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Nossas criações, nossos legados

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Opinião

Nossas criações, nossos legados

Ao relembrar tudo o que Stan Lee fez, não pude evitar pensar que, talvez, não haja nada mais importante na vida do que criar


13 de novembro de 2018 - 18h23

Crédito: Alphotographic/iStock

O dia estava ótimo, tudo correndo incrivelmente bem para uma segunda-feira. E veio a notícia da morte de Stan Lee.

Desde 1994, quando Senna se foi, eu não ficava tão abalado com a perda de alguém que eu nunca conheci. Provavelmente pelo fato de eu ter crescido, pensava até ontem.

Senna morreu há incríveis 24 anos, quando eu não passava de um adolescente sonhador. Se há algo que a vida adulta faz é nos ajudar a perder as ilusões e a descobrir que o mundo não é justo. O tempo passa, o coração endurece e vamos criando uma armadura para nos preservar. Mantemos as coisas que podem nos ferir a uma distância segura. Evitamos sofrimentos e desgastes desnecessários. Focamos no que é essencial: filhos, família, carreira, propósito.

Daí, quando você já é um marmanjo e acha que já viu de tudo e nada pode te abalar, a morte de um ídolo da sua infância chega para destruir toda a sua teia de proteção.

Minha primeira reação foi física: eu simplesmente murchei. Estava indo para minha última reunião do dia, no carro, e quando ouvi a notícia no rádio parecia que alguém havia me desligado da tomada. Fiz a reunião, mas com a cabeça em Asgard.

Minha segunda reação foi pensar no meu filho. Que só tem dois anos e meio, mas já ama o Hulk mais que tudo. Que não para de falar no escudo do Capitão América, na teia e na máscara do Homem-Aranha, no jato de energia que sai da palma da mão do Homem de Ferro. Que sabe quem é o Loki, o Falcão Negro, o Hulk Cinza e o Vermelho. Que bota a língua para fora, imitando o Venom, e me esmaga todos os dias dizendo que é o Thanos.

No caminho de casa, minha terceira reação foi constatar o óbvio: a importância do Stan Lee na minha vida e na de todo mundo. Não vou ficar aqui falando do que ele construiu, porque existem dezenas de textos melhores e mais qualificados do que o meu para explicar isso. Mas, ao relembrar tudo o que ele fez, não pude evitar pensar que, talvez, não haja nada mais importante na vida do que criar. Porque o que nós criamos, no fim das contas, é o que vamos deixar de legado. Dificilmente vamos conseguir chegar a uma fração do que Stan Lee deixou. Mas, por menor que seja nossa obra, só a inspiração que ele nos trouxe já terá surtido um efeito estelar.

Cheguei em casa. Deixei minhas coisas no escritório e folheei a minha primeira graphic novel, Elektra Assassina. Fiquei com os olhos marejados e engoli o choro. Fui pro quarto, dei um abraço super apertado no meu filho, botei a máscara do Hulk e brinquei com ele até dormir.

Valeu, Stan.

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