçar nossos medos. Enfrentar nossos fracassos novamente, com a cabeça erguida.

A montanha transforma. É dura como poucas atividades, exigindo que você supere seus limites. Para alcançar o topo, você sofre, aprende, evolui. Assim é a vida e assim se alcança algo grande.

Por isso, vá atrás dos seus sonhos. Busque apoio, encontre um trabalho que dê suporte e cerque-se de pessoas que acreditam em você. Só assim é possível realizar algo incrível. Algo extraordinário!

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